Mais importante liderança católica na Diocese de Santa Cruz do Sul, o bispo frei dom Aloísio Alberto Dilli busca atender com máxima eficiência a todas as demandas de suas comunidades. Em meio aos inúmeros afazeres, de uma coisa ele não abre mão: do contato com a natureza. Diariamente, e a cada possibilidade que a agenda ofereça, ajuda a equipe da residência episcopal a cuidar da horta, do pomar, do jardim e do pátio do Bispado. Na segunda-feira (na data em que o Papa Francisco completava dez anos de pontificado), acolheu a Gazeta do Sul para mostrar espaços verdes repletos de beleza e diversidade.
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Ser um líder espiritual tornou-se a missão de vida de frei dom Aloísio Alberto Dilli. Bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul desde o final de agosto de 2016, é a grande referência para todos os fiéis católicos de uma ampla área formada por 52 paróquias, que abrangem 40 municípios, de Arvorezinha, no Alto Vale do Taquari, a Dom Feliciano e Amaral Ferrador, já na Serra do Sudeste. Cotidianamente, ele busca se desincumbir, com a eficiência, a presteza e a solicitude que o seu cargo requer, das suas inúmeras tarefas e das demandas junto à instituição.
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Mas, fiel a sua formação de frei franciscano, e com os ensinamentos que essa trajetória lhe trouxe, também procura exercitar diariamente o contato e o convívio com a natureza. Mais do que o convívio, esmera-se ele próprio a realizar diversas tarefas, sempre que possível, na horta, no pomar, no jardim e no pátio da residência episcopal, na Rua Thomaz Flores, na proximidade dos demais espaços da Mitra, e a pouco mais de uma quadra da Catedral São João Batista.
Ali, dom Aloísio recebeu a Gazeta do Sul na última segunda-feira à tarde não só para falar de temáticas associadas ao universo do cristianismo, do catolicismo ou da espiritualidade em pleno período da Quaresma (embora tais contextos também tenham sido abordados). A motivação da visita era especialmente conhecer de perto a horta, o pomar e o quintal dos quais dom Aloísio ajuda a cuidar, com afinco, dedicando a isso todos os momentos do dia nos quais tenha disponibilidade. E ao professar, na proximidade com plantas, árvores, pássaros e animais, a harmonia máxima entre o ser humano e todos os demais seres vivos, como ensinou São Francisco de Assis, o fundador da ordem franciscana, frei dom Aloísio transmite, com seu gesto, um exemplo para os demais em sociedade, e não importa o grau de cargos ou funções que desempenhem.
Em diferentes espaços no quintal da ampla casa episcopal, o pomar e a horta, ainda que de dimensões limitadas, permitem que sejam colhidos, em canteiros pelos quais o bispo zela, hortaliças, verduras, temperos variados e frutas, que são aproveitados e servidos nas refeições para as pessoas da equipe.
Dom Aloísio refere que a estiagem persistente ao longo dos meses de verão, a exemplo do que se constata em toda a agricultura regional, prejudicou também o desenvolvimento das plantas na horta.
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Contando com estrutura formada por vários reservatórios que captam a água da chuva em telhados de construções do terreno, são irrigados sempre que possível os canteiros, as plantas e as árvores. “Mas ainda assim isso acaba não sendo suficiente. O sol escaldante afetou muito todas as espécies”, frisa. E comenta que, diante disso, se tem uma percepção muito clara das angústias e dos prejuízos com os quais precisam conviver os agricultores, em suas lavouras, em virtude do clima.
Na horta, dom Aloísio ajuda a preparar a terra, capinar, plantar, semear, cuidar e colher as mais variadas hortaliças. Mostra, por exemplo, o viçoso pé de feijão-vagem, pronto para a colheita. Atento à fertilidade e à qualidade do solo, costuma recolher os resíduos orgânicos gerados na cozinha ou no quintal, e os leva para os canteiros na horta; faz uma pequena vala, onde depõe esses materiais, e os cobre com a terra ao abrir, ao lado, já uma nova vala, que fica pronta para a vez seguinte. Nada é desperdiçado, e cada recurso natural é cuidado, preservado, conservado. Como deveria ser em todos os lugares.
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Aos 74 anos, o bispo frei dom Aloísio Alberto Dilli tem sempre muito presentes as suas origens, das quais diz se orgulhar. Nascido em 21 de junho de 1948 na localidade de Boa Vista de Poço das Antas, a oito quilômetros da cidade de Poço das Antas, vizinha a Teutônia, aprendeu ao lado dos pais, Arsênio e Verônica, falecidos, que eram agricultores e pequenos comerciantes, a ter zelo pela terra. Quarto de nove irmãos, acompanhava a família no cultivo de alimentos e, quando possível, ajudava em alguma tarefa. Seus irmãos mais velhos são Laurena, Irma e Arno (falecido), e após ele vieram os manos Idácio, Irineu, Hêdio (falecido, e que igualmente se tornara padre), José e Maria Regina.
Realizou os estudos primários na escola Benjamin Constant, vizinha à casa da família. Com 11 anos, deixou o lar paterno para ingressar no Seminário Seráfico São Francisco, em Taquari, que frequentou por nove anos. Tão logo saiu de lá, cumpriu um ano de noviciado no convento franciscano de Daltro Filho, interior de Imigrante. Seria a primeira de várias passagens por esse local, com o qual firmou laços que se estendem por toda a vida. Já em 1971 dom Aloísio se deslocava a Porto Alegre para, simultaneamente, cursar Filosofia, em Viamão, e Teologia, na PUCRS. Cumpriu oito anos em seis, e agregou sólida formação que lhe permite, por exemplo, lecionar História.
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Em 1º de janeiro de 1977 era finalmente ordenado padre em sua Boa Vista natal. Voltou a Daltro Filho, agora para auxiliar na formação de seminaristas. Aos 29 anos, plenamente integrado à comunidade, era até um voluntarioso atleta do time local de futebol, o Riograndense. Três anos depois, em outubro de 1980, mais um voo: o destino foi Roma, onde, por dois anos e meio, fez mestrado, em escola de beneditinos.
Mesmo ali, na capital italiana, a saudade de casa e a vontade de lidar com terra e plantas o motivaram a providenciar vasos com flores e chás que mantinha no parapeito da janela em seu quarto. Nas férias, visitava a Alemanha, e chegou a trabalhar em paróquias de lá, em Karlsruhe e Lohr am Main. De volta ao Brasil, cumpriu seis meses como mestre do noviciado em Daltro Filho.
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Ao retornar de Roma, dom Aloísio viu-se novamente em Daltro Filho. Pôde mesmo retomar a presença no time do Riograndense, tendo em vista que o esporte sempre fez parte de suas predileções, e praticou até os 59 anos (chegaram a ser campeões de Garibaldi na categoria veteranos). Depois vieram atribuições junto ao Seminário Sagrado Coração de Jesus, em Arroio do Meio: ele se tornara vice-provincial dos franciscanos no Estado. Em 1996, foi para Porto Alegre, ainda com função provincial, que seguiu até 2005. E novamente retornou a Daltro Filho, como mestre de noviciado, pela segunda vez.
Após esse amplo périplo por diversas cidades do Estado, com passagens de estudos por Roma, atuação na Alemanha e viagens por outras regiões da Europa, veio um telefonema: ele estava sendo nomeado pelo Papa Bento XVI para ser o bispo da Diocese de Uruguaiana. Aceito o convite, assumiu em 2007, numa cidade que só veio a conhecer quando para lá se mudou a fim de ocupar essa função. Nove anos depois, outro convite, este já no pontificado do Papa Francisco: se aceitava assumir como bispo na Diocese de Santa Cruz do Sul. Mais uma vez acolheu a proposta.
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E assim se tornava bispo em uma cidade que visitara pela primeira vez em 1990, quando atuava junto ao seminário de Arroio do Meio: viera a Santa Cruz para contatos no âmbito de um projeto de formação inter-congregacional diocesana. Perfeitamente ambientado, fluente em língua alemã, que inclusive exercitara em sua atuação na Alemanha, frei dom Aloísio evidencia, no trato institucional e no convívio diocesano, a simplicidade e a espontaneidade características dos franciscanos.
E frisa que ainda mantém contato com a sua Boa Vista natal: aliás, na casa em que cresceu, da qual hoje cuidam seu irmão Inácio e sua cunhada Verônica (mesmo nome de sua mãe), dom Aloísio tem preservado um quarto que é só dele, e no qual se acomoda nas visitas à localidade. Tudo segue em seu lugar, e assim ele também gosta que seja na natureza como um todo.
Não deixou de ser feliz coincidência que o frei franciscano dom Aloísio Dilli recepcionasse a Gazeta para a reportagem sobre a sua predileção de cuidar da natureza no mesmo dia em que o Papa Francisco completava dez anos de pontificado, ele que adotou o nome justamente em homenagem a São Francisco de Assis. Com simplicidade e sorriso sempre presente no rosto, dom Aloísio afirma que já pela manhã, tomado o café, por volta de sete, sete e meia, faz uma primeira visita à horta e ao quintal. Vai conferir como estão as plantas.
E repara nas flores: herdou da mãe, Verônica, o gosto e o zelo pelo cultivo de plantas ornamentais. Não por acaso, há gerânios exuberantes no parapeito externo das janelas do piso superior, inclusive junto a seu escritório. De lá se descortina a copa de espécies nativas: jaboticabas, guabijus, araçás, goiabas, figueiras… Apesar da falta da chuva, a temporada das frutíferas foi esplêndida. Há ainda pêssegos, ameixas, amoras, pitangas e fruta-do-conde, várias das quais dom Aloísio plantou. E até acerola, que teve alta produção, tendo florido quatro vezes no ano, como salienta . Em outra ala, vários citros, como bergamotas de diferentes variedades, laranja-de-umbigo, limão siciliano. Ampla diversidade.
Em geral, após o almoço, vai novamente à horta dispor nos canteiros os resíduos do preparo da refeição. Ao final da tarde, cumpridas as tarefas do dia, uma última conferida no ambiente. Por perto está sempre a mascote da casa, a cachorra Lika; e, claro, as abelhas jataí seguem ocupadas, bem como pássaros desfrutam da sombra do arvoredo.
Uma vez que muitos paroquianos já têm presente seu gosto por hortaliças e plantas ornamentais, com frequência ganha sementes e mudas. E na mesma proporção as distribui: a reportagem saiu de lá com muda de pitangueira. A relação harmônica e a integração com a natureza, na avaliação de dom Aloísio, se traduzem em qualidade de vida, para todos os seres. Quem cuida da natureza cuida da pessoa, frisa, referindo o legado de São Francisco de Assis, para quem todos são irmãos (tudo o que existe na natureza). O afastamento do meio natural faz emergir violência e ódio, destempero, desequilíbrio. Como tudo está integrado, ou o ser humano reassume a sua missão, cuidar bem do que o cerca, ou adoecerá de corpo e de alma: esse parece ser o grande ensinamento.
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