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Repercussão

Distribuição de livro às escolas gera polêmica em Santa Cruz

Foto: Rodrigo Assmann/Banco de Imagens

Diretora da Escola Ernesto Alves, Janaina Venzon, fez publicação sobre a obra

Repercute em Santa Cruz do Sul um vídeo gravado pela diretora da Escola Ernesto Alves, Janaina Venzon, sobre a distribuição do livro “O Avesso da Pele” (2020), de Jeferson Tenório. A obra foi entregue na instituição, integrando o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), que avalia e disponibiliza obras didáticas e literárias às escolas públicas das redes federal, estadual e municipal. O romance, que aborda centralmente o racismo estrutural, foi criticado duramente pela diretora por passagens que contém palavras de baixo calão e explicitam o ato sexual entre personagens.

O livro, de 208 páginas, integra o acervo do PNLD de 2021, e é destinado aos alunos do Ensino Médio. A obra é vencedora do Prêmio Jabuti na categoria “Romance Literário” em 2021, além de ter tido direitos vendidos para países como Portugal, Itália, Inglaterra, Canadá, França, México, Eslováquia, Suécia, China, Bélgica e EUA. Janaina Venzon avalia que o material é impróprio e a disponibilização da obra nas escolas é “inadmissível” (ouça a entrevista na íntegra abaixo).

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A crítica

Indignada com o recebimento da publicação, a diretora do Ernesto Alves, Janaina Venzon, compartilhou um vídeo onde mostra um trecho da obra de Jeferson Tenório. A publicação repercutiu nas redes sociais e levantou a questão na cidade. Segundo ela, os livros a serem trabalhados no ano letivo são recebidos no fim do ano anterior – neste caso, em dezembro de 2023. Nesta semana, ao iniciarem a avaliação dos materiais, ela teria sido surpreendida com as palavras utilizadas na obra. “Então veio ao meu conhecimento que teria vindo esse livro, com algumas palavras de um vocabulário bastante vulgar. A gente entende que esses livros podem ser comprados em livrarias, mas trabalhar dentro de uma escola, de uma instituição de ensino que tanto preza pelos bons costumes e valores? Isso é inadmissível”, disse em entrevista ao programa Radar, na Rádio Gazeta 107,9, na tarde desta sexta-feira.

Janaina avalia que o material não deve ser trabalhado em sala de aula, mesmo que com os alunos mais velhos. “A escola é a extensão da casa de cada estudante, é na escola que a gente aprende os valores, a gente aprende a ler, a escrever, a calcular, a interpretar, a raciocinar, a ter uma ideologia, no sentido de ter a sua própria opinião. A gente respeita isso. A escola é o lugar também de boas maneiras”, declarou. “Por isso nos causa bastante indignação. Eu como gestora, como educadora, e também mãe de um filho do ensino médio. Me causa muita estranheza e muita tristeza em receber um material como esse.”

Segundo ela, dentro do PNLD, os materiais didáticos são escolhidos pela instituição – obras direcionadas às disciplinas, com conteúdo didático -, mas as obras literárias, não: “Não sei quem comprou, quem autorizou, isso também não me interessa. Me interessa que a obra veio para dentro de uma escola”.

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Obra foi alvo de polêmica em Santa Cruz do Sul | Foto: Divulgação

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Sobra a obra, afirmou que o autor poderia ter utilizado palavras diferentes. “O livro trata de um romance sobre identidade e complexo de relações raciais”, disse, relatando parte da narrativa da história. “Até aí tudo bem, mas porque trabalhar com palavras com vocabulário tão sujo? É um vocabulário que a gente não quer dentro de uma escola. Bem pelo contrário. A gente não quer que eles saibam o que essas palavras pejorativas são. A gente não cultiva isso dentro de uma escola. Eu acredito que o escritor deveria ter cuidado nas palavras. Claro, se é para ser assim, então quem escolheu o livro e mandou para as escolas deveria analisar antes. A questão é ser trabalhado isso dentro de uma instituição de ensino.”

A opinião é compartilhada por apoiadores da crítica de Janaina. Tendo atuado por 54 anos na área, uma professora de educação artística aposentada, de 76 anos, procurou a Gazeta do Sul para falar sobre o assunto. Preferindo não se identificar, junto ao esposo, de 78 anos – professor universitário aposentado, que atuou por 42 anos no Rio de Janeiro -, disse que “tem que colocar a boca no trombone”. “Como um professor vai trabalhar um livro como este em sala de aula? É um material pornográfico”, declarou.

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O autor

O autor e professor Jeferson Tenório foi o primeiro escritor negro e o mais jovem a ser homenageado com o patronato da Feira do Livro de Porto Alegre, na 66ª edição, em 2020. Nascido no Rio de Janeiro em 1977 e radicado em Porto Alegre, Tenório é formado em Letras pela UFRGS. Ainda é mestre em literaturas Luso-africanas pela UFRGS e doutor em Teoria Literária pela PUC-RS.

Jeferson Tenório é o autor de “O Avesso da Pele” | Foto: Carlos Macedo/Divulgação

Ouça a entrevista na íntegra:

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