O zika vírus ganhou os noticiários do País nas últimas semanas. O aumento do número de casos em diversas regiões – e sua possível relação com a microcefalia – preocupam os órgãos de saúde. Na região Sul ainda não há casos confirmados, porém a presença do mosquito Aedes aegypti em cidades gaúchas leva especialistas a considerarem uma questão de tempo a sua chegada no Estado. A notícia boa é que a prevenção já começou.
O vírus chamado zika apareceu no Brasil no ano passado, provavelmente durante a Copa do Mundo. Por questões de clima e por ter recebido um número maior de asiáticos (região onde havia alta incidência da doença na época do torneio), os primeiros casos foram registrados no Nordeste. Mas como o problema da dengue é real no Rio Grande do Sul, o do zika também pode ser. Isso porque, 168 cidades do Estado tiveram registro do Aedes aegypti nos últimos meses. E como o mosquito é vetor para as duas doenças, basta uma pessoa infectada vir de outra região para o Sul que a nova epidemia poderá se espalhar por aqui.
O doutor em Medicina e professor de infectologia da Unisc, Marcelo Carneiro, que é presidente da Associação Brasileira de Controle de Infecção e Epidemiologia Hospitalar, confirma que os gaúchos devem se preocupar com o zika. “Apesar de ser uma doença com menos gravidade, comparada com a dengue, se trata da nova epidemia do Brasil.” Já houve registros em 14 estados. A doença tem sinais e sintomas bem comuns. “Febre baixa, dor articulada, dor muscular, dor de cabeça, vermelho na pele, inchaço nas pernas e olhos vermelhos. Mas aproximadamente um terço dos casos não apresentam sintoma algum. Além disso, a moléstia é autolimitada, isto é, cura-se sozinha em até sete dias.”
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Até aí tudo bem, nenhum motivo para toda essa preocupação. Mas o problema é que têm sido relatadas complicações neurológicas como Síndrome de Guillian-Barré, microcefalia e encefalite. Mesmo assim, Carneiro ressalta que não existe nenhuma gravidade documentada em qualquer faixa etária. “O alerta é para mulheres grávidas, pelo potencial risco aos bebês. Mas também não é correto dizer que irá ocorrer em todas as crianças”, explica. Essa relação do zika com outras doenças ainda está em estudo. O fato é que, com a proliferação da doença, aumentaram consideravelmente os casos de microcefalia no Nordeste do Brasil.
Carneiro esclarece que a microcefalia é um tipo de má-formação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. “É quando o recém-nascido tem o perímetro cefálico igual ou menor que 32 centímetros.” As causas para isso são várias, desde problemas genéticos, ações de substâncias químicas e radiações e até infecções por bactérias, vírus e protozoários. No momento, conta o especialista, a preocupação é que o zika vírus possa estar relacionado aos casos de microcefalia acima do esperado nos estados nordestinos. “Em 90% dos casos de microcefalia há associação com retardo mental, mas tratamentos realizados desde o nascimento podem melhorar o desenvolvimento e a qualidade de vida da criança.”
Governo estadual pede consciência à comunidade
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O governo gaúcho, mesmo sem casos de zika na Região Sul do Brasil, já estuda formas de prevenir e combater o mosquito transmissor da doença. Para isso, pede o engajamento de toda a sociedade. O governador José Ivo Sartori considera a questão um desafio coletivo e que deve ser enfrentado de forma articulada e integrada. O Rio Grande do Sul registrou neste ano 1.283 casos de dengue, dos quais 1.039 contraídos no Estado.
Como as duas doenças são transmitidas pelo mesmo mosquito, as formas de prevenção são as mesmas. No caso da nova epidemia, apenas fica a importante dica às mulheres grávidas: usar repelentes. No mais, a orientação é a de sempre: evitar o acúmulo de água parada, colocar areia nos vasos de plantas, utilizar telas nas portas e janelas e cuidar com a higiene dos ambientes, principalmente onde se acumula lixo.
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