É início de ano, muita gente viajando, curtindo férias, praia ou simplesmente aproveitando para descansar e recarregar energias para os desafios que vêm pela frente. Também passamos o Natal e o Ano Novo longe de Santa Cruz do Sul. De início, a ideia nos assustou, porque, que eu lembre, desde que somos uma família, nunca celebramos essas datas que não fosse em nossa casa, cercados por familiares e, claro, pelos filhos, outrora pequenos, agora construindo suas famílias.
Mas foi interessante agregar essa experiência. Até para nos certificarmos do quanto é importante e prazeroso estarmos juntos e do quanto sentimos falta de quem está distante.
Este ponto remete à primeira questão. Andemos por perto ou em lugares longínquos, cada destino com seus múltiplos atrativos, arrebatadores pelas belezas naturais ou pela inspirada intervenção humana e, chega a hora, nos reencontramos com nossa cidade.
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Digam que sou bairrista. Não me importo. Cada vez que retorno a Santa Cruz me sinto dominado por um sentimento de gratidão e de encantamento. Gratidão por ter nascido aqui, construído uma família, uma carreira profissional, uma história. Encantamento porque, ressalvadas questões pontuais e afetivas de domínio pessoal de cada um, não encontro cidade que me acolha e impressione como essa.
Como passar indiferente por um centro urbano que remete a um parque florestal, a um jardim multicolorido e coletivo? Onde as pessoas trabalham, consomem, passeiam, se encontram, se divertem, compram o que precisam e resolvem suas demandas? Como não sentir gratidão ao visionário que, mais de século atrás, desenhou quarteirões simétricos em meio ao nada para atestar o nascimento de uma cidade? Talvez, a primeira ou uma das primeiras cidades do Estado que teve todo o seu perímetro central planejado, com surpreendente e privilegiado espaço designado para as praças, a circulação de pessoas e veículos motorizados que sequer existiam por estas paragens.
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Estou dizendo que aqui tudo é perfeito? Longe disso. Nós, que aqui empreendemos, trabalhamos ou simplesmente vivemos, e os que escolhemos ou não para nos representar, temos todos as nossas limitações e imperfeições. Ou seria mais do que isso?
Esta é a segunda questão, a que nos defronta com a realidade, com as necessidades que se escancaram à frente das pessoas. A vida seria muito mais leve, ainda mais sob o abrigo de um cenário privilegiado como o nosso, não fossem as deficiências dos serviços públicos. São as questões que fogem ao nosso alcance e que, por óbvio, não se limitam a um município ou a um Estado. São o retrato de um País que se especializou em todas as instâncias – federal, estadual e municipal – em tributar seus cidadãos e toda a atividade econômica e lhes sonegar direitos básicos.
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São ruas e estradas em situações precárias; a água que não chega nas torneiras da população; os buracos nas rodovias que engolem nossa paciência e segurança. Para agravar o quadro, o cidadão se depara com negativas quando precisa de atendimento no SUS, sobretudo ao se tratar de alguma especialidade, e se escandaliza com a insegurança, o avanço da marginalidade, do crime organizado e com a permissividade da nossa legislação diante das transgressões.
Somos herdeiros e personagens vivos de uma cidade maravilhosa, que nos enche de orgulho. Mas não vivemos numa bolha e não estamos isentos das mazelas que afligem uma Nação inteira. Façamos o que está ao nosso alcance, a começar pelo compromisso de zelar pelo patrimônio que nos cerca. Nossa atitude dirá se somos ou não merecedores dessa herança.
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