As preocupações com o cenário doméstico fizeram o dólar subir frente ao real nesta quinta-feira, 21, contrariando a baixa observada ante divisas de mercados emergentes e ligadas a commodities. De acordo com profissionais de câmbio, o turbulento noticiário corporativo, diante de desdobramentos da crise na Odebrecht, e o mal-estar despertado pelo reajuste salarial de mais de 40% do judiciário elevaram a percepção de risco sobre o Brasil, resultando também em elevação nas taxas dos contratos de proteção contra o risco nacional (CDS, na sigla em inglês). Em um dia de modesto volume de negócios, o movimento interno foi amparado também na acentuada queda nos preços de petróleo e na frustração com medidas adicionais de estímulo no Japão e na zona do euro.
No balcão, o dólar à vista fechou aos R$ 3,2851, em alta de 1,16%, mais próximo da máxima de R$ 3,2877 (+1,24%) que da mínima de R$ 3,2435 (-0,12%), registrada pela manhã. Conforme informações registradas na clearing da BM&F Bovespa, o volume total de negócios somou US$ 1,505 bilhão. Já no mercado futuro, o contrato de dólar para agosto encerrou aos R$ 3,2830 (+0,46%), com giro de US$ 12,227 bilhões.
De acordo com o economista da Guide Investimentos, Ignácio Crespo Rey, o reajuste de mais de 40% do judiciário, sancionado ontem pelo governo, e a falta de divulgação de medidas fiscais mais detalhadas pela equipe econômica prejudicaram a percepção de risco do Brasil, sustentando a alta do dólar ante o real ao longo da sessão. Já durante a tarde, o principal catalisador do movimento foi a notícia de que teriam crescido as chances de recuperação judicial da Odebrecht, por falta de acordo com os bancos para renegociar suas dívidas.
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“Isso gerou um impulso pontual no dólar, mas, depois de bater a máxima, a alta perdeu fôlego com a negativa da empresa”, afirmou o operador de uma corretora. A empreiteira disse que não trabalha com a hipótese de pedido de recuperação judicial e que mantém diálogo positivo com bancos.
A alta do dólar ante o real se amparou ainda na acentuada baixa do petróleo e na frustração com novas medidas de estímulo do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão (BoJ). Apesar disso, o ambiente internacional ainda trabalha com elevado nível de liquidez e juros reais negativos nas principais economias desenvolvidas. Esse cenário pode favorecer a chegada de recursos para o Brasil numa teórica busca por rentabilidade, uma vez que a taxa básica de juros, a Selic, é uma das maiores do mundo. O mercado nacional de renda fixa, inclusive, descarta corte da taxa em agosto e diminuiu a aposta de afrouxamento em outubro, após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter mantido a Selic 14,25% e o IPCA-15 ter registrado em julho alta maior que a esperada.
Um dos sinais do apetite estrangeiro por ativos nacionais foi a captação de US$ 1,5 bilhão em bônus com vencimento em 2047 pelo Tesouro, oferecendo aos investidores retorno de 5,875%, disseram fontes ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.
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