Até o início da adolescência, vivenciei o mundo por meio da língua alemã. Assim como foi para a maioria dos moradores da Alte Pikade. Na escola, o idioma pátrio avançava lento, aprendia tudo pelo método “papagaio”, decorava tudo. Quando entrei na quarta série, um novo professor assumiu a turma. Naquele ano, fui reprovada na disciplina de língua portuguesa. Lembro nitidamente de quando mostrei, toda faceira, meu boletim de final de ano ao meu padrinho. Ele o olhou, olhou meio sem jeito para mim, e me disse que eu havia sido reprovada: “Du bist aber durchgefall’”. E eu nem conhecia o significado da palavra “reprovada”.
Minha persistência me levou a ser, mais tarde, aprovada na “Admissão ao Ginásio” do renomado Colégio Mauá. Entrei lá com uma bolsa de estudos, intermediada pelo deputado Silvérius Kist. Dediquei-me com afinco ao aprendizado da língua oficial, mas a língua materna continuou fazendo parte de minha vida (também estava presente no currículo escolar). Apesar dos preconceitos e da rejeição a que fui submetida por colegas do mundo urbano, por vir do interior e pelo meu português rudimentar, eu persisti no aprendizado dos dois idiomas.
No final de 1974, terminei o segundo grau, e prestei vestibular na Universidade Federal de Santa Maria em janeiro de 1975. Fui aprovada para a Licenciatura Plena Português e Inglês e respectivas literaturas. Meu noivo, naquele tempo, estava no comando da CRT de Santa Maria. Casamos em fevereiro daquele ano, e em março mergulhei no mundo acadêmico. A escolha por Letras ia ao encontro do meu desejo de superação de minhas limitações linguísticas.
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Na universidade, não sem muitos esforços e dedicação, fui avançando no domínio do idioma. Lá não havia Licenciatura para a língua alemã, mas no currículo havia diferentes línguas ao dispor dos estudantes de Letras e de Comunicação Social. Óbvio que escolhi alemão. A disciplina não tinha mais nada a acrescentar ao que eu já sabia.
Em dado momento foi aberta seleção para monitoria na disciplina de Língua Alemã. A professora Helga Prade pretendia cursar doutorado na Alemanha e precisava de apoio. Um colega meu, pastor de Agudo, e eu nos inscrevemos. O resultado da prova foi bem apertado: ele ficou com 9 e eu com 9,5. Pronto. Meu alemão começou finalmente a ser valorizado. Quando chegou a hora de a professora se ausentar, recebi a incumbência de dar as aulas de alemão no curso de Letras e no de Comunicação Social. Meus relatórios eram assinados por meu professor de inglês. Naquele tempo, a professora Prade, que também fazia parte do Instituto Cultural Brasileiro-Alemão de Santa Maria, me convidou para ministrar aulas naquela instituição. Enquanto professora do ICBA, fui contemplada com uma bolsa do Goethe-Institut para cursar um semestre intensivo de Lehrerausbildungskurs em Belo Horizonte em 1979. O curso era uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais. Esse foi apenas o começo de minha longa caminhada como professora de Língua, Literatura e Cultura Alemã e também de língua portuguesa.
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Por que estou a rememorar tudo isso? Foi um convite da Instituto Cultural Brasileiro-Alemão que me fez voltar a esse passado. Neste mês de agosto, a instituição celebra 60 anos de atividades em favor da língua e da cultura alemã. Nesse contexto, fui uma das pessoas que atuaram nas primeiras décadas naquela instituição.
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