Depois de 23 anos dividida entre o revólver e o batom, a sargento Lindamir dos Santos Carneiro pendurou de vez a farda. Integrante da primeira turma de mulheres de Santa Cruz do Sul incluídas na Brigada Militar, em 1993, teve seu último dia de serviço nesse mês. Ao olhar para trás, as lembranças fazem com que se orgulhe da rotina à qual dedicou toda a sua vida. Hoje com 41 anos, percebe que aquelas 21 jovens quebraram um paradigma ao realizar o sonho de ser policial.
A aposentadoria traz para Lindamir a sensação de dever cumprido. O desejo de trabalhar pela segurança das pessoas surgiu ainda criança, por volta dos 9 anos de idade, quando a inserção de mulheres na Brigada Militar ainda era uma utopia. Em 1987, quando se formou a primeira turma de mulheres no Rio Grande do Sul, o sonho começou a virar realidade. A sargento passou a se dedicar aos estudos e, aos 18 anos, passou no concurso. Foram 30 selecionadas para o curso, mas apenas 21 se formaram.
Conforme Lindamir, o curso preparatório significou oito meses de dificuldades. Por se tratar da primeira turma de mulheres, os comandantes não tinham muito jeito para lidar com as novas policiais. “Era muita proibição. Uma feminina não podia nem conversar com um masculino”, conta. No entanto, os desafios estavam apenas começando. Após a formatura, todas as policiais foram colocadas em serviços externos e tiveram que, além de combater o crime, enfrentar o preconceito dos cidadãos.
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Sargento Lindamir integrou a primeira turma de soldados femininos de Santa Cruz, que agora estão se aposentando.
Foto: Lula Helfer
O respeito veio com o tempo e a vivência das ruas, trazendo aprendizados que ela levará consigo para sempre. “Eu aprendi muito e sempre procurei passar as minhas experiências para as mais novas”, afirma. Lindamir se aposentou há pouco mais de uma semana, o que ainda não a fez sentir saudades do trabalho. Mas, segundo ela, esse sentimento não vai demorar, já que ela ama a profissão que escolheu.
Não é para qualquer uma
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Para a sargento Lindamir dos Santos Carneiro, quem decide entrar para a Brigada Militar precisa ter certeza de que a sua vocação é ajudar a comunidade, pois muitas dificuldades se apresentam no caminho. Dentre todos os inimigos, o maior deles é o perigo, que está presente em quase todas as situações do dia a dia de uma policial.
O episódio mais marcante da vida profissional de Lindamir aconteceu há cerca de dez anos, no Bairro Bom Jesus. De acordo com ela, foi um tiroteio, que durou por muitos minutos. “A troca de tiros foi intensa, quase não conseguíamos conter a violência dos bandidos”, lembra. Mesmo assim, ela nunca pensou em desistir.
Agora, com a aposentadoria, o pioneirismo na Brigada Militar de Santa Cruz do Sul e a resistência aos 23 anos de trabalho são motivos de celebração para as 21 mulheres da primeira turma santa-cruzense formada. Nos próximos dias, elas devem se reunir para relembrar e comemorar juntas a trajetória como brigadianas.
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