Estou confinado desde o dia 20 de março. Vou ao supermercado no domingo, e à meia-noite passeio com nosso cachorro. Em épocas “normais”, acordo às 5 horas, mas, com a rotina virada de cabeça para baixo, o horário depende das tarefas do dia. O estilo home office consome entre 10 e 12 horas.
A crise, porém, viabilizou um velho sonho: almoçar em casa. Isso permite não apenas degustar cardápios incríveis feitos pela minha mulher, Cármen, e pela filha Laura, craques na cozinha. Almoçar, jantar e fazer lanches no final da tarde também dá oportunidade para conversar longamente e trocar ideias, porque a rotina muitas vezes nos afasta.
As refeições são verdadeiras orgias gastronômicas. Evito somar as calorias ingeridas porque faltariam dígitos na calculadora. Muitas roupas “encolheram” no armário. Com a queda da temperatura, os moletons têm sido aliados para escamotear os quilos a mais.
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A rotina também ganhou sessões de cinema, hábito raro, pelos horários desencontrados. Cada noite um de nós escolhe a atração a partir de indicações de amigos ou da internet. Temos feito belas escolhas! Afinal, faz muito tempo que não saio de casa para ver as novidades de Hollywood, ou vejo filmes do Netflix.
Tenho escrito bastante. A manhã é mais pródiga em inspiração para redigir crônicas, e produzi cards e textos para o Twitter e o Facebook. A falha envolve a atividade física. Apesar dos vídeos enviados pelo professor Luciano Ventura, a preguiça tem sido má companhia. Mas já vou redobrar as aulas no retorno, para minimizar as dores da minha hérnia de disco de estimação.
À tarde, acompanho o noticiário à distância, mas também desligo por ao menos uma hora para ouvir música, fazer palavras cruzadas ou assistir a filmes da NET, apesar das insuportáveis reprises. A mídia tem produzido conteúdos pesados em consequência da crise na saúde, mas poucos veículos buscam o equilíbrio.
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Há muitas notícias positivas omitidas ou que recebem destaque modesto perto das manchetes mórbidas. Acho grotesca a repetição das imagens de covas rasas, mortos em hospitais, enfermos filmados dentro das UTIs. Certamente, o responsável pela veiculação massiva destes conteúdos não gostaria de ver seus familiares exibidos em rede nacional na hora do jantar. “Notícia ruim é a notícia que vende”, é uma orientação nojenta.
Não defendo a omissão de informações, muito menos um mundo cor-de-rosa. Peço, apenas, bom senso, equilibro, respeito e empatia.
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