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É só fachada?

Um ditado reza que, se fizer, faz bem feito. Do contrário, pode virar fiasco. Ou flagrante irregularidade. No contexto das recorrentes e cada vez mais sofisticadas agressões ambientais (e meio ambiente é bem público, coletivo, de todos), o “fazer bem feito” tem sido cada vez mais raro.

No que tange a cuidados com florestas, água, ar, solo, os recursos indispensáveis, e coletivos, parece que se abriu a porteira para o irregular. Por ela tudo passa. Já nem é preciso abrir o Google Maps para olhar a cidade de cima e ver as enormes clareiras no Cinturão Verde. Estão a olhos vistos, de qualquer esquina ou rua do Centro. Para tudo há “autorização”, tudo está “dentro da lei”. Será mesmo?

Mas então em calçadas e esquinas árvores vão sumindo igualmente na paisagem, em plena área central. Não porque estivessem em mau estado, ou por “uma obra”; apenas porque alguém já não a quer ali. A ordem é limpar a frente. Plantar? Que seja em outro lugar, na terra de outros. Mas ar puro e um lugar à sombra, ah, isso todos querem.

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E a suposta punição chega a ser grotesca. Veja-se o caso das árvores referidas na matéria desta sexta-feira, na Gazeta do Sul. A tomar por base tal exemplo, e tamanha facilidade, o que surpreende é que ainda não tenham feito a mesma coisa em outras ruas, se é tão fácil e… não dá nada. Na resolução da Prefeitura para reparar o dano causado às árvores em questão, em poda “cuja intensidade desconfigurou totalmente a copa”, a sugestão até é que elas poderão vir a ser… suprimidas! Isto é: a ideia é completar o serviço! Para plantar mudas pequenas no lugar. Esse tipo de sanção é o sonho do infrator. Na verdade, os troncos deveriam permanecer ali como um monumento à desfaçatez.

Ah sim, há projeção de multa. Mas de quanto? Para ser paga quando, e de que forma? Pelo que se sabe do valor das multas, derrubar árvores tornou-se atividade (muito!) rentável, como toda operação que envolve irregularidade. Só com a madeira de uma árvore paga-se a multa; o resto é lucro. Sem considerar que o objetivo maior era mesmo tirar ela da paisagem. Há ainda a indicação da reposição de mudas no local. Que mudas? De que espécie? De que tamanho? Para serem cuidadas por quem? Por quanto tempo? E há ainda a hipótese de doações de mudas: para serem plantadas onde? Em outra cidade? O oxigênio e a sombra que as existentes proporcionavam serão importados de lá? Por quem? A que custo? Até quando? Sob fiscalização de quem? Perguntas. Sem resposta.

Sempre que há agressão a bem público, e de forma tão ostensiva, fica outra pergunta: quem ganha com isso? A sociedade é que não é.

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A preocupação com o meio ambiente é realmente a sério? Ou é tudo mera… fachada? Chega um ponto em que some a essência, e o que resta é, literalmente, só a fachada. Que já não serve para nada.

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