“Pessimista é um otimista bem informado”, reza um dos tantos ditados que compõem o imaginário popular. Confesso que tenho lutado com força nos últimos dias contra o desânimo. Em 63 anos de vida, isso nunca tinha acontecido. Ingênuo, talvez, sempre acreditei muito em algumas premissas de vida para crer nas pessoas, no mundo mais justo e humano, em melhorias e avanços que pudessem aperfeiçoar os habitantes do planeta.
Os recentes acontecimentos que assolam o nosso Rio Grande do Sul me fizeram rever conceitos que, neste momento, parecem quimeras muito distantes da realidade. Algo pueril, piegas, de alguém que por décadas acreditou na humanização ao longo do tempo.
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Em setembro, ou seja, há oito meses, a primeira das três enchentes devastou o Estado. Foi um fenômeno que fez parecer a histórica tragédia de 1941 pouco mais que um alagamento até então sem precedentes. Enchente que até então povoou a conversa com pais e avós que recitavam episódios de destruição, desespero e ineditismo.
De lá para cá, os atingidos pelas águas estão à beira de justificada insanidade. Afinal, iludidos por promessas demagógicas tinham a certeza de que teriam casa, comida e emprego, uma vida, enfim. Mas apenas uma fração das juras de recuperação de quem deveria garantir a retomada da normalidade se transformou em realidade. As águas voltaram e voltaram uma terceira vez. Nada mudou, nem mesmo os inflamados discursos proselitistas de que todos teriam “uma casinha para cada um”.
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Paralelamente à insensibilidade oficial, vemos a cada dia gente explorando vizinhos, clientes e amigos através da cobrança exorbitante no preço de insumos necessários ao cotidiano como água, comida, aluguel. Estes enxergam em cada vítima a oportunidade de lucrar e, consequentemente, fortalecer a fama de que “brasileiro gosta de levar vantagem em tudo, certo?”.
Sim, não desconheço que temos voluntários incansáveis, empresários comprometidos com o social, comunicadores honestos levando informação (e menos opinião) e ONGs empenhadas em minimizar as dores de quem “mora” em abrigos. Até quando esta gente terá paciência de esperar por “uma casinha para cada um”? Você, prezado leitor, sinceramente consegue se imaginar vivendo em um ginásio com 300 pessoas estranhas, desesperadas, sem esperança e esperando o que dificilmente acontecerá no mundo real?
Desculpem o pessimismo. A repetição da tragédia traz de diferente apenas a legião de atingidos. Todo resto é a sucessão de entrevistas coletivas infladas pelo ego de quem enxerga, na dor dessa multidão, trampolim para suas pretensões pessoais. Corta o coração a gigantesca diferença entre discurso e prática, de promessas e verdade. E de empatia com o descaso que sangra o coração.
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