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Doação de vida

Num universo em que nada se cria, nada se perde e tudo se transforma, o homem veio do pó e ao pó retornará. Entre o nascimento e a morte, temos a vida, com todos os seus desafios, alegrias, tristezas, perdas e ganhos. Vivemos por meio de um corpo que alimenta e sustenta um cérebro, estrutura vital e nobre que abriga nossa mente. Ora chamamos de personalidade, ora de alma, mas é inquestionável que a vida está no funcionamento cerebral. Sem atividade cerebral é a morte.

Um corpo sem atividade cerebral é só um corpo. Tem a face e o semblante de alguém amado que encerrou seu ciclo biológico. Mas fora isso não é nada mais que um agrupamento de órgãos, músculos e esqueleto revestido por pele que deixou de ter vida. Mas eis que ali, no crepúsculo do processo vital, ainda há vida para ser doada. Não mais para ela mesma infelizmente, mas para uma ou mais pessoas que agonizam e penam numa fila interminável de doentes que necessitam de um transplante de órgãos.

O diagnóstico de morte encefálica ou morte cerebral é bastante criterioso. Atualmente, seguindo as determinações médicas adequadas, ninguém é dado como morto sem passar por uma série de exames e avaliações por diferentes médicos. Um dos grandes entraves para doação é a fantasia de que o ente falecido ainda estaria vivo por ter coração batendo e respirando com ajuda de aparelhos. Sem função cerebral, não há vida.

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Outro mito que inviabiliza a doação de órgãos se refere às possíveis mutilações ou deformações causadas pela retirada dos órgãos. Um dos pilares da medicina é o respeito ao corpo, esteja ele vivo ou morto. Desde os alunos da anatomia manipulando um cadáver formolizado ao médico que opera a mais delicada das cirurgias, passando pela retirada de órgãos de um doador, o respeito e o cuidado são os mesmos. A cirurgia de captação de órgão segue os mesmos procedimentos de uma cirurgia em pessoas vivas. Na despedida de familiares e amigos durante o velório, não há qualquer restrição por causa da captação de órgãos.

Do ponto de vista religioso, todas as religiões, sem exceções, são favoráveis à doação de órgãos. A base fundamental das religiões é o amor e a fraternidade. Amar é querer o bem do outro e fraternalmente esse outro é meu irmão, visto que somos todos irmãos da mesma espécie. A espécie Homo sapiens.

Não basta você querer ser doador. Na hora de decidir, a palavra final é da família e não do doador. Então oriente sua família sobre doação de órgãos. Se você tem que decidir sobre doar os órgãos de algum familiar que morreu, não deixe as fantasias, o medo e a ignorância impedirem esse derradeiro gesto de amor.

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Ao autorizar a doação de órgãos dos seus pais, filhos, cônjuges e demais familiares, você está doando muito mais que apenas órgãos, você está doando vida. E salvar vidas na dor da perda é algo que engrandece a existência do falecido doador.

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