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Ecos da Bastilha

A exemplo do Brasil, nos últimos anos, especialmente, manifestações de rua ocorreram mundo afora. E continuam acontecendo. Se diferentes as origens, as razões e as reivindicações de cada lugar, isso quando existentes e explícitos, o que há, entretanto, em comum?
O embaraço principal parece ser e residir nos modelos e sistemas tradicionais de representação e governabilidade, agora em evidente conflito, contradição e confronto com as ditas e aceleradas transformações sociocomportamentais.
Não é à toa que o próprio conceito, organização e hierarquia do que denominamos “democracia” está em discussão. Os movimentos populares sugerem o nascer e o exigir de uma “horizontalização” da política. Lindo na teoria, complicado na prática.
As manifestações têm tido variada presença e ativismo praticamente impessoal. Típico reflexo da diversidade, da disponibilidade tecnológica e ação das redes sociais.
Pauta reivindicativa? Nos casos mais graves, é o fantasma do desemprego e da desocupação laboral. Mas não importa a nacionalidade, nem o idioma, a demanda central é a mesma: mudanças, mudanças!
Possivelmente, estejamos vivenciando uma modificação no espírito do tempo. Zeitgeist! A expressão significa espírito de uma época, sinais de um tempo, aquilo que retrata o ambiente intelectual e cultural de um determinado momento histórico.
Mas, ainda que as reivindicações, as evidências e a indignação coletiva indiquem que a ordem e a organização sociopolítica são injustas e insustentáveis, os detentores de poder formal resistem e renovam seu ânimo de continuísmo e manipulação. Motivados, principalmente, pelas reivindicações difusas e a ausência de líderes.
Sobre o comportamento dos representantes dos poderes de estado, é inevitável lembrar a atualidade do pensador político russo Mikhail Bakunin (1814-1876) e destacar sua célebre frase:
“Tão logo se tornem governantes ou representantes do povo (…) não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana!”
De todo modo, acredito eu, está enganado quem pensa que esses movimentos são passageiros e efêmeros. Para simbolizar a dramaticidade do momento mundial, outra frase famosa. Conselho do escritor, político e primeiro-ministro inglês Benjamim Disraeli (1804-1881):
“Majestade, o povo está insatisfeito, e quer mudanças. Se essas mudanças não forem feitas por nós, serão feitas sem nós, e, o que é pior, contra nós!”

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