Tem dias de trabalho em que as pautas tocam a gente. Na última sexta-feira de maio foi assim. Começava o Rede Social, programa que apresento com o meu amigo Leandro Porto na Rádio Gazeta FM 107,9. Por conta de uma pauta externa no mesmo horário do Rede, o Porto se deslocou e eu conduzia sozinha e despretensiosamente aquela edição.
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Já sabia dos assuntos que seriam abordados. Uma entrevista tratava de uma disciplina do Curso de Direito da Unisc que tinha o objetivo de propor debates pertinentes à área a partir da exibição de dois filmes com a parceria da Associação Amigos do Cinema. Outra era sobre uma das atividades da Semana do Meio Ambiente, o Dale Bike, pedal que acontece neste domingo, e falamos sobre o contato com a natureza, um meio de transporte que oferece saúde ao ser humano e ao planeta. Também conversei com uma atleta de handebol do União Corinthians, que, pelo incentivo na escola, começou a praticar a modalidade, e o clube está em busca de bons resultados na Liga estadual.
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Gosto dessa variedade de temas que podemos trazer em duas horas de programa, e teve mais uma pauta que me encantou. Conheci o projeto Procuro-me, da Escola Estadual Frederico Kops, de Sinimbu. A diretora Anelise, a professora Sandra e as alunas Luana, Karolin e Erica compartilharam com os ouvintes como a educação tem um poder transformador. Sandra contou que o projeto já trabalhava com a sustentabilidade e no ano passado abordaram o tema com a preocupação do que era feito com restos de tecidos. Assim surgiu a ideia de os alunos confeccionarem bonecas com os retalhos.
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Paralelo a isso, a escola fez um levantamento de autodeclaração com os alunos. Os professores se surpreenderam porque poucos estudantes se declararam pretos ou pardos, número que, na percepção dos educadores, seria maior. Outra questão chamou a atenção em apresentação de teatro que era preparada na escola. Na peça, um dos personagens era um bebê preto. No entanto, os participantes procuraram nas lojas do município e não havia nenhuma boneca preta à venda para representar o papel.
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Todas as reflexões que surgiram de tais situações levaram à sala de aula do Ensino Médio o debate sobre autoestima, pertencimento, empoderamento, valorização da identidade da mulher negra e antirracismo. Muitas das bonecas confeccionadas pelos alunos têm cabelos cacheados e são pretas. A professora Sandra contou que há variados tons de pele, “porque o nosso mundo é colorido”. Se ouvir uma educadora falando assim já inspira, ouvir as alunas foi ainda mais forte.
Luana disse que é preta e sempre se sentiu diferente. Falou que na escola faz parte de uma minoria e que falar em público na instituição era um desafio. “Depois que a escola começou esse projeto, eu me empoderei, tive vontade de sair, falar, apresentar o projeto. Fiquei muito representada”, afirmou a jovem de 16 anos. Com a mesma idade, Karolin contou que nunca tivera uma boneca negra e o projeto fez com que se sentisse mais confortável para falar em público. Da mesma forma, Erica também tirou aprendizados com a experiência. “Gostei bastante do projeto porque eu, como pessoa branca, acho que não são só as pessoas pretas que devem enfrentar a luta antirracista. Nós, brancos, temos que reconhecer nossos privilégios”, disparou a jovem.
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Não é à toa que esse mesmo projeto foi um dos 70 finalistas do Prêmio Educador Transformador e esteve entre os dez melhores do País do Ensino Médio. Diante de tantos desafios enfrentados pela rede pública, com limitações orçamentárias e estruturais, graças a professores e funcionários obstinados, que ignoram a pouca valorização que recebem em seus vencimentos e da sociedade, esta escola de Sinimbu mostra que existe espaço para o que há de mais precioso no ambiente escolar: a reflexão, a aprendizagem e o incentivo para a formação de sujeitos que se reconhecem e poderão ser protagonistas das próprias histórias.
Às 15 horas, no fechamento do programa, recebi a mensagem da ouvinte Rosane Maria dividindo que tinha amado a programação e aprendido com as entrevistas. E eu saí do estúdio feliz com toda essa troca.
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