A campanha Setembro Verde está em andamento em todo o País e chama a atenção para um tema ainda sensível na sociedade brasileira: a doação de órgãos. A iniciativa busca conscientizar a população para a importância de manifestar a intenção de ser um doador, bem como sensibilizar as famílias para que respeitem esse desejo. No ano passado, o Brasil realizou 6.766 transplantes. Mesmo sendo um dos líderes mundiais nessa área, mais de 43 mil pessoas aguardam na fila.
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Em Santa Cruz do Sul, nos últimos três anos, os hospitais Santa Cruz e Ana Nery abriram 16 protocolos de captação. Esse procedimento ocorre quando um paciente entra em estado de morte encefálica e pode ter os órgãos captados. Conforme a presidente da Comissão Intra-Hospitalar para Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott) do HSC, Fernanda Salvi, após confirmada a condição, é feita uma entrevista com a família para verificar a possibilidade de de efetivar a doação.
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“Ali são tratadas algumas questões muito pessoais, se em algum momento em vida a pessoa manifestou essa vontade”, observa. Apesar de a decisão final caber ao cônjuge se a pessoa for casada ou aos familiares com parentesco de primeiro grau se for solteira, Fernanda enfatiza que é preciso considerar todo o contexto. “Às vezes o marido concorda, mas o restante da família é contra, eles têm filhos, então temos que pensar em como vai ser essa convivência depois. É um processo muito difícil.”
Se a resposta for positiva, o paciente é submetido a uma série de exames para verificar as condições de saúde e quais órgãos estão aptos para a captação. Paralelo a isso, a Central de Transplantes é informada de que há um doador em potencial e começa a identificar os possíveis receptores. Fernanda lembra que o número em Santa Cruz é reduzido porque a referência regional para neurologia era Cachoeira do Sul (agora Santa Maria), de modo que os pacientes graves são todos transferidos para lá.
Ainda segundo a enfermeira, que integra a Cihdott do HSC há 12 anos, a situação vem melhorando nos últimos anos. “A população está mais consciente e com mais conhecimento sobre o tema, mas a abordagem ainda é muito difícil.”
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A vice-coordenadora da Cihdott do Hospital Ana Nery, Jaqueline Toillier, reforça o pedido. “Sabemos que ainda é tabu falar sobre doação de órgãos no ambiente familiar, mas é de suma importância expressar essa vontade de ajudar o próximo.”
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A lista de espera tem 2,4 mil pessoas no Rio Grande do Sul
Os dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), atualizados pela última vez no dia 13 de agosto deste ano, mostram que 2.444 gaúchos aguardavam por transplantes. Os rins são a maior demanda, com 1.129 receptores cadastrados, seguidos de córneas (1.084), fígado (155), pulmão (64) e coração (12). Os dados são públicos e constam na página da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, vínculada à secretaria de Estado da Saúde.
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No primeiro semestre deste ano, o Estado teve 404 notificações de morte encefálica. Destas, apenas 116 resultaram em captação de órgãos para doação, o que corresponde a 28,7%. Os motivos para o restante são recusa familiar (27%), contraindicação médica (23,5%), morte encefálica não confirmada (15,3%), problemas de logística (3,7%) e parada cardiorrespiratória (1,7%). Entre as contraindicações estão neoplasias malignas (tumores), doenças infecciosas, condições clínicas ou idade avançada.
No perfil dos doadores efetivos, entre janeiro e junho deste ano, chama a atenção a ampla maioria masculina: 64% são homens e 36% mulheres. A faixa etária que mais doa é a dos 50 a 64 anos, seguida de 35 a 49 e 18 a 34 anos. Os motivos mais comuns para a recusa familiar são a não manifestação do desejo de doar em vida, familiar contrário à doação, integridade do corpo, demora na entrega do corpo e razões religiosas.
Quero ser doador
Todos os mais de 8,3 mil cartórios de notas espalhados pelo Brasil estão aptos a formalizar, gratuitamente e de maneira digital, a vontade dos doadores por meio de documento oficial reconhecido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ainda que esse seja um instrumento valioso para as equipes médicas, a autorização da família é necessária para concluir o processo. Por isso, é fundamental expressar essa intenção no ambiente familiar.
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Entenda
Doador vivo
Pode ser qualquer pessoa juridicamente capaz, atendidos os preceitos legais quanto à chamada doação intervivos, que esteja em condições satisfatórias de saúde e concorde com a doação, desde que não prejudique sua própria saúde. É possível doar um dos rins, parte do fígado, parte do pulmão ou parte da medula óssea.
A compatibilidade sanguínea é primordial em todos os casos. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores em vida. Não parentes, somente com autorização judicial. Nesse contexto, o doador está sujeito a riscos normais de se submeter a uma cirurgia com anestesia geral. Antes do procedimento, entretanto, são feitos exames a fim de minimizar os riscos.
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Quem não pode doar
Não há restrição absoluta para a doação de órgãos. Entretanto, o ato pressupõe critérios mínimos, como o conhecimento da causa da morte e a ausência de doenças infecciosas ativas.
Também não poderão ser doadoras pessoas que não possuem documentação ou menores de 18 anos sem a autorização dos responsáveis.
Idade
O que determina se um órgão é viável ou não para transplante é o estado de saúde do doador. No entanto, algumas condições podem restringir limites de idade em situações específicas.
Para quem vão os órgãos?
Para pacientes que necessitam de um transplante e estão aguardando em uma lista de espera unificada e informatizada.
A posição nessa lista de espera é definida por critérios técnicos como tempo de espera, urgência do procedimento e compatibilidade sanguínea entre doador e receptor.