Na comemoração do Dia do Trabalho de 2020, não dá para ignorar o futuro da classe trabalhadora. Neste ano, não aconteceram as festas organizadas por empresas, sindicatos, órgãos públicos, veículos de comunicação e outras entidades. Desmentindo uma máxima de um deputado federal de que “pior que está não fica”, o Brasil, que já vinha convivendo com uma economia aquém das expectativas e necessidades para absorver os 12 milhões de desempregados, a partir de meados de março foi tomado pela pandemia do coronavírus.
Atendendo às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde do Brasil de promover o distanciamento social, governadores e prefeitos decretaram a paralização de atividades comerciais, industriais e de serviços consideradas não essenciais, além de escolas, cultos religiosos, eventos esportivos e outros, como única forma de conter a contaminação em massa. Entretanto, a pregação contrária e os exemplos de descaso a essas medidas preventivas pelo presidente Bolsonaro, que insistia no isolamento vertical, através do qual seriam protegidas apenas as pessoas dos grupos de risco, sendo que o resto da população manteria suas atividades normais, acabou politizando o distanciamento social, com a população não sabendo a quem seguir. O resultado disso é que a adoção do isolamento social ficou muito aquém do necessário (que seria de cerca de 70%), o que explica a explosão da epidemia em muitas cidades do Brasil.
Em 1º de maio, no Brasil e em vários países, é comemorado o Dia Mundial do Trabalho ou do Trabalhador, como muitos preferem. A data foi escolhida num Congresso Socialista, em 20 de junho de 1889, realizado em Paris. Era uma homenagem aos mortos, em manifestações de trabalhadores, iniciadas em 1º de maio de 1886, nas ruas de Chicago, naquela época o principal centro industrial dos Estados Unidos. A pauta do movimento reivindicava a redução da jornada de trabalho – de 13 para 8 horas diárias -, de melhores condições de trabalho e melhores salários. Com a adesão de milhares de pessoas, as manifestações transformaram-se em greve geral que terminou no dia 4 de maio de 1886, com muitas pessoas mortas e centenas de pessoas, inclusive líderes, presas e, algumas delas, condenadas e executadas. Ironicamente, nos Estados Unidos o Dia do Trabalho é comemorado na primeira segunda feira do mês de setembro.
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No Brasil, o Dia do Trabalho ou do Trabalhador começou a ser celebrado em 1º de maio de 1925, por decreto de 1924 do então presidente Arthur Bernardes que, no artigo único, dizia “é considerado feriado nacional o dia 1 de maio, consagrado à confraternidade universal das classes operárias e à comemoração dos mártires do trabalho”. Nas décadas de 1930 e 1940, o presidente Getúlio Vargas “apropriou-se” da data, passando a utilizá-la para divulgar a criação de leis e benefícios trabalhistas, deixando de lado o caráter de protesto.
A ideia principal, então, da criação do dia 1º de maio era homenagear os trabalhadores que prestavam serviços para outras pessoas, empresas, etc., enfim, de pessoas empregadas. Hoje, a proposta é estender-se a homenagem a todos os trabalhadores o que, inclui, evidentemente, desde trabalhadores das tarefas mais simples a grandes empresários e executivos, donos de pequenas empresas e propriedades rurais, diretores e gerentes, etc., pessoas que não são empregadas ou, quando o são, exercem atividades de comando, sendo confundidas, muitas vezes, com os proprietários dos empreendimentos, mas que trabalham muito, possivelmente bem mais do que seus colaboradores.
Fala-se muito na valorização do capital humano. Com tecnologia e equipamentos iguais ou parecidos, o que vai fazer a diferença, efetivamente, são as pessoas. Começa na contratação. Muitos candidatos, com o currículo recheado de qualidades, treinamento em habilidades profissionais, no dia a dia, revelam uma pessoa de humor inconstante, nervos à flor da pele e ataques de fúria. São contratados pelo técnico e, em pouco tempo, demitidos pelo comportamento.
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Sem hipocrisia, é praticamente impossível separar o pessoal do profissional. Não dá para ter problemas sérios no trabalho e chegar em casa sorrindo, como se nada tivesse acontecido. De outra parte, não existe, no local de trabalho, um botão para acionar que nos faça esquecer de nossos problemas financeiros, de saúde, de relacionamento, entre tantos outros. Por isso, cada vez mais, empresas já oferecem a seus funcionários programas de educação financeira, através de palestras de conscientização, cursos e, em especial para aqueles funcionários atolados em dívidas, assessorias individualizadas, o que é recomendável estender também aos familiares. É uma prática que custa menos do que, simplesmente, demitir os que estão com problemas e contratar – e treinar – outros.
Da parte das empresas, em algumas ainda persistem práticas muito próximas ao chicote para comandar subordinados; em casos extremos, com a utilização de métodos análogos à escravidão. São proprietários, diretores, chefes ou gerentes que, através de atuações brutais e egocêntricas, passam dos limites, podando a capacidade criativa das pessoas e desperdiçando talentos. Outras vezes, de forma sutil, determinam missões impossíveis ou tarefas inexpressivas; desqualificam ou atacam a vida pessoal do colaborador; dificultam o acesso ao material de trabalho ou aos manuais de instruções; ignoram as atribuições previstas no contrato de trabalho; e por aí vai.
Como exemplo mais recente, na semana passada, em diversas cidades do Brasil, sob imposição de patrões, trabalhadoras e trabalhadores se postaram de joelhos nas ruas e avenidas, clamando pela reabertura das atividades comerciais, fechadas, temporariamente, por decisões de governadores e prefeitos, com o objetivo de evitar a contaminação em massa da população pelo coronavírus. Modernamente, podem configurar situações de assédio moral, passível de condenação pelo judiciário.
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O Dia do Trabalho ou do Trabalhador de 2020 em nada lembrou os feriados festivos dos anos anteriores. Grande parte dos trabalhadores está de quarentena em suas casas, sem saber se, quando isso terminar, ainda terá seu posto de trabalho. O presidente Bolsonaro, em manifestação no dia 1º de maio passado, talvez sem noção do que está acontecendo no Brasil e no mundo, disse que “gostaria que todos voltassem a trabalhar, mas eu não decido”, jogando a responsabilidade pela suspensão de atividades não essenciais no colo de governadores e prefeitos.
O fato é que o novo “normal”, independente da vontade do presidente, vai ser bem diferente do normal que conhecíamos até dois meses atrás. Tendências apontadas por uma pesquisa global incluem o uso permanente de máscaras no transporte público, mais investimentos em tecnologia, popularização do home office e ensino à distância. É um novo mundo que vai exigir mais flexibilidade e aprendizagem do trabalhador.
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