Há uns 20 anos, quando ainda andava nos meios políticos, uma sugestão estranha me foi feita por correligionário santa-cruzense que havia retornado da Alemanha, onde ficara por um tempo. Ele inclusive cogitava a possibilidade de concorrer a vereador, mas desistiu e ofereceu apoio à minha candidatura, recomendando que eu poderia conquistar um bom bocado de votos se fosse passear com cachorrinho na Imigrante.
Naqueles tempos já se via algumas pessoas, em especial senhoras, circulando com seus cãezinhos naquele local, e o meu amigo, vindo de uma vivência alemã onde esse costume já estava mais arraigado, considerava que seria uma boa forma de interação e conquista de votos. Como este não era meu chão, e não costumava buscar apoio onde não estivesse ambientado, de cara descartei tal possibilidade e apenas fiquei no “humm! ah, é!”, na resposta que precisava dar à dica.
Pois, passados menos de 20 anos (dizem que mudanças substanciais acontecem em períodos de duas décadas), vejo que já são várias as candidaturas exitosas (em nível local e estadual) justamente tendo como principal bandeira a causa animal. E nas minhas caminhadas do dia a dia, deparo com número cada vez maior de cães de estimação disputando espaço nas calçadas, em passeios com seus donos e donas para tomar um sol e atender às necessidades orgânicas. Chamam atenção os tratamentos, em especial das donas, que em suas ordens aos bichinhos não economizam em carinhos, como: “Meu amor, vem para cá!”; “Querido, não faça isso!”; “Amorzinho da mamãe!”, pra cá e pra lá.
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Sempre é bom ouvir a palavra amor, seja dita para animais, seja para pessoas, seja para tudo de que se goste, embora se saiba que o amor mais difícil é o da pessoa a pessoa, porque aí o contraditório é maior e a compreensão, por sua vez, também precisa ser maior. Mas não há como não acompanhar e perceber as mudanças dos tempos, em que há menos filhos humanos e mais filhos animais ao nosso redor, e todas as alterações vivenciais e comportamentais que seguem, onde, por exemplo, ao lado dos serviços para crianças, surgem os de cães, e assim é mesmo necessário.
Dentro de casa, os espaços humanos e animais também são redefinidos. Em outros tempos, o cachorro, ou cachorrinho, podia ir até um certo ponto e daí não passava. Hoje, já entra nos quartos e vai para a cama das pessoas. Lá em casa, estou numa luta para que o cãozinho só entre após eu levantar, pois, por mais que também goste dele, fica difícil dormir a três. Não sei até quando vou conseguir evitar. O bichinho já anda rosnando com a minha implicância…
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