Há consenso de que a eleição presidencial foi plebicitária. E para o resultado foi determinante a prevalência do voto anti-PT. Entretanto, é importante considerar que o eleitorado pró-Bolsonaro é bem mais amplo e diversificado.
Parte é formado por cidadãos que exigem mudanças em relação ao excesso de intervenção estatal na economia e em questões correlatas, a exemplo de reforma previdenciária, trabalhista, fiscal, administrativa e tributária.
Outro grupo, quase uma unanimidade nacional, promove críticas e restrições ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, relativamente à natureza de sua composição, sua atuação e de seus gastos abusivos.
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Realizada em vários governos, a garantia de governabilidade a qualquer custo, através da cooptação de parlamentares e partidos com benesses orçamentárias e ministeriais, também determinou uma imensa e continuada inconformidade popular.
Finalmente, há um outro grupo de relevância social, cuja influência política cresceu demasiado, formado por correntes religiosas e com evidentes contestações e reivindicações “moralistas”.
O então deputado Jair Bolsonaro, ainda que integrante do que se denomina de “baixo clero”, rótulo dos parlamentares de pouca expressão, foi um catalizador midiático destas críticas, insatisfações e reivindicações. Às vezes, de modo debochado e provocador, tão ao gosto de alguns segmentos.
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Deste conjunto de circunstâncias e representações sociais decorreram sua candidatura e agenda de governo, e a consequente disputa e vitória eleitoral. Lógico, favorecida pelo enfrentamento final com o seu adversário ideal, naquele momento representativo “de todos os males”.
Identificados compromissos e segmentos (há outros mais) que originariamente apoiaram seu nome – alguns para muito além de “anti-petismo, comunismo e ateísmo” –, fica evidente que o presidente precisa mudar seu comportamento. Imediatamente.
Não importa se provocado ou não, justa ou injustamente, afinal, todos os governantes passam por isso, suas frequentes, caóticas e intempestivas manifestações desdenham, fragilizam e comprometem a agenda social e econômica do próprio governo.
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A ausência de foco e dedicação no que lhe diz respeito objetiva e diretamente, o poder executivo federal, resultará paulatinamente no seu esvaziamento político e comprometimento institucional. Afinal, qual a utilidade pública na “bateção de boca” diária?
A nação não aguentará mais dois anos na mesma toada. Já passou da hora de falar educadamente, apenas o necessário, e governar para todos. Principalmente agora, em meio à crise sanitária e humanitária, circunstância que exige liderança, respeito e empatia.
É o que se espera de um presidente da república!
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