Parece mentira, mas não é. Já houve época em que o nosso hoje e já há muito tempo quebrado governo do Estado do Rio Grande do Sul não tinha dívidas e podia apresentar superávits. E, quando se comemora 196 anos de imigração alemã no Estado e já mais de 170 anos na Colônia de Santa Cruz, a rememoração desse fato se torna ainda mais interessante, pois ocorria justamente em razão do bom desempenho das colônias alemãs instaladas na então província.
Foi o que relatou viajante inglês, Michael G. Mulhall, em 1871, no livro O Rio Grande do Sul e suas colônias alemãs. Não hesitou em dizer que “as maravilhas da província são as colônias alemãs, com 60 mil pessoas, que transformaram as florestas virgens em ondulantes campos de milho, entremeados de bem cuidados quintais e toda espécie de estabelecimentos agrícolas”. Afirmava, muito convicto, que o progresso da província, então com título de “Celeiro do Império Brasileiro”, era devido em especial a essas colônias, tendo finanças “tão prósperas que no ano passado houve um superávit de 17 mil libras” e estando “sem dívidas a pagar”.
Informava que as colônias alemãs somavam 43 no Estado, a começar pela primeira (São Leopoldo) e as demais “prometendo rivalizar em prosperidade” com aquela, entre as quais: Santa Cruz, Rincão Del Rey, Monte Alverne e Santo Ângelo (Agudo). Sobre Santa Cruz, destacava que “as terras eram férteis, o local excelente e a colônia foi um brilhante sucesso”, citando colheita anual de “25 mil libras, das quais 1/3 é produto do tabaco, 1/4 do milho e o restante do feijão, batata inglesa, cevada, vinho, açúcar de cana, arroz e linho, incluindo 5 mil libras de algodão e igual quantidade de mel”, e exportações maiores que importações.
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Quando se lê tais avaliações, de um analista de outro país, só pode acender-se em nosso íntimo um justo orgulho dos nossos antepassados e fazer lembrar de princípios que trouxeram consigo e que ainda hoje são vinculados aos alemães, como o espírito de trabalho, disciplina e poupança, fundamentais ao sucesso econômico. De outro lado, me vem à lembrança experiência vivida na área pública do Estado nos anos 1980, quando me deparava a toda hora com espírito bem diferente, onde não poucas vezes prevalecia o interesse de colher o máximo de vantagens dos cofres públicos, ignorando que não andavam nada bem das pernas.
Enquanto isso, em nossa terra, onde também atuava no plano público, encontrava posição bem mais cuidadosa com o uso dos recursos do povo, por certo fruto desta bela herança dos colonizadores. Assim, o melhor que se pode desejar, ao lembrar a data comemorativa dos imigrantes, é que possamos sempre mais revalorizar esses saudáveis hábitos na economia privada e pública, sobre os quais meu rígido progenitor, Carlos Christiano (o Carl do meu livro Carl & Ciss: Crônicas da Colônia Alemã, de 2019), já muito bem preconizava: só gaste o que tiver, poupe sempre e só empreste se o que tiver puder garantir o pagamento. Que bela lição!, que faço todo dia um grande esforço em seguir.
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