Quando saio às ruas, impressiona-me o universo de plugados em telefones celulares, fones de ouvido e microfones. Concomitantemente, surpreende o abandono da privacidade, substituída pela devassidão das intimidades ditas em altas vozes.
E me advêm óbvias e superficiais perguntas: serão tantos os assuntos pendentes e urgentes? Tantas novidades para contar e ouvir? O que poderia ser tão interessante que demande tanto estardalhaço, e que não possa esperar pelo ambiente pessoal, privado e adequado?
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Para refutar minhas provocativas dúvidas – que sugerem prévias convições, admito –, “espicho” os ouvidos para encontrar nas conversas alheias razões valiosas e importantes.
Em vão! Regra geral, confirmam obviedades, futilidades e irrelevâncias. Logo, ainda que limitada e indireta pesquisa, sugere pensar que predomina uma carência pessoal e afetiva, de conversar e de ser ouvido, ainda que à toa? De ser lembrado e amado, talvez?
Mais. Seria como se fosse uma avalanche de sentidos e falas, à procura de um nexo, revelador de sentimentos ocultos e retraídos? Que poderia ser em torno da própria existência, desconfiado de que a vida é sem sentido?
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Por derradeiro, para além do instrumento (celular) e do meio digital, há como ignorar o fenômeno das redes sociais, que “materializam” o escancaramento da privacidade pessoal e alheia através de “prints”, fotos, hábitos e relacionamentos?
A propósito, reproduzo uma fala histórica, que se tornou simbólica dos tempos atuais. Ao falar numa formatura, o então presidente do Google (entre 2001 e 2011), Eric Schmidt, disse aos graduandos que eles precisam encontrar as respostas que realmente importam, vivendo uma vida mais analógica.
Como exemplo, mas em modo de descontração e bom humor, citou que “as pessoas de sua geração passavam a vida tentando esconder seus momentos embaraçosos, enquanto que a geração atual grava e publica esses momentos nas redes sociais”.
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Literalmente, disse o seguinte: “Desliguem os seus computadores. Vocês precisam mesmo desligar seus telefones e descobrir tudo que há de humano a sua volta.”
Estava estimulando e encorajando os jovens a minimizar o mundo virtual e (re)criar relações humanas. Afinal, já há evidências suficientes acerca da descaracterização da essência do relacionamento interpessoal, resultando em esvaziamento rápido e exagerado de alguns sentidos humanos.
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