A gestação por si só é um período desafiador – e é preciso falar sobre isso. As possíveis complicações, incertezas e medos perseguem as mães, ainda que a gravidez possa parecer fácil para quem vê de fora. Da culpa, então, nem se fala: é a maior vilã citada pelas mães, antes mesmo de terem o bebê nos braços. Quando a gestação é de risco, os receios aumentam e muitas vezes o diagnóstico pode assustar. Porém, é importante esclarecer as dúvidas e focar no que pode ser feito dali para a frente para garantir a saúde da mulher e do bebê.
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Um desses desafios é a descoberta do diabetes gestacional. Identificado geralmente entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, por meio do teste oral de tolerância à glicose, a condição traz consigo diversos estereótipos e mitos. A Sociedade Brasileira de Diabetes estima que 18% das grávidas brasileiras sejam acometidas pelo diabetes gestacional – no mundo, o número é de cerca de 15%, representando 18 milhões de nascimentos por ano.
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Aline Silva, jornalista e comunicadora da Gazeta Grupo de Comunicações, entrou para esta estatística. Gestando Maitê, ela recebeu o diagnóstico justamente após o exame da curva glicêmica, por volta da 25ª semana de gestação. Apesar do medo que acompanha o diagnóstico, ela tem buscado seguir o tratamento à risca para garantir a saúde da pequena. “Meu medo maior é com o bebê, sou adulta, sei o que devo fazer. Mas ela é indefesa, não vai nem saber comunicar se algo estiver errado. Esse é meu medo”, conta.
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Causa e diagnóstico
A causa do diabetes gestacional é hormonal. “Durante a gestação, ocorrem diversas alterações no metabolismo da mulher. Alguns hormônios produzidos pela placenta, e outros aumentados devido à própria gestação, promovem a redução da ação da insulina nas células, causando resistência à ação da insulina. Naquelas gestantes em que a capacidade de produção de insulina já está no limite, a glicose se eleva e então aparece o diabetes gestacional”, explica a médica endocrinologista Anelise Londero.
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Ainda que as alterações possam atingir qualquer mulher grávida, há fatores de risco. “Gestação superior aos 35 anos, obesidade antes de engravidar ou aumento de peso excessivo durante a gestação, histórico familiar, peso de bebês anteriores com mais de 4 quilos, pré-diabetes, síndrome do ovário policístico, histórico de intolerância a carboidratos ou glicose são alertas”, conta a nutricionista Bruna Assmann, pós-graduada em nutrição em pediatria – que abrange gestantes.
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Os sintomas podem incluir muita sede, boca seca, aumento de apetite, ganho de peso anormal da gestante ou do bebê, fadiga e aumento da frequência para urinar, conforme a nutricionista. A condição, no entanto, pode não causar sintomas na mulher. “Por isso é tão importante que os níveis de glicose sejam acompanhados por exames de sangue e o teste oral de tolerância à glicose seja realizado entre a 24ª e a 28ª semana de idade gestacional”, destaca a endocrinologista.
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Esse exame, também conhecido como teste de curva glicêmica, já é popular entre as mamães. Consiste em acompanhar as alterações nos índices de concentração da glicose no sangue da grávida, antes, durante e depois do consumo de um líquido bastante adocicado, em jejum.
Foi justamente com este teste que Aline foi diagnosticada: “Quando veio o resultado, fiquei bastante assustada. Como boa grávida, leio muito sobre tudo e sabia já de alguns riscos. Imediatamente comecei a regular melhor a alimentação e procurar os profissionais indicados: nutricionista e endocrinologista para um acompanhamento mais efetivo”, detalha.
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Tratamento
A procura pelos profissionais, assim como a comunicadora da Gazeta fez, é essencial. O tratamento consiste em cuidados com a alimentação e atividades físicas (quando liberadas pelo obstetra), conforme Bruna e Anelise. “Uma dieta equilibrada priorizando alimentos de baixo índice glicêmico, que ajudam a diminuir a velocidade de absorção do açúcar. Cereais integrais, frutas, vegetais, leguminosas, carnes magras, oleaginosas, laticínios com pouco gordura. Evitar alimentos doces, carnes processadas”, pontua a nutricionista. “Se não for o suficiente para controlar a glicose no sangue, é iniciado o tratamento medicamentoso com a insulina.”
Para Aline, que já é mãe de Miguel, que completa 4 anos no primeiro dia do ano, controlar a alimentação tem sido desafiador. “O desafio maior é a alimentação super-regrada e o impedimento de comer algumas coisas, ainda mais nesta reta final da gravidez. A vontade de comer um doce, sobremesa, confesso que são gigantes. Mas até mesmo fruta, que eu não sabia, como banana e melancia, estão fora do meu cardápio. A época também é um desafio, fim de ano a gente come mais, ceia e tal, mas eu vou ter que segurar!”
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Riscos para mãe e bebê
O que mantém Aline na linha é o receio de que Maitê possa sofrer com alguma complicação em função do diabetes. Conforme a médica endocrinologista, os riscos envolvem tanto a mãe quanto o bebê. “O ganho excessivo de peso pelo nenê (macrossomia fetal) aumenta o risco de parto prematuro e traumas durante o trabalho de parto. Além de outras complicações, como a síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido e a hipoglicemia neonatal. O diabetes gestacional também pode predispor ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia e polidrâmnio (excesso de líquido amniótico)”, explica.
A importância do pré-natal
Aline, Anelise e Bruna concordam em afirmar que uma das etapas mais importantes para que haja o tratamento correto e se evite reflexos na saúde é o acompanhamento pré-natal. “O diabetes gestacional assusta por remeter a uma doença crônica, que pode causar danos e mudanças que podemos carregar por toda a vida. Porém, o diabetes gestacional é transitório e, se diagnosticado no tempo correto e controlado, a gestação transcorre normalmente e não afeta o bebê e a gestante. Por isso a importância do correto acompanhamento gestacional”, comenta a nutricionista.
“E que esses hábitos melhores sejam mantidos após a gestação, pois, além de reduzirem o risco de complicações perinatais a curto prazo, também reduzem as chances de mamãe e bebê desenvolverem diabetes, obesidade e doenças cardiovasculares no futuro”, complementa a médica.
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A dica de Aline é prezar pela saúde e manter a calma em caso de diagnóstico positivo: “Se cuidem! Por vocês e pelo bebê. É uma doença séria e que pode afetar mãe e filho. Sigam as recomendações. Mães já se sentem culpadas por inúmeros fatores, e saber que algo pode trazer consequências para o teu bebê é ainda mais assustador.”
DICA – A Sociedade Brasileira de Diabetes disponibiliza um Guia para a gestante com diabetes gestacional, que reúne dicas, dados e cuidados necessários. O material pode ser acessado clicando aqui.
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