Todo mundo preocupado com a possibilidade de a inteligência artificial substituir os seres humanos. Com um mundo em que, após décadas de vislumbres da ficção científica, as máquinas escrevam, pesquisem, calculem, pensem e decidam por nós. E razões para ter receio não faltam. A julgar pela quantidade de gente que fala sem pensar – refiro-me a discussões públicas – ou deixa para raciocinar depois de dar sua sagrada opinião, o ChatGPT já nasceu com vantagem.
Pensar é um ato individual, mas a adesão a pacotes de ideias mastigadas é incessante. Frases prontas, clichês, verdades sob encomenda, termos da moda repetidos à exaustão por qualquer pretexto, respostas certeiras para perguntas que ninguém fez, adoração de ídolos: esse é o estado do debate público hoje em dia.
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Todos são “seguidores” de alguém, até sem querer. Entro no YouTube e jorram como cascata vídeos de influenciadores que me dizem o que pensar. A “interpretação correta” do filme X, o “verdadeiro significado” do livro Y, o que “está por trás” dos movimentos mais recentes da política internacional, tudo didaticamente explicado. Para ter uma posição firme sobre qualquer tema, basta absorver conteúdos na internet e depois repeti-los como se fossem seus. É o que muitos fazem. Esses são os mais fiéis seguidores, mas quem se limita a seguir pode facilmente ser trocado por uma máquina. Na falta de inteligência natural, a artificial é bem-vinda.
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“Mas quem pensa, então? Você?” Só às vezes. Por exemplo, quando tenho que escrever e sou forçado a raciocinar. Pensar não é um lazer, dá trabalho; como dizia Hannah Arendt, é uma atividade. E exige tempo, algo escasso numa época de imediatismo, em que tudo é para anteontem. O imperativo da velocidade que o escritor argentino Ernesto Sábato (1911-2011), no livro A resistência, definiu como “vertigem civilizacional”.
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“Talvez a aceleração tenha chegado ao coração, que já lateja num compasso de urgência para que tudo passe rapidamente e não permaneça”, observa. Em vez de jogar palavras na correnteza, talvez seja melhor, em certos momentos, ficar à margem. Exercer o direito de permanecer em silêncio.
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