O escritório de advocacia panamenho Mossack Fonseca, especializado na abertura de companhias em paraísos fiscais, criou 107 offshores para pelo menos 57 pessoas ou firmas já publicamente relacionadas ao esquema de corrupção originado na Petrobras e investigado pela Operação Lava Jato. A informação, divulgada no domingo, 3, no Brasil pelo UOL, pelo site do jornal “Estado de S. Paulo” e pela Rede TV!, deu início no Brasil à série “Panama papers”, reportagem global sobre empresas em paraísos fiscais, conduzida pelo ICIJ, consórcio de jornalismo investigativo formado por 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países, e que teve como base os documentos vazados do Mossack Fonseca.
Os dados foram obtidos pelo jornal alemão Süddeutsche Zeitung e compartilhados posteriormente. O consórcio rastreou offshores ligadas a 128 políticos ao redor do mundo, entre os quais o primeiro-ministro da Islândia, Sigmundur Gunnlaugsson; o presidente chinês Xi Jinping; o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko; o presidente da Rússia, Vladimir Puttin; e dos Emirados Árabes, xeque Khalifa Bin Zayed Bin Sultan al Nahyan; e o rei na Arábia Saudita, H.R.H. Prince Salman.
As informações contidas no vazamento contemplam as atividades da empresa Mossack Fonseca de 1970 e até 2016. Reunidas, formam um vazamento maciço superior ao total combinado de outros escândalos mundiais como o Wikileaks (em 2010), Offshore Leaks, assim como aos documentos de serviços secretos fornecidos a jornalistas por Edward Snowden em 2013. A lista inclui políticos como o presidente argentino Mauricio Macri, mas também ídolos do futebol como o argentino Lionel Messi e o francês Michel Platini. Gerard Ryle, diretor do ICIJ, diz que os documentos tratam do cotidiano de negócios do Mossack Fonseca nas últimas quatro décadas. “Acredito que o vazamento será o maior golpe que o mundo de empresas offshore já sofreu por conta da dimensão dos documentos”, afirmou.
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De acordo com a reportagem, a Mossack operou para pelo menos seis grandes empresas e famílias citadas na Lava Jato, abrindo as empresas offshores, que são ligadas à empreiteira Odebrecht e às famílias Mendes Júnior, Schahin, Queiroz Galvão, Feffer (controladora do grupo Suzano) e Walter Faria, do Grupo Petrópolis. O escritório panamenho era conhecido pelas autoridades brasileiras desde janeiro, quando a Polícia Federal deflagrou a 22ª fase da Lava Jato, cujo alvo foi o Mossack Fonseca. Os investigadores suspeitavam que a empresa teria ajudado a esconder a identidade dos verdadeiros donos do apartamento triplex em Guarujá. Entre os políticos brasileiros citados de forma direta ou indireta, estão o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o usineiro e ex-deputado federal João Lyra (PTB-AL). Um dos casos também está relacionado ao senador Edison Lobão (PMDB-MA). A documentação confirmaria que Cunha controla uma offshore – Penbur Holdings – usada para receber suborno no exterior, segundo o delator da Lava Jato, Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia.
A Rússia acusou ontem ex-agentes da CIA e do Departamento de Estado americano de estarem por trás do vazamento dos documentos conhecidos como “Panama Papers“, segundo os quais pessoas próximas ao presidente Vladimir Putin teriam empresas em paraísos fiscais. “Há outros nomes que figuram (na investigação), mas está claro que o alvo principal destes ataques é o nosso país, nosso presidente”, criticou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, acrescentando que “não há nada concreto ou novo sobre Putin, não há detalhes, e todo o resto se baseia em especulações”.
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