Sou jornalista há mais de 40 anos, seguindo uma vocação que brotou nos concursos de redação em que a facilidade de redigir permitiu a conquista de algumas medalhas. Mais tarde, contrariando a vontade do pai – contabilista –, fugi do risco de tornar-me servidor do Banco do Brasil. Mesmo a contragosto, prestei dois concursos.
Como “escrevedor de história” – cada reportagem é um ”causo” – sempre me deparei com um ou outro profissional de comunicação que não resistiu às tentações políticas e ideológicas, mas eram exceções. O mesmo acontecia no âmbito esportivo. Muitos amigos ficam chocados quando escrevo da vergonha que sinto de colegas que outrora foram motivo de grande admiração, mas que hoje cederam ao fanatismo típico das redes sociais. A imparcialidade é uma conquista difícil, que deve ser perseguida obsessivamente.
Ser imparcial não significa renuncia à opinião própria. É, apenas, dar ao ouvinte/leitor/telespectador/internauta o direito sagrado de conhecer “os dois lados” da história para que ele possa fazer o seu próprio julgamento. Do contrário, jamais teremos jornalismo. Teremos exercício partidário baseado em simpatias. Isso é ofensivo à inteligência e ao preceito de respeito ao público, que não precisa ser levado a cabresto.
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A divisão político-ideológica que se instalou no país contaminou a imprensa e torpedeou de morte a sua credibilidade, preceito perseguido por todos os veículos empenhados em informar. Fiel a meus princípios e origem, não defendo uma “mídia amiga”, que só fale a favor de quem admiro. O contraditório é fundamental, deve ser preservado como valor inegociável, sagrado até.
Causa revolta a tendência exacerbada de só elogiar ou apenas encontrar defeitos em personagens públicos, instituições e ideias. É uma idiotice imensurável. A convivência com os contrários deveria inspirar e construir novos conceitos e soluções para problemas que afligem o país.
Meu pai foi vereador em Arroio do Meio em 1968 e pertencia a um partido de oposição ao poder. O prefeito, que era seu amigo pessoal e adversário político, com frequência vinha à nossa casa para discutir projetos para melhorar a vida dos conterrâneos. Ouvia sugestões, fazia aperfeiçoamentos, exercia a democracia em toda plenitude, apesar dos tempos duros.
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Sim, eram anos difíceis. De restrições e de comunicações restritas às cartas escritas à mão, ao rádio e à tevê em preto e branco, ainda incipiente. Talvez por isso o debate saudável, respeitoso e com conteúdo construtivo predominava, distante da radicalização que pouco constrói. Muitos falam mal do passado. Mas lá, tudo era muito diferente da “grenalização” que transforma discussão em briga, adversários em inimigos e opositores em alvos a serem dizimados. Lamentável!
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