A vida é feita de pequenas alegrias, mas que parecem momentos repetidos e, por isso, muitas vezes nos impede de conferir o devido valor. No último fim de semana, perdi um amigo de 40 anos. Ele tinha os mesmos 57 anos de idade.
Na época de colégio era conhecido como uma espécie de animador da turma, coisa bastante comum em todo grupo social. Esse amigo era incansável na criação de sacanagens, como colocar um rato na gaveta da professora, amarrar um rojão num gato, esvaziar bolas de vôlei antes das aulas de Educação Física.
Graças à energia inesgotável, era frequentador assíduo do chamado SOE – Serviço de Orientação Educacional, para onde eram levados os alunos que “aprontavam”, os problemáticos.
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Ao pé do caixão, na sexta-feira passada, estava sentada a mãe ladeada pelo irmão mais velho e as irmãs. A mãe, ao me ver, não se conteve;
– É… morreu um grande esculhambador!
Era verdade. Pensei nas inocentes transgressões que cometíamos numa pequena cidade do interior do Estado onde só havia festas nos fins de semana. Nos dias úteis era aula e, de vez em quando, um futebol de salão. O que parecia um quase crime eram reles brincadeiras diante do que vemos hoje.
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Como sempre acontece nos momentos de perda, um filme passou em minha cabeça, exibindo companheiros, episódios, incidentes e momentos de grande alegria que integram minha biografia. A distância de Porto Alegre, onde moro, até Arroio do Meio, onde ocorria o velório, serviu para refletir sobre perdas, conquistas, ansiedade e eterna insatisfação diante das frustrações da vida.
Na época de redes sociais onipresentes é uma tarefa corriqueira reencontrar antigos afetos. A busca é quase um passatempo em que as dificuldades são facilmente contornadas mediante um mínimo de conhecimento de tecnologia.
O desafio – na verdade – é sair da chamada “zona de conforto”, romper o cansaço do estresse do dia a dia que nos transforma em prisioneiros do smartphone, fãs obcecados de séries do Netflix e consumidores vorazes de pizza com refrigerante no sofá de casa.
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O velório do meu velho amigo serviu também para reencontrar pessoas que ocupam lugar especial em minha vida. Fui tomado por um misto de profunda melancolia e, ao mesmo tempo, satisfação em rever personagens emblemáticos. Estou ficando velho, saudoso, nostálgico e cada vez mais agradecido pela vida que tive.