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FALANDO EM DINHEIRO

Dia Internacional da Mulher

Foto: SHVETS Production/Pexels

Comemorado no dia 8 de março, o Dia Internacional da Mulher foi oficializada pela ONU (Organização das Nações Unidas), em 1975. Desde 1908, em várias cidades da Europa e dos Estados Unidos, as mulheres foram às ruas para protestar contra as desumanas condições de trabalho e as diferenças de salários com os homens. Comentava-se que a data teria sido escolhida para homenagear mulheres que morreram carbonizadas, no interior de uma fábrica de tecidos de Nova York, depois de vários dias de manifestações por melhores salários e condições de trabalho. Mas, o dia 8 de março reporta-se ao ano de 1917, em que grupos de mulheres saíram às ruas, na Rússia, para protestar contra a fome e a primeira guerra mundial.

Seria uma data internacional? O Banco Mundial analisou pesquisas de dez anos, constatando que, de 187 países, apenas seis apresentavam paridade total de direitos entre homens e mulheres, sendo que a média mundial de paridade é de 75%. Existem ainda 104 países que impedem que as mulheres exerçam determinadas funções; as maiores restrições acontecem na Rússia, herdadas da extinta União Soviética e que, em 2000, foram “requentadas” legalmente pelo atual presidente Vladimir Putin.

O que ainda significa ser mulher

Nos ambientes familiares, a maior parte do trabalho doméstico é executada ou supervisionada pelas mulheres; falta a divisão de tarefas, existindo a ideia de que o homem apenas “ajuda” na realização delas. A pandemia do coronavírus escancarou a sobrecarga de atividades das mulheres, o que se refletiu no aumento de divórcios.

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Nas empresas, o fato de ser mulher ainda pode significar salário menor, carreira limitada, impedimento em seleções ou promoções profissionais, dificuldades para alcançar cargos de alta liderança e outras restrições, algumas até inconfessáveis, como assédios morais e sexuais.

Na política, mesmo que as mulheres já sejam mais de 50% do eleitorado brasileiro, partidos deixam de cumprir as cotas obrigatórias de participação feminina, alegando o desinteresse das mulheres, o que é um dos motivos para que câmaras de vereadores, assembleias legislativas e o Congresso Nacional estejam longe de ter suas cadeiras ocupadas por, pelo menos, 30% de mulheres, conforme recomenda a ONU.

Salários e promoções profissionais

Com relação aos salários, no Brasil as mulheres ainda ganham menos que os homens, mesmo quando exercem cargos idênticos. Paradoxalmente, um estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) apurou que essa desvantagem é inversamente proporcional: quanto mais as mulheres estudam, menos ganham, comparadas aos colegas homens, com o mesmo nível escolar. A igualdade tem relação direta com o ambiente corporativo, cabendo então à alta administração arregaçar as mangas e abordar o tema de maneira aberta, mostrando o quanto essas mudanças serão benéficas para todos. É a única maneira de se eliminar o preconceito contra as mulheres, existente na cultura corporativa, em que os homens são maioria.

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Administradoras das finanças pessoais e familiares

Falar em dinheiro ainda é um tabu entre as mulheres. Para piorar a situação, são acusadas, injustamente, de “gastadeiras”, no sentido de consumistas por excelência, embora em alguns casos realmente o sejam. Uma consultoria americana observou o comportamento de consumidores em 27 países, inclusive no Brasil, constatando que as mulheres são mais racionais, preparadas e disciplinadas para comprar, limitando-se à “listinha” e disponibilidade financeira. Nos orçamentos domésticos, também, o poder de controle está cada vez mais nas mãos de mulheres, mesmo quando não são elas as principais provedoras do lar. É crescente o número de mulheres que sustentam e chefiam seus lares que, conforme dados de 2020 do IBGE, já seriam 50%. Quando uma mulher toma as rédeas das finanças de uma casa e o faz com educação financeira, tende a geri-las de forma mais eficiente que o homem, evitando correr riscos e sendo mais propensa ao planejamento com base em metas financeiras.

Investidoras

Na área de investimentos, ocupada, predominantemente, pelos homens, tem crescido a participação das mulheres. Não só na tradicional poupança, mas também, em fundos de investimentos, ações e, mais recentemente, como investidoras ou empreendedoras em startups (início de novos negócios) e criptomoedas. Com o aumento do interesse pelo mercado financeiro, as salas de aula de cursos voltados para o tema registram a presença de um número cada vez maior de alunas. Segundo o professo Ricardo Rocha, do Insper, “as mulheres são mais analíticas, menos explosivas, têm maior capacidade de solução de conflitos e de aglutinar decisões”. Como investidoras no mercado financeiro, o resultado das mulheres tem sido, comprovadamente, superior ao dos homens.

Empreendedoras

Quando se fala em empreender no Brasil, logo se pensa nas dificuldades como a falta de crédito, juros altos, instabilidade do mercado e burocracia. Para as mulheres empreendedoras, especificamente, além da falta de crédito, os juros são maiores, há menos interesse por parte de investidores, baixo investimento em tecnologia, ausência de apoio no mundo dos negócios e pouca visibilidade nos meios de comunicação. Na avaliação de Luzia Costa, fundadora da Sóbrancelhas, as mulheres empreendedoras enfrentam quatro desafios principais:

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  1. Julgamento desigual: os homens ainda são considerados mais competentes;
  2. Medo de fracassar;
  3. Equilíbrio na vida profissional e familiar; 
  4. Falta de apoio.

Mesmo assim, levantamento da Global Entrepreneurship Monitor 2020 (GEM) apurou que de 52 milhões de empreendedores, no Brasil, 48% são mulheres. Um estudo da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e SPC Brasil constatou que mais de um terço das empresárias brasileiras abririam mão do relacionamento caso o marido ou companheiro se tornasse uma barreira para seu sucesso profissional. Outras 40% iriam pensar a respeito.

O ônus

A maior conquista de espaços na sociedade implicou, também, maiores fontes de estresse pela sobrecarga de atribuições – jornadas duplas ou até triplas -, pela falta de dinheiro, pelo endividamento, entre outras causas. Ocorre, também, uma crescente assimilação de hábitos ou vícios – dependendo de pontos de vista -, considerados, há pouco tempo, de homem, como fumar e beber, e o envolvimento no crime, com roubos, drogas e mortes violentas.

Ainda existem desafios

Apesar de tantos avanços e mudanças, há muito ainda a ser feito. A legislação brasileira prevê direitos e benefícios que, na prática, muitas vezes não são observados. É fato que muitas mulheres ainda são, literalmente, subjugadas em suas relações afetivas e familiares, – até assassinadas, quando resolvem por fim a relacionamentos doentios ou opressores, o que criou a figura jurídica do feminicídio – e desvalorizadas nos ambientes de trabalho, sociais e até religiosos. Outro abuso muito comum, mas mantido num silêncio constrangedor, é o financeiro, quando a mulher depende financeiramente do marido. A educação financeira é uma ferramenta que pode ajudar as mulheres a garantir sua independência financeira e, em alguns casos, a sua integridade física.

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Mas, há o que comemorar

Mesmo tendo raízes históricas de lutas pela igualdade de gênero, há quem veja no Dia Internacional da Mulher uma invencionice, moderna e artificial, um movimento feminista e fartamente explorado pelo comércio. Com base nas condições de hoje, não se identificariam tantas razões que justificassem essa data especial. Entretanto, sob o contexto histórico do Brasil, a luta da mulher – e de homens que entenderam e abraçaram a causa –, é um reconhecimento e uma reafirmação das conquistas civilizatórias, em que todos somos beneficiários: o direito ao ensino superior, em 1879, mas com restrições; ao voto, em 1932; a trabalhar sem autorização do marido, em 1943; a ter um CPF e conta bancária separadas do marido, só em 1962; a poder exercer várias atividades profissionais que, velada ou expressamente, vetavam as mulheres. Apesar de só 4,7% das empresas brasileiras serem lideradas por mulheres, é fato que cargos intermediários estão sendo ocupados por mulheres, o que as levará ao topo em pouco tempo. 

Nesta data especial, em que se fala tanto nas conquistas das mulheres, contribuiria muito se, antes ou junto às flores e bombons, houvesse cada vez mais oportunidades, em todos os espaços, para a expressão e prática das qualidades femininas – diálogo, flexibilidade, multitarefa, cooperação, sensibilidade, intuição, cuidado e outras -, gerando impactos positivos nas famílias, nas empresas e em todos os ambientes sociais e políticos. Talvez se os líderes políticos da Rússia e da Ucrânia fossem mulheres não estaríamos acompanhando online, perplexos, em pleno século 21, cenas de horror de uma guerra com destruição e mortes, não só de combatentes, mas de civis, incluindo crianças e idosos.

Estamos juntos, mulheres!

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