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Do legado cultural: a música – die Musik

No contexto dos 200 anos da imigração alemã no Brasil e dos 175 anos em Santa Cruz, nossa cidade foi agraciada com um maravilhoso concerto da Ospa – Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, que organizou um repertório com grandes clássicos para serem executados em nossa catedral São João Batista. A divulgação desse evento reavivou em mim memórias de minha infância e me motivou a volver um olhar para tradição musical vinda com os imigrantes alemães. Entre os grandes gênios da música clássica germânica, a Ospa selecionou composições de Johann Sebastian Bach (1685- 1750); Ludwig van Beethoven (1770-1827); Richard Georg Strauss (1864-1949); Johannes Brahms (1883-1897); Georg Friedrich Händel (1685-1759); Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791); Jakob Offenbach (1819-1880).

Aqui em Santa Cruz havia sido fundada já nos idos de 1898 a primeira orquestra, a Estudiantina. Fruto de uma inciativa de Helmuth Schütz, Theodor Neumann, Adolf Iserhardt e Johann Ochs. Grande sucesso a orquestra angariou a partir de 1918. Naquele ano, o Club União assumiu o Cine Teatro Coliseu e a orquestra fazia a trilha sonora ao vivo para os filmes que naquele tempo eram mudos. Os músicos alternavam os ritmos de acordo com o que estava sendo projetado na tela. Outra orquestra famosa foi a Orquestra de Concertos Lyra, fundada em dezembro de 1948, com a participação de 38 integrantes.

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A música faz parte da alma germânica e acompanhou os imigrantes à nova Heimat. Consigo trouxeram instrumentos musicais clássicos, como o violino, a cítara, o acordeão, o trompete e o trombone. Em Rio Pardinho, o primeiro trombonista foi Emil Lau; Eduardo Lau foi o primeiro maestro de banda musical por lá. Aliás, a família Lau sempre foi fortemente ligada à música. Até mesmo a cítara faz parte do seu cultivo musical.

Em 1899, chegou a Santa Cruz e a Rio Pardinho o pastor alemão Fritz Klasing. O reverendo foi avô do renomado professor Wolf Engels, da Universidade de Tübingen. Klasing importava violinos da Alemanha, entre outros objetos culturais e equipamentos que favoreceram o cultivo da música e da leitura e o desenvolvimento da imprensa. Em Rio Pardinho, oferecia aula de violino para crianças. Também na Deutsche Schule, atual Colégio Mauá, ensinava violino. A propósito, Mittenwald é o berço dos violinos na Alemanha. A cidade está encravada aos pés das Karwendelgebirge, as montanhas Karwendel, bem ao sul do estado da Bavária, próximo à fronteira com a Áustria, e conta com o museu do violino. Visitei a cidade por duas vezes e também o museu.

O violino e a tradição musical dos imigrantes foram legados a descendentes, de modo que entre nós há cultivadores desse e de outros instrumentos da tradição musical germânica. Quem não lembra do ex-colunista da Gazeta do Sul, Ruy Armando Gessinger? Ele herdou o talento e o gosto pelo violino de seu avô Rudolf Gessinger, que residia em Boa Vista. Ruy toca violino primorosamente. Seu filho Rudolf, atual colunista do jornal Gazeta do Sul, também segue a tradição familiar. Outro filho de Ruy – Rafael Gessinger, presidente da Comissão Oficial do Bicentenário da Imigração Alemã – é amante da música clássica e entoa maviosamente cantos clássicos e também os executa ao piano. Entre os cultivadores da música clássica ressalto também o talento de Luís Eduardo Kaufmann, que executa música clássica com maestria ao violino, e a talentosa Norminha Schütz, que por mais de 50 anos foi professora de piano. Muitas pessoas aprenderam com ela a tocar piano ao longo de décadas.

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A programação musical da Ospa reavivou em mim a lembrança de um canto de Johannes Brahms, que a minha wowa Lídia entoava na minha infância, quando éramos convidados a nos recolhermos ao descanso noturno. Trata-se de um poema popular que Brahms envolveu com sua música. Faz parte de minhas canções preferidas:

Guten Abend, gut‘ Nacht,
mit Rosen bedacht,
mit Näglein besteckt,
schlupf unter die Deck:
Morgen früh, wenn Gott will,
wirst du wieder geweckt.

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Guten Abend, gut’ Nacht,
von Englein bewacht,
die zeigen im Traum
dir Christkindleins Baum:
schlaf nun selig und süß,
schau im Traum ’s Paradies.

Obs.: Abend se refere à primeira parte da noite, enquanto Nacht designa a segunda, a madrugada.

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Guilherme Bica

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Guilherme Bica

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