Alessandra Steffens Bartz
Psicóloga
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Notícias vindas de todos os lugares, dúvidas, medos… E veio o isolamento. Escolas fechando, lojas e restaurantes lacrando as portas. Bilhetes ou cartazes espalhados por todos os cantos exaltando mensagens de #estamosjuntos e de até depois do coronavírus. Somente espaços de atendimento de necessidades básicas em funcionamento, através das valorosas pessoas que trabalham para nossa saúde, segurança, alimentação, coleta de lixo etc.
Ao soar o decreto de confinamento, ficou mais palpável que o inimigo invisível se aproximava. População alerta, correndo ao mercado, à farmácia, estocando alimentos, álcool em gel, água. Assim nos recolhemos, assustados, temerosos, mas também empenhados em colaborar e tocar a vida em família, em casal ou consigo mesmo. Num piscar de olhos perdemos muito: nos afastamos de pessoas queridas, do trabalho, de lazeres. Nossa liberdade foi tolhida. Fomos conduzidos a uma nova rotina e ao redor tudo parecendo vazio. Ruas vazias. Cidade parada.
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Com a mesma rapidez que precisamos adotar o #fiqueemcasa, eclodiram sentimentos dos mais variados. Desde o velho medo do desconhecido até as angústias mais profundas de feridas antigas abertas pela situação atual. Apareceram também reações emocionais novas, difíceis de compreender, advindas de um contexto de vida atípico. Perdas remetem ao luto do que sentimos perder hoje e daquilo que já perdemos outrora. Nesse misto de emoções, participam momentos de questionamento, negação, raiva. Muitos questionam se tudo isso é verdade, incrédulos, acreditando até mesmo em alguma teoria da conspiração. Outros negam ou não entendem a gravidade e se expõem às ruas, como alguns idosos vistos circulando por aí. A turma dos raivosos critica medidas tomadas, não aceita ter de passar por isso, insiste em retomar a vida lá fora o quanto antes. O grupo dos otimistas capricha no cultivo da alegria e do bem-estar, torcendo para não serem vencidos pelo avançar do tempo. E assim cada um vai levando a vida, do jeito que melhor consegue.
O momento atual tem fomentado tantos sentimentos! Nos confinamos, restringimos, estressamos, abalamos, conflituamos, driblamos, criamos, esperando pelo inimigo. Ele é tão invisível e propagador! E eis que no domingo tivemos confirmado o primeiro caso de Covid-19 em Santa Cruz. Suspeitos são só suspeitos. E até domingo tínhamos apenas suspeitos. Estamos cientes de que esse período vem sendo muito bem aproveitado para a organização da equipe da saúde, e que tem permitido o surgimento de vários grupos de apoiadores. Mas para quem está em casa não é fácil. As pessoas estão sofrendo com a nova realidade imposta. Quanto tempo ainda vai durar? Não sabemos. Como esse dito monstro vai se comportar? Também não sabemos. Quem sabe nossa cidade consiga passar o mais ilesa possível… Pensar dessa forma pode levar algumas pessoas a crer que flexibilizar pode ser uma alternativa viável. Sobretudo, cuidado! Não subestimemos o inimigo!
Passadas as reações defensivas, possivelmente haverá de emergir uma conscientização maior, o entendimento das vicissitudes da vida. A elaboração das perdas, aos poucos, permitirá a busca de um significado próprio para o contexto. Todos estamos perdendo e todos estamos sofrendo. Alguns conseguirão lidar com a situação com maior sabedoria, porém outros podem se desestruturar emocionalmente e precisar de maior amparo da família e dos amigos. Vamos nos unir e apoiar uns aos outros! O desenvolvimento tecnológico está mais do que nunca a nosso favor. Então usem e abusem dos recursos que permitem comunicação à distância. Se esse é o jeito, vamos lá. Assim poderemos nos manter entrelaçados, sentindo que não estamos sozinhos, que pertencemos ao mesmo barco, que realmente estamos juntos.
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Aceitar o que não pode ser mudado e fazer a nossa parte é a máxima desse momento. Não podemos relaxar e flexibilizar. Devemos seguir as orientações dos profissionais da saúde. Puxemos nossa mente sábia para ajudar a entender que a guerra continua e que a vida segue. E, ao contrário do que lá no íntimo desejamos, não estamos blindados ao ataque do inimigo invisível que está ao nosso redor.