Chegamos ao final de uma semana de intenso trabalho jornalístico associado à cobertura da realização da 10ª Conferência das Partes (COP-10) da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco. De todas as edições em que estive presente, esta sem sombra de dúvida foi a mais turbulenta. Nas três conferências anteriores, para ilustrar, obtive credenciamento, sem dificuldades, para atuar como jornalista. Nesta, havia seguido o mesmo protocolo de inscrição, dentro dos prazos, considerando ainda o período anterior que fora estipulado, de 20 a 25 de novembro de 2023. Com o adiamento naquela ocasião, segui aguardando pelo aval no credenciamento. Que nunca veio.
Colegas de imprensa da região que haviam feito o mesmo procedimento, enquanto isso, haviam tido retorno. Negativo. Mas para mim nenhuma mensagem fora enviada. E, assim, foi necessário, com a proximidade da data, providenciar reservas de passagens aéreas e de hospedagem.
Ainda sem indicativo de status para acessar o centro de convenções, cheguei ao Panamá. No domingo, me agilizei a ir até o local do evento. Ali me informaram que o meu status estava pendente. Na segunda-feira pela manhã, novamente me apresentei no guichê. Seguia pendente. E, naquela manhã, toda a comitiva de líderes da cadeia produtiva também recebeu a negativa de credenciamento, o que motivou muita reclamação, pois o grupo era integrado, entre outros, por deputados federais e estaduais e pelo secretário de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, Ronaldo Santini. O Secretariado da Convenção-Quadro foi irredutível e taxativo em sua leitura de que essas pessoas tinham vínculo ou estavam a serviço da indústria do tabaco.
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De minha parte, manifestei na terça-feira, em encontro com o embaixador brasileiro, Carlos Henrique Moojen de Abreu e Silva, o fato de que seguia sem retorno sobre meu pedido de credenciamento. A secretária executiva da Comissão de Implementação da Convenção-Quadro no Brasil (Conicq), Vera Luiza da Costa e Silva, foi instada a, no dia seguinte, trazer informação sobre essa pendência. Questionada sobre as razões para que a imprensa da região do tabaco fora excluída, argumentou que a maioria dos profissionais se inscrevera fora do prazo. O que não era verdade. E o simples fato de meu status junto ao Secretariado ser “pendente” evidenciava isso. Do contrário, nem estaria sendo considerado.
O resultado é que, a partir da cobrança por retorno, finalmente no final da tarde de quarta-feira, metade do evento, recebi e-mail. Negando o ingresso. E pedindo escusas pois teria havido equívoco em não me dar retorno.
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A comitiva brasileira havia entregue ao embaixador nota de repúdio em relação à exclusão da imprensa do Sul do Brasil. Moojen disse que buscou uma explicação do governo do Panamá, que afirmou nada poder fazer, pois a decisão cabia ao Secretariado da Convenção-Quadro.
O que Moojen não compreendeu é que tanto eu quanto os demais profissionais da imprensa estávamos interessados em uma satisfação vinda não do governo panamenho, ou sequer do Secretariado. Pedíamos (e ainda pedimos) uma satisfação do governo brasileiro. Afinal, como este assiste de forma tão passiva a tal tratamento, e, de certa forma, o avaliza, sem sequer se escandalizar? Afinal, o Brasil tem voz ativa na Convenção.
Na quarta-feira, quando estive pela última vez na área de credenciamento, um dos atendentes, constrangido, me segredou: “Desculpa, senhor, mas não vai ser possível. Quem impede de liberarmos a sua credencial são principalmente pessoas de seu próprio país, e que são muito influentes no Secretariado”. Pobre país, o nosso, com tal tipo de influência.
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