Até os 10 anos de idade, dona Isaura não sabia o que era escola.
Nasceu em 1935, em Pederneiras, interior de Rio Pardo, das mãos da mesma parteira que fez vir ao mundo mais 12 irmãos.
Na época, a família dependia do que colhia nas terras de outros.
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Vivia de plantações, em especial do arroz, e Isaura aprendeu com o pai, Cândido Rodrigues, a valorizar cada grão desde muito pequena.
A mãe, Maria Conceição, cuidava dos filhos e dos afazeres da casa.
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E Isaura pouco conhecia do mundo, pois a mãe, recorda, era muito fechada para conversas.
O único contato que Isaura tinha com a cidade rio-pardense se dava uma vez ao ano, quando, acompanhada do pai, atravessava o rio com a balsa para fazer escassas compras no comércio.
De tanto trabalhar e não ver futuro, certo dia seu Cândido confessou à família que havia cansado de ser peão.
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Ficou sabendo que na vizinha Santa Cruz havia muitas possibilidades de emprego em fábricas de cigarro, e não pensou duas vezes. Juntou toda a família e anunciou a decisão. E assim os 15 integrantes dos Rodrigues mudaram-se para a terra do fumo.
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Na nova cidade, Isaura começou a frequentar a escola e, ainda adolescente, teve sua primeira oportunidade em uma das fábricas. Foi onde ficou por mais de três décadas. “Sempre trabalhei ‘sortindo’ fumo”, recorda.
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O trabalho a tornou independente e casou-se muito jovem. Aos 16 anos conheceu um moço, que era muito respeitado por se tratar de um exímio construtor de casas. O ofício do jovem contou muito para a aprovação de seu Cândido e dona Maria Conceição. E então Isaura disse “sim” ao jovem construtor Filadércio Siqueira.
Uma fatalidade, porém, fez dela viúva muito mocinha. Filadércio, aos 27 anos, veio a falecer ao cair de um andaime, e nunca mais voltou para casa.
Em respeito ao seu primeiro amor, Isaura manteve o sobrenome do marido, mesmo tendo trocado alianças uma segunda vez com outro rapaz, o Alvarino.
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Desse segundo casamento vieram dois filhos: Leonel e Evanir. E deles surgiram mais quatro netos e dois bisnetos.
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Hoje, prestes a completar 90 anos, o mesmo espírito daquela menina que corria em meio às plantações de arroz é muito presente nas segundas, quartas e sextas, quando participa das atividades físicas no grupo de terceira idade no Esporte Clube Flamengo, no Bairro Arroio Grande. “Ela é a ginasta mais velha e mais assídua”, conta a amiga Eva Machado Wech, que também frequenta a oficina.
Atualmente Isaura mora com a família do filho, Leonel, mas é ela quem cuida da rotina da casa. Logo de manhã, após seu chimarrão de hábito, prepara as refeições para os netos, cuida do jardim, dos copos de leite e das rosas, dos chás e dos tomates. Ela conta que toda essa ocupação a faz esquecer da artrose que de vez em quando a incomoda. “Me ocupo tanto que a dor some”, diz.
Tanta vitalidade serve de inspiração aos mais jovens.
Que o diga Eva, a amiga e parceira nos encontros. “Ela é um exemplo para todos nós”, reconhece.
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