Comemorado no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher foi oficializado pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1975. A data reporta-se ao ano de 1917, em que grupos de mulheres saíram às ruas, na Rússia, para protestar contra a fome e a primeira guerra mundial, embora, desde 1908, em várias cidades do mundo mulheres protestavam contra as desumanas condições de trabalho e as diferenças de salários com os homens.
Seria uma data internacional? O Banco Mundial analisou pesquisas de dez anos, constatando que, de 187 países, apenas 6 apresentavam paridade total de direitos entre homens e mulheres, sendo que a média mundial de paridade é de 75%. Em vários países, persistem restrições para as mulheres, inconcebíveis para nós brasileiros, como não poder dirigir automóvel, não frequentar universidades, ou ter que cobrir o rosto quando estiver na rua…
Nos ambientes familiares, a maior parte do trabalho doméstico é executada ou supervisionada pelas mulheres; falta a divisão de tarefas, existindo a ideia de que o homem apenas “ajuda” na realização delas. A pandemia do coronavírus escancarou a sobrecarga de atividades das mulheres, o que se refletiu no aumento de divórcios.
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Nas empresas, o fato de ser mulher ainda pode significar salário menor, carreira limitada, impedimento em seleções ou promoções profissionais, dificuldades para alcançar cargos de alta liderança ou sujeita a situações, algumas inconfessáveis, como assédios morais e sexuais.
Com relação aos salários, no Brasil as mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo quando exercem cargos idênticos. Paradoxalmente, um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) apurou que essa desvantagem é inversamente proporcional: quanto mais as mulheres estudam, menos ganham, comparadas aos colegas homens, com o mesmo nível escolar.
Projeto de lei assinado, no dia 8 de março de 2023, prevê multa para empregador que pagar salários diferenciados a uma mulher que tem o mesmo tempo de casa, a mesma função e com escolaridade semelhante a um funcionário homem.
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Na política, mesmo que as mulheres já sejam mais de 50% do eleitorado brasileiro, partidos deixam de cumprir as cotas obrigatórias de participação feminina, alegando o desinteresse das mulheres, o que é um dos motivos para que câmaras de vereadores, assembleias legislativas e o Congresso Nacional estejam longe de ter suas cadeiras ocupadas por, pelo menos, 30% de mulheres, conforme recomenda a ONU.
Falar em dinheiro ainda é um tabu entre as mulheres. Para piorar a situação, são acusadas, injustamente, de “gastadeiras”, no sentido de consumistas por excelência, embora em alguns casos realmente o sejam. Uma consultoria americana observou o comportamento de consumidores em 27 países, inclusive no Brasil, constatando que as mulheres são mais racionais, preparadas e disciplinadas para comprar, limitando-se à “listinha” e disponibilidade financeira.
Nos orçamentos domésticos, também, o poder de controle está cada vez mais nas mãos de mulheres, mesmo quando não são elas as principais provedoras do lar. É crescente o número de mulheres que sustentam e chefiam seus lares.
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Quando uma mulher toma as rédeas das finanças de uma casa e o faz com educação financeira, tende a geri-la de forma mais eficiente que o homem, evitando correr riscos e planejando com base em metas financeiras. Pesquisas revelam que 89% das mulheres falam com os filhos sobre educação financeira da família, além de serem mais de 66% nas negociações de dívidas.
Na área de investimentos, ocupada, predominantemente, pelos homens, tem crescido a participação das mulheres. Não só na tradicional poupança, mas também em fundos de investimentos, ações e, mais recentemente, como investidoras ou empreendedoras em startups (início de novos negócios) e criptomoedas.
Como diz Mara Luquet, o melhor investimento para as mulheres é investir nelas mesmas. Mulheres costumam ser muito generosas com filhos, maridos, pais, sogros e acabam esquecendo de seu próprio futuro.
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Quando se fala em empreender no Brasil, para as mulheres, além da falta de crédito, os juros são mais altos, há menos interesse por parte de investidores, baixo investimento em tecnologia, ausência de apoio no mundo dos negócios e pouca visibilidade nos meios de comunicação.
Na avaliação de Luzia Costa, fundadora da Sóbrancelhas, as mulheres empreendedoras enfrentam quatro desafios principais:
- Julgamento desigual: os homens ainda são considerados mais competentes;
- Medo de fracassar;
- Equilíbrio na vida profissional e familiar;
- Falta de apoio.
A maior conquista de espaços na sociedade implicou, também, maiores fontes de estresse pela sobrecarga de atribuições – jornadas duplas ou até triplas -, pela falta de dinheiro, pelo endividamento, entre outras causas.
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Ocorre, também, uma crescente assimilação de hábitos ou vícios – dependendo de pontos de vista -, considerados, há pouco tempo, de homem, como fumar e beber, e o envolvimento no crime, com roubos, drogas e mortes violentas.
Apesar de tantos avanços e mudanças, há muito ainda a ser feito. A legislação brasileira prevê direitos e benefícios que, na prática, muitas vezes não são observados. Na data comemorativa, na Câmara de Deputados, o deputado mais votado nas últimas eleições fez um “discurso” debochando de mulheres, trans, gays, etc.
É fato que muitas mulheres ainda são, literalmente, subjugadas em suas relações afetivas e familiares – até assassinadas, quando resolvem pôr fim a relacionamentos doentios ou opressores, o que criou a figura jurídica do feminicídio –, e desvalorizadas nos ambientes de trabalho, sociais e até religiosos.
É muito comum, mas mantido num silêncio constrangedor, o abuso financeiro, quando a mulher depende financeiramente do marido. A educação financeira é uma ferramenta que pode ajudar as mulheres a garantir sua independência financeira e, em alguns casos, a sua integridade física.
Há quem vê no Dia Internacional da Mulher uma invencionice, moderna e artificial, um movimento feminista e fartamente explorado pelo comércio. Entretanto, sob o contexto histórico do Brasil, a luta da mulher – e de homens que entenderam e abraçaram a causa –, é um reconhecimento e uma reafirmação das conquistas civilizatórias, em que todos somos beneficiários.
Não há nada de errado no presente tradicional de flores, bombons e maquiagem, pelo Dia Internacional da Mulher. A maioria certamente gosta desses mimos. Mas, as homenagens não devem se ater a esses presentes.
Nesta data especial, então, em que se fala tanto nas conquistas das mulheres, contribuiria muito se houvesse cada vez mais oportunidades, em todos os espaços, para a expressão e prática das qualidades femininas – diálogo, flexibilidade, multitarefa, cooperação, sensibilidade, intuição, cuidado e outras –, gerando impactos positivos nas famílias, nas empresas e em todos os ambientes sociais.
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