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E Santa Cruz no olhar de Tschudi

Von Tschudi visitou a colônia Santa Cruz em 1861, uma década após a sua fundação

Se a vasta obra do alemão Alfred Funke, mencionado na capa do suplemento Magazine, deste fim de semana, é quase que completamente desconhecida da população brasileira, com exceção de alguns poucos historiadores e pesquisadores, não era muito diferente o caso de mais um memorialista de primeira grandeza: o suíço Johann Jakob von Tschudi.

Nascido em Glarus, em 25 de julho de 1818 (isto é, exatos seis anos antes da chegada dos primeiros imigrantes alemães à atual São Leopoldo), ele acabou por percorrer a América do Sul entre 1838 e 1843, quando ficou no Peru. Apenas dois anos antes da chegada de Tschudi à América, o botânico Charles Darwin havia retornado à Inglaterra no navio Beagle.

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Já na segunda metade do século 19, Tschudi voltou à América para vários périplos, incluindo o Brasil, que cruzou de Norte a Sul. Em 1857 e 1858 andou por Rio e São Paulo, voltando à Suíça em 1858. Mas nesse mesmo ano foi designado como embaixador extraordinário da Suíça no Brasil, cargo que ocupou até 1861. Foi nesse ano que passou pelo Rio Grande do Sul, e ainda no rumo do Rio da Prata. Visitou Porto Alegre e as colônias alemãs, com destaque para São Leopoldo e, claro, Santa Cruz. Chega à colônia a cavalo, a partir de Rio Pardo.

E se esse relato estava inédito, agora finalmente ganhou a luz em português. O professor e historiador Martin N. Dreher tomou a si a tarefa de verter os apontamentos deixados por Tschudi no quarto dos cinco volumes que compreendem Reisen durch Sudamerika (Viagens pela América do Sul). Os três primeiros volumes já estavam traduzidos, contemplando outras regiões centrais brasileiras. Faltava esse quarto, que compreende as visitas ao Sul e à região do Prata. O conjunto dos cinco volumes saiu pela editora F. A. Brockhaus, em Leipzig.

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A tradução organizada por Dreher acaba de ser publicada por iniciativa da editora Oikos, de São Leopoldo, mesma cidade na qual ele reside. E tende a ser, desde já, leitura obrigatória para todos que desejem se familiarizar mais, e melhor, com os primeiros anos da imigração. Se não necessariamente com a de São Leopoldo, que já tinha quase quatro décadas, ao menos com a da Colônia Santa Cruz, que recém completara uma década de existência. Tschudi faleceu em Lintenegg, na sua Suíça natal, em 8 de outubro de 1889, quando estava com 71 anos.

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Um retorno a 1861

No livro Viagens pela América do Sul, de Tschudi, a passagem relacionada a Santa Cruz se estende das páginas 48 a 54, do total de 244 páginas do volume. São parágrafos de riquíssimas informações, que reavivam o passado. Tschudi narra que no sábado, 3 de março de 1861, encontrava-se em Porto Alegre, e que ali, no sábado de Páscoa, adquire bilhete para o barco Rio Pardense, com destino a Rio Pardo. Traz impressões da viagem ao longo do Jacuí. Finalmente chegaram ao ponto almejado na noite de domingo. E já às 10 horas da manhã seguinte, segunda-feira após a Páscoa, 5 de março, ele parte a cavalo ao lado de um senhor para a Colônia Santa Cruz. Nesta, a cuja entrada chegam ao final da tarde, depara-se com a praça demarcada no Faxinal (a atual Praça Getúlio Vargas).

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Na manhã seguinte, sai a cavalo, ao lado do diretor Von Schwerin para visitar propriedades de imigrantes, e conhecer todo o entorno da colônia. Desta, agrega inclusive um mapa. E não poupa elogios às condições de clima e de fertilidade do solo, mencionando as excelentes safras agrícolas já colhidas até então. E de pronto cita o sucesso que vêm fazendo as plantações de… tabaco. Infraestrutura de estradas, escolas e igrejas, bem como a falta de segurança, eram os grandes gargalos mencionados pelos colonos.

Um trecho

“Após algumas horas a cavalo, chegamos à estância de Dona Carlota, passando sem apear em frente à sua magnífica casa. Alcançamos às 5 horas da tarde o conhecido Faxinal, a entrada da Colônia Santa Cruz com a localidade de São João que está surgindo. Encontramos pousada na residência de um inglês, proprietário de importante armazém e construtora. Era segunda-feira de Páscoa; da taverna próxima vinha música de dança barulhenta. Após o jantar, fizemos uma rápida visita ao local e nos deparamos com um divertido baile em espaço apertado, com empurra-empurra e gritaria dos colonos alemães como eu já havia visto em Petrópolis e em Joinville. A poeira, o calor sufocante e o barulho ensurdecedor logo nos fizeram sair.

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