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LITERATURA

Duca Leindecker: uma estrada feita de letras

Um dos mais conhecidos e prestigiados músicos, cantores e compositores gaúchos e brasileiros da atualidade, o porto-alegrense Duca Leindecker, será visitante ilustre de Candelária na próxima semana. Por conta de outra de suas especialidades: a literatura. Ele é o patrono da 18a Feira do Livro do município, evento que será realizado entre quarta-feira, dia 4, e domingo, 7, com atividades programadas para a Rua Coberta, e em torno do tema “Há Arte em Ler”.

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E essa “arte” referida no slogan da feira assenta-se com perfeição à história de vida do artista Duca. Com seu trabalho autoral, e ainda com a trajetória cumprida junto a bandas referenciais da música gaúcha, como Bandaliera e Cidadão Quem, além da parceria com Humberto Gessinger no projeto Pouca Vogal, ele projetou seu nome no País e no exterior. Em paralelo, e a partir do exercício da composição na música, estruturou uma exitosa carreira igualmente na literatura, com romances de amplo alcance junto a públicos de todas as idades, mas muito especialmente de agrado dos jovens.

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E é esse interesse dos adolescentes por suas narrativas que torna sua obra tão popular junto a escolas e eventos literários. Aos 53 anos, mantém uma agenda constante de visitas a feiras do livro, para bate-papos com estudantes. Atualmente, Duca mora nos Estados Unidos, na companhia de sua esposa, a política e ex-deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB). O casal tem a filha Laura, de 8 anos (Duca ainda tem o filho Guilherme, 20 anos, de relacionamento com a atriz Ingra Liberato).

Manuela cumpre nos EUA uma etapa de seu doutorado em Políticas Públicas, e Duca, em paralelo, agiliza um novo trabalho autoral como músico, conforme enfatizou em entrevista à Gazeta do Sul nessa semana, e publicada na página 3 deste suplemento. Devem retornar ao Rio Grande do Sul em definitivo apenas em meados do ano que vem.

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Agora, Duca vem ao Brasil para o compromisso que tem em Candelária na próxima quinta-feira, às 8h30, quando vai proferir palestra na Feira do Livro. Será oportunidade para saciar a saudade que tem de sua Porto Alegre natal e, claro, cultivar o contato com seus leitores, de todas as idades, e de toda a região central gaúcha

O menino que pintava sonhos: um romance de formação

A obra literária de Duca Leindecker compõe-se, por ora, de três romances. Mas, se ainda é enxuta em termos de quantidade, evidencia uma inegável qualidade, com apuro no estilo e pleno domínio de composição da narrativa.

Há em seus textos uma nuança poética, uma leveza e, ao mesmo tempo, muita profundidade de olhar sobre a condição humana. Esse aspecto remete aos melhores romances de formação do isrealense David Grossman, um autor que, a exemplo de Duca, tematiza com carinho o universo da infância e da adolescência.

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Como enfatiza Duca, o seu contato mais direto com a literatura ocorreu a partir da composição de canções, nas quais explorou os elementos da poesia. O passo dado dos versos para a prosa foi motivado pela nostalgia e pela saudade. Residindo no Rio, recordava do tempo em que sua família morava na capital gaúcha.

Colocou tais lembranças no papel, e assim surgiu seu romance de estreia, A casa da esquina, lançado em 1999. Essa obra fez amplo sucesso na Feira do Livro de Porto Alegre e acumula várias edições. A experiência seguinte foi o romance A favor do vento, de 2022, mais uma vez acolhido com muito entusiasmo pelos seus leitores.

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E então, mais de uma década depois, em 2013, veio O menino que pintava sonhos, um romance de formação à moda clássica, centrado no personagem Jules, garoto porto-alegrense que revela um dom inato para a pintura.

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Ainda que cresça em uma condição humilde, supera a tudo acreditando plenamente em sua capacidade de se expressar e de superar adversidades, projetando nas telas as suas expectativas. Assim, também as pessoas que o cercam ficam deslumbradas com as imagens que ele formula. Mas na vida não basta apenas confiança; será preciso encarar obstáculos imprevistos e, não raro, algumas perdas irreparáveis. A obra literária pode ser encontrada ao valor de R$44,90.

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Caminhei cuidadosamente pelo interior da casa chamando por Caetana (…). Chamava, mas assim que percebi a presença de Maria Cândida sentada em uma pequena mesa perto da janela do ateliê, parei. Fiquei ali exatamente no lugar onde estava quando avistei pela primeira vez os cabelos encaracolados dela. Eu não havia deixado que ela percebesse minha reciprocidade no dia em que se expôs, no fascínio daquela tela. Uma tela que havia me apresentado a todos como o magnífico Jules e a ela como alguém que estava além dos fascínios da arte. Parado, fiquei por um bom tempo observando os cabelos, a pele e o perfil de Maria Cândida. Uma sensação de hipnose. A ilusão de que até seu cheiro era perceptível, como se todos os canais estivessem abertos para absorver o que fosse dela. Ali eu ficaria para sempre não fossem os olhos de Maria Cândida que, do fundo da peça, flagraram os meus.

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