Ruy Gessinger

É muito grito e pouca lã

Esse adágio é muito conhecido na Campanha. É quando se separa um porco para o carnear. Conforme o caso, o coitado, prevendo o que lhe vai acontecer, desanda a gritar antes de o punhal cumprir seu papel. Quero crer que hoje em dia haja um jeito menos cruel no abate de suínos. Por sinal, nunca tive chiqueiros na fazenda. Quando tinha vontade de comer carne suína, ia ao supermercado: era mais barato do que os peões estarem às voltas com a pocilga.

Com a ovelha é diferente. Ela fica resignada, sua jugular é cortada e tem uma partida serena ao céu dos animais. Sem fazer alarde. Quando da tosa, a lã é tirada do corpo do animal, com todo cuidado, para não o ferir. Ele não dá nem um pio.

Conclui-se que não adianta o suíno gritar. Isso serve para nós, humanos. Gritar para quê? Por que discutir? Tem razão o que grita mais alto? Que fiasco, em alguns palcos, sejam quais forem: num tribunal, na televisão, no futebol. É uma gritaria que pretende travestir-se de razão.

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Acontece um acidente na estrada. Dois carros se batem, mas não houve mortos nem feridos. Inobstante saem os dois motoristas dos respectivos veículos e começam a discutir em altos brados. Ao invés de tentarem um acordo com calma, sacam armas. Os dois perdem.

Nosso povo está visivelmente dividido. Claro que dos dois lados há pessoas sérias e crentes de que está com a razão o preferido. A maioria das pessoas se acalma, cuida do linguajar, procura não discutir em via pública, comparece às urnas respeitosamente, seja qual o candidato em quem quer votar. Terminada a eleição, entra em cena a “vendetta”, com degola dos adversários.

“Vae victis”, como se lê nos brocardos latinos: “ai dos vencidos”. Sim, desde muitas eras impera esse brocardo cruel. “Vae victis” é uma expressão latina que significa “Ai dos vencidos”, ou, mais analiticamente, “triste sorte aquela reservada aos derrotados”, pois os derrotados em batalha estão inteiramente entregues à misericórdia dos conquistadores e não devem esperar ou pedir leniência.

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Daí porque o nosso sistema dá garantias a alguns funcionários públicos, aos promotores, aos magistrados, enfim, àqueles que devem ser protegidos dos que ululam como lobos. Pena que alguns pretendentes aos altos postos da administração pública não tenham o mínimo dos conhecimentos de milenares regras. A começar pela boa educação. Que saudade dos tempos em que as pessoas podiam divergir de maneira cortês.

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