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Direto da Redação

E agora?

Uma das lembranças mais antigas que guardo referente a eleições é de um domingo de segundo turno presidencial em que eu e meu pai assistíamos televisão à noite e o Fantástico acabava de confirmar que o candidato no qual não havíamos votado saíra vencedor. Quando digo “não havíamos votado” me refiro ao candidato que não tinha simpatia lá em casa – eu ainda não tinha idade para votar.

Quando ouvi a notícia, imediatamente voltei-me para meu pai e, aflito, perguntei: “E agora?”. Meus pais eram minha única referência à época para tentar compreender a política e, naquele momento, a ideia de que havíamos sido derrotados gerava uma certa insegurança. Mas a resposta que recebi foi: “Agora é esperar que ele cale a nossa boca e faça um ótimo governo.”

Lembrei desse diálogo várias vezes nos últimos dias, passadas quase duas décadas daquela noite. Em meio ao processo eleitoral mais complexo de nossa história e a questionamentos crescentes sobre a solidez de nossa democracia, chego à conclusão de que meu pai, consciente ou não, me ofereceu uma grande lição de espírito democrático, muito necessária nos dias atuais.

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A diferença desta eleição é que, de um lado e de outro, entende-se o adversário não como um projeto distinto de país, mas como uma ameaça real e profunda ao nosso futuro, e todos têm seus motivos, embora esses soem incompreensíveis para quem está no extremo oposto.

O efeito mais nefasto disso é que passamos a enxergar o voto de cada um como um medidor de caráter ou sapiência quando, na verdade, não é possível conceber que alguém vote desejando o mal do próprio país – pelo contrário, vota-se naquilo que se acredita ser o melhor, por mais simplista que isso pareça. Nada me assusta mais, em meio a uma epidemia de desinformação (essa, sim, perigosíssima), do que a onda de questionamentos infundados sobre a confiabilidade do sistema eleitoral e os indicativos, aqui e acolá, de que o resultado das urnas pode ser mais uma vez colocado em dúvida sem razão para tal.

Diferente daquela noite da minha infância, agora tenho minhas próprias convicções – algumas, bem diferentes das de meu pai, o que levou a discussões homéricas durante a campanha. Mas entendi que ele e eu, no fundo, queremos a mesma coisa: o melhor para o país que vivemos, assim como todo mundo.
Respeitar a democracia implica em saber reconhecer a vontade da maioria e, se for derrotado, torcer para que tudo dê certo e seguir em permanente vigilância, enquanto o tempo trata de separar erros e acertos. Acredito piamente que os problemas da democracia só podem ser resolvidos com mais democracia. E é com essa certeza e a lição de meu pai em mente que irei às urnas neste domingo.

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