Ao desembarcar carioca, Christiane Branco Amadeu Barbosa talvez nem imaginasse, na década de 1990, que se tornaria uma propagadora da cultura gaúcha. Em sua retina, fixa cenários do interior à capital do estado e os capta pelas lentes do celular como uma forma de fazer alcançar aos demais as belezas e os elementos que formam o dia a dia do povo gaúcho. É como se o seu olhar quisesse emoldurar e guardar para sempre as cores, os sentimentos e o que a cada dia aprende neste chão, que também aprendeu a chamar de casa.
Escolhida patrona da 28ª Feira do Livro de Sobradinho, onde veio morar quando casou-se, em 1995, Christiane conta que, em sua infância, passou a considerar o hábito da leitura charmoso, ao ver as pessoas que conhecia portando livros e os levando para diferentes lugares. “Quando via as pessoas com livros, eu falava ‘que coisa linda’, ‘que charme’, era um acessório que eu julgava muito chique, charmoso. Quando pequena, imitava os adultos e fingia que chegava em algum lugar com um livro. Em uma dessas devo-o ter aberto e gostado, e aí não parei mais de ler. Aí começa minha paixão pelos livros”, recorda. Hoje, entre tantos gêneros literários, o preferido é a autobiografia, “as histórias de vida das pessoas que despertam curiosidade”.
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Da referência de sua observação externa sobre o hábito da leitura, compreendeu a importância deste para a comunicação, na fluência ao falar, da capacidade crítica, do diálogo em sociedade, e sonhou então em cursar Jornalismo. Mas, quisera o destino que iniciasse o curso de Relações Internacionais na sua terra natal, o Rio de Janeiro, e anos mais tarde viesse a se formar em Direito, pela Unisc de Santa Cruz do Sul. “Comecei o curso de Direito recém-casada, como aluna especial, e depois consegui a transferência. Ia somente dois dias na semana, e como não conhecia a serra e neblina, o Sr. Adenor me levava às terças e quintas. Depois dividíamos carro entre os colegas e, então, chegou a van do Zezeu. Me formei em julho de 2000. Tenho a OAB, mas nunca exerci. Na formatura, meu filho mais velho, Rômulo, já tinha um ano e meio. Vi que o Direito não era para mim e então comecei a cursar Psicologia, mas com filho pequeno não ia todos os dias e achei que demoraria muito a me formar. Eu não deveria ter feito conta”, recorda.
O incentivo que recebeu e a paixão pelos livros também buscou repassar aos filhos Rômulo e Filipe, que ao abrirem um livro conseguem sentir o perfume das páginas assim como a mãe sempre sentiu.
Quanto à escrita, Chris lembra de ser sempre chamada entre a turma de amigas para escrever os cartões de aniversário, protocolos de formatura, e que sempre gostou de fazer redações. “Eu sempre gostei de escrever e as pessoas do meu entorno me estimulavam. Escrevia, mas totalmente sem pretensão. Tinha um jornal no Rio, para o qual, de vez em quando, eu encaminhava matéria. Lembro de uma vez que escrevi sobre a Mocidade. Meu avô achava lindo o que eu escrevia e enviava para o jornal”, detalha.
Escrevendo, formou uma coletânea de crônicas e outros textos, que expressam seu sentimento sobre diversos momentos da vida. Algumas foram publicadas em livros da Academia Centro Serra de Letras, na qual ocupa a cadeira de nº 16, na coluna da entidade junto ao Jornal Gazeta da Serra, e também em livros da Casa do Poeta, de Santa Maria. Outras estão guardadas, com carinho, junto de dezenas de livros adquiridos ao longo dos anos, entre os quais muitos que ganhou como presente.
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Chris relata ainda que queria ser jornalista justamente por gostar de escrever, pensava em trabalhar com a área de redação. Há alguns anos foi chamada para uma entrevista em Sobradinho e, nos bastidores, conversando com o radialista João Vianei Zasso de Castro, este a incentivou a escrever crônicas. “Desafiada pelo João, comecei a me forçar a fazer esse exercício de escrever, e quando vi estava escrevendo, criei o hábito”, recorda, mencionando que algumas de suas crônicas foram veiculadas no rádio e publicadas no jornal. Em 2015, através de Eda Bridi, foi convidada a participar de uma reunião da Academia Centro Serra de Letras, onde ingressou como membro naquele ano. “Aceitei o convite com muita alegria. Me sinto muito honrada”, destaca.
Para além dos textos, nos últimos anos também tem captado com imagens o cotidiano e as belezas da região e dos caminhos por onde percorre. “Eu queria agradecer o carinho que eu recebi aqui. Tinha tanta coisa boa, bonita, que meu pessoal do Rio nem fazia ideia. Então resolvi criar um perfil no Instagram para falar do que tem aqui. Quando vim para cá, foi muito difícil me adaptar, mudar meu olhar. Todo verde para mim era mato. Levei alguns anos para o meu olhar se acostumar a essa realidade, e hoje eu acho lindíssima. Então o perfil ‘Prenda Carioca’ é uma homenagem ao Centro Serra, que não fica limitado apenas a Sobradinho”, ressalta.
Chris ou Prenda Carioca, como também é conhecida, já tinha a ideia da página, mas necessitava de um nome. “Me lembrei que o Ivan Solismar Trevisan, atual vice-prefeito, meu amigo desde que cheguei aqui em 1995, escreveu para mim em 1997 um poema com o título ‘Prenda Carioca’. Guardo desde aquela época o papel original com a escrita. Fiquei emocionada quando recebi, pois falava dessa minha vinda a Sobradinho, mas naquela época não sabia o que reservava o futuro, recém havia chegado. Achei lindo o presente e guardei. Mas o tempo mostrou que aquilo ali parecia que já estava predestinado. Eu realmente fiquei aqui, adotei essa terra, me tornei metade gaúcha, metade carioca. E aí, pensando no nome, me lembrei do Prenda Carioca, uma carioca olhando o Rio Grande do Sul”, explica.
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Para além da literatura e da fotografia, outras formas de cultura sempre estiveram no radar da carioca. O samba e sua Mocidade Independente de Padre Miguel são exemplos do amor que fez a aproximá-la e tornar-se integrante de uma nova escola, a Mocidade Independente Vera Cruz. As cores verde e branco reluzem na camiseta quando desce a Avenida João Antônio no Carnaval Fora de Época de Sobradinho ou quando passa pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro. Também o jeito irreverente e único, além da curiosidade e de estar aberta ao mundo, a levam a conhecer outros costumes, danças, festas, tradições.
Hoje, 30 anos depois de ter pisado aqui pela primeira vez, também lança sua voz e o lado comunicadora nos microfones da Rádio Gazeta FM, onde apresenta o programa ‘Alô, Chris’, abordando diferentes temáticas e utilizando do espaço para divulgação e propagação da cultura.
Sobre a homenagem ao ser escolhida patrona da Feira do Livro 2024 de Sobradinho, Chris revela que faz uma viagem ao passado. “Tivesse eu ganho no Rio de Janeiro as homenagens e oportunidades que ganhei aqui, talvez não obtivessem esse sabor. Lá eu era filha, neta, sobrinha… Em 1995 era só eu e o Lissauer, e me orgulho demais de todos os momentos em que me superei para hoje estar vivendo essa emoção jamais imaginada. Cheguei aqui de coração aberto e de coração aberto fui recebida. Minha história por aqui é sim sobre coração… Revisito minha memória e me lembro de todos que me acolheram com um sorriso, uma palavra, um carinho, e os convido a me dar um abraço nesses deliciosos dias de feira, onde o livro é a grande estrela da festa. Fica também o convite a toda a população e, sobretudo, às crianças: a amizade com os livros deve acontecer na infância. Obrigada, Sobradinho!”, enfatiza.
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