Longevidade

Dona Isaura, uma ginasta de respeito

Até os 10 anos de idade, dona Isaura não sabia o que era escola.

Nasceu em 1935, em Pederneiras, interior de Rio Pardo, das mãos da mesma parteira que fez vir ao mundo mais 12 irmãos.

Na época, a família dependia do que colhia nas terras de outros.

Publicidade

Vivia de plantações, em especial do arroz, e Isaura aprendeu com o pai, Cândido Rodrigues, a valorizar cada grão desde muito pequena.

A mãe, Maria Conceição, cuidava dos filhos e dos afazeres da casa.

LEIA TAMBÉM: Aos 95 anos, os dedos mágicos de Rute

Publicidade

E Isaura pouco conhecia do mundo, pois a mãe, recorda, era muito fechada para conversas.

O único contato que Isaura tinha com a cidade rio-pardense se dava uma vez ao ano, quando, acompanhada do pai, atravessava o rio com a balsa para fazer escassas compras no comércio.

De tanto trabalhar e não ver futuro, certo dia seu Cândido confessou à família que havia cansado de ser peão.

Publicidade

Ficou sabendo que na vizinha Santa Cruz havia muitas possibilidades de emprego em fábricas de cigarro, e não pensou duas vezes. Juntou toda a família e anunciou a decisão. E assim os 15 integrantes dos Rodrigues mudaram-se para a terra do fumo.

LEIA TAMBÉM: Aos 99 anos, a rainha do caça-palavras

Na nova cidade, Isaura começou a frequentar a escola e, ainda adolescente, teve sua primeira oportunidade em uma das fábricas. Foi onde ficou por mais de três décadas. “Sempre trabalhei ‘sortindo’ fumo”, recorda.

Publicidade

O trabalho a tornou independente e casou-se muito jovem. Aos 16 anos conheceu um moço, que era muito respeitado por se tratar de um exímio construtor de casas. O ofício do jovem contou muito para a aprovação de seu Cândido e dona Maria Conceição. E então Isaura disse “sim” ao jovem construtor Filadércio Siqueira.

Uma fatalidade, porém, fez dela viúva muito mocinha. Filadércio, aos 27 anos, veio a falecer ao cair de um andaime, e nunca mais voltou para casa.

Em respeito ao seu primeiro amor, Isaura manteve o sobrenome do marido, mesmo tendo trocado alianças uma segunda vez com outro rapaz, o Alvarino.

Publicidade

Desse segundo casamento vieram dois filhos: Leonel e Evanir. E deles surgiram mais quatro netos e dois bisnetos.

LEIA TAMBÉM: As delícias do puxadinho de Jurema

Hoje, prestes a completar 90 anos, o mesmo espírito daquela menina que corria em meio às plantações de arroz é muito presente nas segundas, quartas e sextas, quando participa das atividades físicas no grupo de terceira idade no Esporte Clube Flamengo, no Bairro Arroio Grande. “Ela é a ginasta mais velha e mais assídua”, conta a amiga Eva Machado Wech, que também frequenta a oficina.

Atualmente Isaura mora com a família do filho, Leonel, mas é ela quem cuida da rotina da casa. Logo de manhã, após seu chimarrão de hábito, prepara as refeições para os netos, cuida do jardim, dos copos de leite e das rosas, dos chás e dos tomates. Ela conta que toda essa ocupação a faz esquecer da artrose que de vez em quando a incomoda. “Me ocupo tanto que a dor some”, diz.

Tanta vitalidade serve de inspiração aos mais jovens.

Que o diga Eva, a amiga e parceira nos encontros. “Ela é um exemplo para todos nós”, reconhece.

LEIA MAIS TEXTOS DA COLUNA LONGEVIDADE

Chegou a newsletter do Gaz! 🤩 Tudo que você precisa saber direto no seu e-mail. Conteúdo exclusivo e confiável sobre Santa Cruz e região. É gratuito. Inscreva-se agora no link » cutt.ly/newsletter-do-Gaz 💙

Guilherme Andriolo

Nascido em 2005 em Santa Cruz do Sul, ingressou como estagiário no Portal Gaz logo no primeiro semestre de faculdade e desde então auxilia na produção de conteúdos multimídia.

Share
Published by
Guilherme Andriolo

This website uses cookies.