Alessandra Steffens Bartz
Psicóloga
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Em meio à enxurrada de informações que nos chegam todos os dias pelas redes sociais, aparecem com frequência variados “memes” sobre os casais em quarentena. Na maior parte das vezes tratam-se de piadas de vários tipos e formatos. Como bem sabemos, todo humor tem um fundo de verdade. Não é de hoje que o casamento anda em crise…
Parece cada vez mais difícil encontrar casamentos saudáveis, daqueles casais que envelhecem juntos, mantendo um amor maduro. Alguns se perdem pelo caminho, outros permanecem juntos quase como inimigos, sempre prontos para a queda de braço. Aqueles que conseguiram completar muitas bodas aconselham que o diálogo, a tolerância e o perdão são ingredientes importantes para uma relação longeva e feliz. A verdade é que não existe uma receita para a felicidade. Cada um a encontra a seu modo. Mas precisamos entender que é o tempo que tece as relações, e andamos muito apressados.
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Imagine então como anda a situação dos casais em isolamento. Muitos podem estar convivendo com frequência muito maior do que o contato que estabeleciam quando a vida andava em outro ritmo (antes do coronavírus). Estar junto muito tempo pode ser excelente para os casais enamorados, que ainda estão em fase de lua-de-mel ou para aqueles que encontraram um equilíbrio no relacionamento. Mas para quem já vinha com a relação desgastada, ficar mais tempo em contato facilita que as brigas se intensifiquem. Além disso, o momento atual gera estresse, fazendo crescer a irritabilidade. Será preciso muita maturidade para lidar com a situação.
Uma frase diz que nada acontece por acaso. Quem sabe esse momento seja oportunidade para os casais se olharem, se escutarem, resolverem as arestas. Também pode ser um tempo precioso para cuidar de si e para agradar o outro. Quem sabe fazer uma receita especial, lerem juntos um livro, ouvirem as músicas que marcaram o relacionamento, dançarem no tapete da sala. As crises podem ser oportunidades de crescimento e de mudança. Use a crise a seu favor!
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Nessa quarentena, organizem a rotina de modo que cada um possa fazer atividades prazerosas para si e momentos em que vão compartilhar o tempo. Respeite o momento de o outro ficar sozinho, fazendo o que gosta. E, quando estiverem juntos, procurem separar as conversas sobre despesas, preocupação com a pandemia, dos momentos a dois. O momento a dois deve ser agradável, de qualidade. Cultivem a paz e a tranquilidade. Fases difíceis exigem que reunamos nossas forças para encontrar alternativas viáveis, para tentar enxergar o lado bom das coisas. Tudo tem dois lados, até mesmo essa pandemia.
E não podemos esquecer do viés financeiro. Muitos casais brigam mais quando o orçamento aperta. E agora vivemos uma economia incerta. Mexer no bolso impacta a vida do casal e da família. Como bons brasileiros, teremos de usar e abusar da criatividade para driblar os percalços. E os casais precisam se apoiar. Pensem juntos em modos de economizar ou de ter outras fontes de renda. Pode ocorrer que um queira apertar o cinto das despesas e que o outro ache desnecessário. Ampliem o diálogo para encontrar um meio termo. O casal está no mesmo barco, remando juntos. Precisam definir uma mesma direção ou andarão em círculos. Priorizem o bem-estar do casal e da família. Às vezes os dois podem estar certos olhando para direções opostas. E é preciso olhar juntos para a mesma direção. O meio termo é a chave do equilíbrio nas relações. O extremismo gera a disputa, o medir forças. Todos perdem.
Vale lembrar que o amor é como uma planta que precisa ser cuidada, regada, adubada. Se não cuidarmos dessa planta, ela pode secar, morrer. Alguns casais esquecem de cuidar do casamento. Acreditam que casaram e pronto. Tem até quem case novamente e caia na mesma armadilha. Cuidar do amor, do relacionamento a dois, exige dedicação e vontade de seguir junto. A relação precisa ser construída em conjunto, cada um se esforçando para ouvir, ceder, agradar, dar e receber carinho. Apesar dos afazeres, é preciso ter um tempo para o casal estar junto, divertir-se. O diálogo é ferramenta preciosa. É preciso conversar sobre a relação, não na linguagem do apontar o dedo e culpar o outro, mas falando como se sente frente ao tema de conflito. Não busquem culpados, mas a conciliação e o entendimento mútuo.
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Casais em perigo, façam da queda um passo de dança! O momento é de unir forças, cultivar valores nobres como a fé e a espiritualidade. Não vale ser solidário com os outros e tratar mal quem vive com você. Precisamos levar amor para o lar. Se o casal se escolheu para viver uma vida junto, que seja boa! Busquem um terapeuta de casal para ajudar naquilo que não consigam resolver sozinhos. Separar pode ser alternativa saudável para relações tóxicas, para a falta de amor, para aqueles que acabam tomando rumos muito diferentes. Às vezes um par do casal pode estar com a saúde mental comprometida e isso afeta a relação. Assuma um tratamento, não fique esperando, motivado por medo ou preconceito. Invista na saúde física, emocional, espiritual. E cultivem a relação dois. Ficar por ficar não vale. E aproveitem essa forçada lua-de-mel para resgatar sentimentos esquecidos, arejar a relação e, quem sabe, se preciso, tirar o casamento da zona de perigo.