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“É como se fosse uma pessoa da nossa família morrendo”, diz Cíntia Luz

A véspera do Dia da Consciência Negra foi marcada pela violência e brutalidade. No estacionamento de um supermercado da rede Carrefour, em Porto Alegre, um homem negro de 40 anos foi espancado e morto, por dois homens brancos. O caso é investigado pela Polícia Civil e os autores do crime foram presos em flagrante. A barbárie revoltou não apenas a comunidade negra, que luta pelos direitos de igualdade diariamente, mas toda a sociedade. O assunto foi um dos mais comentados nas redes sociais e gerou indignação.

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O caso repercutiu nacionalmente e, é claro, também em Santa Cruz do Sul. Cíntia Mara da Luz, produtora cultural e ativista do movimento negro santa-cruzense, sente na pele toda vez que um caso semelhante acontece. Desta vez, justamente na véspera do Dia da Consciência Negra. “Entrar o 20 de novembro com esta notícia é como se fosse uma pessoa da nossa família morrendo. Cada negro que morre por um ato violento, por um ato racista aqui no nosso País, é a mesma coisa que as mulheres feministas sentem quando uma mulher é morta por um ato machista, feminicídio. A gente se sente mal, a gente não digere”, comentou.

Vivendo o luto da morte de uma amiga, por um mal-súbito, também nessa quinta-feira, 19, Cíntia ressalta que o momento é de luta, mas também de ficar perto dos amigos e familiares. “Eu vou fazer meu luto pela minha amiga e pela morte de vários negros que são mortos pela violência brutal do racismo no nosso País. A gente tem que saber lutar, mas também manter a sanidade mental nos trilhos, e que a gente consiga seguir a vida, tentando acreditar que vamos ter um mundo melhor”, disse.  

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O amanhecer, segundo a ativista, foi de tristeza e serve para reflexão. “Essa data é tão importante para a gente, o 20 de novembro, e amanhecer com a notícia dessa morte brutal deste homem no Carrefour… É de colocar também a sociedade, as pessoas brancas, a pensar: quantos homens brancos foram mortos por policiais e seguranças dentro de shoppings? Aí hoje [sexta-feira] eu vejo várias pessoas publicando que somos todos iguais. Iguais aonde? Em que sentido?”

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A produtora cultural ainda lembrou a repercussão da morte de George Floyd, em junho, nos Estados Unidos. Depois de ser morto em uma ação policial, ele se tornou símbolo da luta contra o racismo e a violência policial. Ainda assim, são inúmeros os casos que vieram depois. “Nós não conseguimos nem digerir o luto de mortes, de atos racistas. Quero ver quantas pessoas brancas vão se indignar, que estavam publicando a #vidasnegrasimportam pela morte do George Floyd, quantas aqui no Brasil vão se indignar com a morte deste homem em Porto Alegre. Porque aqui no Brasil isso é naturalizado. Porque aqui no Brasil a sociedade toda, principalmente a branca, naturaliza”, lembrou.

“Muitas pessoas estão pensando: ‘ele [vítima no Carrefour] deve ter tentado roubar, deve ter feito alguma coisa’. Mas nada, nada que ele tenha feito justifica a morte de uma pessoa. É esse o pensamento que as pessoas brancas e toda a sociedade brasileira precisam ter, mas principalmente quem está com o poder. O poder da arma, com o poder de decidir quem entra e quem sai, quem vive e quem morre”, finalizou.  

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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Naiara Silveira

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