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Economia global pode desacelerar por causa de Trump

A economia dos EUA vai bem e a do mundo está melhorando, mas há um risco de desaceleração do nível de atividade global: o presidente americano, Donald Trump, com suas políticas e ações que geram incertezas em diversas áreas, aponta o professor Barry Eichengreen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley. 

Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, o acadêmico diz que os Estados Unidos podem crescer 2% este ano, mas, caso o presidente implemente medidas como “uma grande redução de imposto de renda para os mais ricos e adoção de uma tarifa de 35% sobre produtos importados, o crescimento facilmente cairá para 1% ou menos”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Que avaliação o Sr. faz sobre a economia dos EUA?

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Os Estados Unidos estão indo bem, crescendo perto do potencial, apesar da criação líquida de 98 mil empregos em março ter sido mais fraca que o esperado por conta do inverno moderado neste início de ano, o que antecipou contratações em janeiro e fevereiro. Os Estados Unidos estão perto do pleno emprego, com uma taxa de 4,5% de pessoas desocupadas, e a inflação está próxima de 2%. O estado da economia é o melhor possível nas atuais circunstâncias. A economia mundial está melhorando, com Japão e Europa melhorando, mais China e Índia apresentando bom desempenho. Contudo, há um risco de desaceleração global: o presidente Trump, com as incertezas geradas por suas ações e políticas.

O envio de mísseis dos EUA à Síria pode elevar as incertezas de investidores sobre o governo Trump?

Acredito que o ataque de mísseis dos EUA à Síria será uma ação militar isolada, pois seus eleitores não querem um pleno envolvimento de soldados americanos naquele país. Mas muito mais sérias são as incertezas que existem hoje em relação ao governo Trump em vários temas, como a tentativa de revogar o programa nacional de saúde, o Obamacare, e o que proporá como reforma tributária, política de comércio exterior e o plano de investimentos em infraestrutura previsto de US$ 1 trilhão.

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O que o Sr. espera do Federal Reserve (o BC americano) neste ano?

O melhor cenário é o Federal Reserve poder realizar aquilo que indicou que fará e o que os mercados estão aguardando, que são mais duas ou três elevações dos juros de 0,25 ponto porcentual cada uma até o fim de 2017. Não penso que o Fed está atrás da curva, e sim no lugar certo. Por outro lado, caso o governo adote uma grande redução de impostos para empresas e famílias e um imenso gasto em infraestrutura, forças inflacionárias surgirão e o Fed precisará reagir com aumento dos juros maior do que o esperado pelos mercados.

Quais as perspectivas de aprovação pelo Congresso de medidas fiscais que o governo Trump pretende adotar neste ano?

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Minha previsão é que a reforma tributária será bem limitada, com pequena redução do imposto de renda. Além disso, também serão restritas as mudanças na área de comércio exterior e o plano de investimentos em infraestrutura. E todas essas novas medidas não ocorrerão antes do último trimestre de 2017, e é até possível que só serão implementadas em 2018. A demora deverá acontecer porque não haverá acordo entre o governo e o Congresso em relação a dois temas: um deles trata dos impostos cobrados sobre os produtos importados. O segundo é o alívio tributário para empresas que pagam juros de financiamentos, o que seria compensado pelo pagamento numa única vez de um imposto de 10% sobre os lucros das companhias obtidos em operações no exterior.

O que deve ocorrer com a política de comércio exterior?

Trump assumiu a presidência dizendo que iria renegociar o Nafta, impor 35% de imposto de importação sobre produtos feitos na China e outros países. Contudo, a imensa maioria dos empresários que o apoiam são muito favoráveis ao comércio internacional.

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O que está ocorrendo com os mercados financeiros nos EUA que logo após a eleição do presidente Trump apresentaram grande otimismo, atingindo níveis recordes de alta, mas agora têm movimentos mais moderados?

Depois da eleição de Donald Trump, os mercados responderam bem, por causa da perspectiva de desregulamentação financeira, o que aumentaria o lucros de muitas empresas. Os mercados também esperavam estímulos fiscais, vindos até da reforma tributária. Contudo, os investidores perceberam agora que tais promessas de Trump não serão cumpridas naquela magnitude e começam a vender ativos que compraram durante a onda de otimismo. Quando este ciclo acabar, os preços de ativos gradualmente voltarão para patamares mais razoáveis.

E, neste contexto, empresários estão um pouco cautelosos para ampliarem os investimentos nos EUA, não?

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Exato. Agora estão mais claras as dificuldades políticas de Trump, pois ele e os republicanos não conseguem fechar um acordo mínimo sobre a agenda econômica do governo. Há também muitas dúvidas sobre a competência desta administração. Além disso, para um governo implementar boas medidas na área econômica, precisa ter um conjunto grande de assessores em vários postos-chave. Trump deveria ter indicado perto de 350 postos-chave, mas ainda não conseguiu 36.

Quanto os EUA poderão crescer neste ano?

O crescimento poderá ser um pouco superior a 2% em 2017, se não ocorrer algum grande choque geopolítico. Mas, num cenário com grande redução de imposto de renda para os mais ricos e adoção de uma tarifa de 35% sobre produtos importados, o crescimento facilmente cairá para 1% ou menos, pois haverá impactos em investimentos.

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