Três meses sem repasses e uma dívida que acumula R$ 800 mil. Para o Hospital Santa Bárbara, de Encruzilhada do Sul, esse valor representa não só a maior crise já instalada na instituição, mas a ameaça de fornecedores em não mais entregar produtos essenciais, além do atraso no salário dos funcionários. “Passamos a nos tornar maus pagadores porque o Estado simplesmente não honra seus compromissos e sequer promete um cronograma para quitar essas dívidas. É desolador”, desabafa o vice-presidente do Sindicato dos Hospitais Filantrópicos do Vale do Rio Pardo, Celso Teixeira. O cenário que acomete o hospital do município tem se tornado corriqueiro entre as casas de saúde do Estado.
Conforme estimativa da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, o passivo do Piratini com a área da saúde no Estado já soma R$ 655 milhões. Parte desse valor – cerca de R$ 1,7 milhão – deve ser enviado ao Hospital Santa Cruz (HSC). Em entrevista à Rádio Gazeta na tarde desta segunda-feira, 12, o diretor Vilmar Thomé informou que o acumulado se refere ao atraso no repasse dos últimos três meses “São valores de programas como o Pronto Atendimento (PA) e a regionalização dos partos”, explicou.
Outro atraso que também compete ao Estado e alcança R$ 2,25 milhões é a verba do IPE Saúde. Ou seja, a dívida do governo com o HSC é de quase R$ 4 milhões. Segundo Thomé, não se pode admitir o discurso que o governo vem adotando nas entrelinhas: “devo, nego e não sei quando vou pagar.” “Há um débito e a organização devedora precisa indicar como vai pagar”, cobrou. Thomé acrescentou que a falta de cronograma do governo agrava situações como pagamento do 13º salário, férias e mesmo a quitação de produtos básicos como medicamentos.
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Teixeira, que também é gestor do Hospital Santa Bárbara, sente o mesmo diante da falta de perspectivas. Em sua análise, a primeira área que será afetada é a de cirurgias eletivas. “Por enquanto a agenda está normal, mas se até o fim do ano continuar assim, seremos obrigados a economizar anestésicos e executar somente procedimentos de urgência.” Segundo Teixeira, as instituições filantrópicas representam 70% da demanda de saúde no Estado.
Em contraponto à mobilização realizada nos últimos dias pelos hospitais filantrópicos e santas casas, o Estado informou no fim da tarde de ontem, via nota oficial, que efetuou o repasse de R$ 54 milhões correspondentes à integralidade do recurso federal transferido ao Estado para custeio de serviços prestados ao SUS. Entretanto, o vice-presidente do Sindicato dos Hospitais Filantrópicos do Vale do Rio Pardo e membro da diretoria da Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes, Religiosos e Filantrópicos, Celso Teixeira, questiona a informação. “É mentira. Esse valor é menos do que a União enviou. Ficou recurso em caixa.”
Segundo Teixeira, para o Hospital Santa Bárbara foi enviado somente a quantia de R$ 90 mil. “O que é R$ 90 mil para quem precisa de R$ 800 mil? Eles só nos enrolam. No máximo, vamos quitar alguns fornecedores que já estejam ameaçando interromper o serviço.”
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O governo do Estado acrescentou que nos próximos dias deverá ser informada a data de pagamento dos incentivos estaduais em aberto, que correspondem ao atraso de duas parcelas, totalizando R$ 130 milhões. “Não se trata de uma escolha simples: deixar o funcionalismo sem seus rendimentos ou garantir a manutenção dos serviços de saúde”, disse na nota.
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