Dos inúmeros objetos antigos guardados por Mathias Assmann, 55 anos, de Monte Alverne, nenhum se compara ao diário de bordo que detalha a viagem feita por alguns de seus antepassados, os imigrantes alemães, para o Brasil. As anotações contam como seus tataravós e sete filhos atravessaram o Oceano Atlântico de barco, por seis semanas, até chegarem em terras brasileiras. Os escritos, em alemão gótico, parecem ter sido desenhados milimetricamente e documentam, nas páginas já amareladas pelo tempo, parte da história do início da colonização.
O diário, do ano de 1856, é guardado com extremo zelo por Mathias, a esposa Milene e a filha Mathiele, de 20 anos, que revela igual interesse de seguir preservando a memória da família. “Quem escreveu foi o meu bisavô Mathias Assmann Senior. Ele veio da Alemanha, com meus tataravós [Johann Nikolaus Assmann e Maria Anna Gruenewald] e os irmãos dele e fez essas anotações para guardar a história da viagem”, explica Mathias.
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Ele ressalta que o diário foi herdado primeiramente por seu avô, Mathias Assmann Filho, e depois por seu pai, Edmundo José Assmann. Com os dois, aprendeu a importância de preservar a memória daqueles que tanto lutaram para iniciar uma vida nova nessas terras.
Em entrevista à Gazeta do Sul, Mathias conta que o hábito de seu bisavô escrever serviu de inspiração para que, mais adiante, seu avô e seu pai fizessem o mesmo. “O meu bisavô [o terceiro filho mais velho, dos sete que fizeram a viagem de barco com os pais] foi agricultor e correspondente bancário. Ele recebia o dinheiro das pessoas em sua casa e uma vez por mês depositava esses valores em Santa Cruz do Sul. Fazia os apontamentos e as anotações de juros; funcionava como uma cooperativa.” Por conta da necessidade de manter anotado tudo o que recebia, tornou-se comum fazer uma espécie de balanço de investimentos e custos.
Assim, tanto o avô quanto o pai de Mathias aprenderam a fazer anotações da propriedade. “Eles tinham tudo descrito em cadernos. Ano a ano, mês a mês, anotavam as receitas e despesas. Escreviam o valor de tudo o que compravam ou vendiam, desde a erva-mate para o chimarrão até a graxa utilizada nas carroças”, comenta. O gosto pelos livros também fez parte dos hábitos herdados e deu origem à biblioteca que hoje Mathias preserva em casa. “Foi meu avô que iniciou e depois meu pai expandiu. Eles sempre tinham livros em casa e liam muito. Agora a minha filha está fazendo o mesmo”, diz, emocionado.
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O gosto que hoje Mathias tem por objetos antigos é um hábito ainda da infância. “Sempre guardei as moedas e os livros do meu pai, e depois fui aumentando até construir um galpão só para guardar coisas antigas”, explica. Ao falar sobre os objetos que estão sob sua responsabilidade, Mathias ressalta a importância de ter “alguém que cuide para não ficar perdido”. Mais do que isso, é como se toda a memória da sua família estivesse mantida sob o mesmo teto. Em 1999, Mathias visitou a casa deixada por seu bisavô e seus tataravós na Alemanha.
Foi o pai de Mathias, Edmundo, quem se empenhou em fazer pesquisas e a traduzir os textos do diário. “Ele e meu primo [Celso Assmann Schoerpf] organizaram tudo e depois publicaram um livro.”
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O diário foi escrito por Mathias Assmann Sênior, o bisavô de Mathias Assmann. Ele, os pais Johann e Maria Anna e os seis irmãos deixaram a casa que tinham na aldeia de Hahn, no Distrito de Zell, na Alemanha, e partiram no início de março de 1856.
Teriam sido motivados a buscar vida nova depois de terem enfrentado muitas dificuldades, com a perda de animais e a morte de cinco dos 13 filhos. Eles desejavam inicialmente migrar para a América do Norte, mas na última hora decidiram pelo Brasil e a Província do Rio Grande do Sul. A família saiu pela Antuérpia, na Bélgica, no barco a vela Luzia (Santa Lucia).
No diário, o autor cita “após seis semanas de viagem pelo Oceano, onde era péssima a alimentação e a água ruim e podre, chegamos ao Brasil, ainda que após alguns vendavais”. Em páginas seguintes comenta que rumaram para a Colônia Santa Cruz, após a Picada Velha, e compraram uma área de “320 braças de largura e 950 braças de profundidade”.
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Entre as anotações também consta que em 1859, três anos após a chegada na região, seu irmão mais velho se casou. E assim, sucessivamente, narra os casamentos dos demais irmãos, as bodas de ouro dos pais, bem como o envelhecimento e a morte de ambos. Johann faleceu aos 82 anos e Maria Anna aos 79. Seus túmulos estão no cemitério de Linha Santa Cruz.
Nos escritos consta que o casal de imigrantes recebeu do governo brasileiro a importância de 146/360 reis, em Rio Pardo, para pagamento de carretos, aluguel de casas, diárias de acomodação e transporte. No Brasil, o autor do diário se casou com Bertha Simonis.
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