Simone Ferreira, 35 anos, é um exemplo de mulher muito atuante no meio rural. Na propriedade de 115 hectares, dos quais cem são arrendados para pastagens, localizada em Arroio do Couto, Santa Cruz do Sul, ela trabalha em parceria com o marido, Fábio Lopes, 41 anos. A principal atividade é a pecuária. De início, o casal apostou na criação de gado leiteiro. Segundo ela, uma área que necessita de muito investimento em tecnologias mais caras, como ordenhadeira mecânica, resfriador e raças melhores. Por isso, decidiram ficar somente com gado para cria, recria e engorda. Os cavalos são a outra atividade da família.
Simone nasceu e se criou no interior. Na propriedade dos pais, em São José da Reserva, aprendeu sobre a criação de gado leiteiro e corte, suínos e aves. Viu a importância de diversificar produzindo culturas da estação, como feijão, batata, mandioca, moranga, melancia e outras, para o consumo da família e, com o excedente, alimentar a criação. Com eles, descobriu o valor e a relevância da sua profissão.
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Ela conta que, quando menina, tinha o sonho de fazer a faculdade de Veterinária. Como na época em que concluiu o Ensino Médio ainda não havia o curso em Santa Cruz e ela não tinha vontade de sair da região, optou por cursar Pedagogia e Biologia. Não era a área de interesse, por isso, não concluiu essas graduações.
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“Houve um tempo em que senti um certo arrependimento de ter desistido, mas hoje não mais. Estou bem satisfeita com a minha escolha de ficar no campo. É gratificante tomar um chimarrão à sombra de uma árvore que eu plantei, comer uma fruta e colher as verduras que com cuidado produzi. Ou quando vejo nossos bichos mudando, pois chegam aqui magrinhos e logo engordam, e os cavalos chucros que se amansam. Isso é uma realização que, pra mim, não tem preço.”
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Ela, que cresceu vendo a mãe como uma incansável parceira do pai, levou esse exemplo para a sua vida com o Fábio. Lá os dois trabalham lado a lado na administração e na lida da propriedade. “Eu tenho certeza que as mulheres sempre tiveram um papel muito importante dentro das propriedades rurais. Mas somente nos últimos anos esse papel e essa força passaram a ter mais destaque, sendo mais vistos e mais falados”, analisa.
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A pecuarista não perde a oportunidade para novos aprendizados. Sempre que pode, realiza cursos de atualização. “Precisamos estar por dentro do que há de novidades na área da criação de gado. No mercado atual, se não estivermos informados e buscando as inovações às quais temos acesso, não teremos como crescer e seguir adiante. Ainda mais no nosso caso, pois vivemos de negócios.”
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Além dos cursos online, Simone conta com o apoio da Emater, que, segundo ela, é uma excelente parceira dos produtores rurais. “Eles nos incentivam e trazem recursos e novidades tecnológicas para as propriedades, além de promoverem os encontros das mulheres rurais.”
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Neste dia 15 de outubro é comemorado o Dia Internacional da Mulher Rural. Instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1995, a data foi criada para elevar a consciência mundial sobre o papel da mulher do campo. É uma ocasião para marcar essa representatividade que se fortalece a cada dia e mostrar o quanto elas têm contribuído para uma grande transformação no setor.
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Antigamente, diziam que o lugar de mulher era na cozinha, cuidando da casa e dos filhos. Hoje, com a luta por direitos iguais e a conquista da independência feminina, já não é mais novidade o grande espaço que elas ocupam no mercado de trabalho e sua grande contribuição através de suas habilidades e talentos específicos.
No agronegócio, espaço tradicionalmente masculino, a participação feminina também vem crescendo gradativamente. Muitas mulheres saíram do papel de suporte dos seus maridos para assumir a liderança de propriedades rurais, apesar de ainda representarem uma pequena minoria frente aos negócios no campo.
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O crescimento das mulheres no agronegócio aumentou em todo o Brasil. Em 2006, elas representavam cerca de 12% dos produtores rurais. Já em 2017, chegaram a 18% do total. A informação vem do Censo Agropecuário 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que mostra a maior participação feminina no setor agro.
De acordo com o Censo, 650 mil propriedades são geridas exclusivamente por mulheres, enquanto 1,06 milhão têm sua administração dividida entre o casal. Números que mostram a mulher como protagonista ou parceira na gestão de 1,7 milhão de unidades de produção, ou seja, 34% dos 5 milhões de estabelecimentos rurais no País. A maioria está na região Nordeste (57%), seguida pelo Sudeste (14%), Norte (12%), Sul (11%) e Centro-Oeste, que concentra apenas 6% do universo de mulheres dirigentes. Com um aspecto bastante relevante apontado pela pesquisa: a maioria delas tem idade entre 24 e 45 anos.
A grande contribuição da mulher no trabalho rural acontece principalmente em relação à agricultura familiar. No Brasil, esse tipo de agricultura é responsável por produzir cerca de 70% dos alimentos consumidos. Isso significa que o papel das mulheres na produção de alimentos é central, mas, mesmo assim, ainda carece de mais visibilidade e reconhecimento, tanto da sociedade quanto de suas próprias famílias.
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