No dia 1º deste mês, o calendário de feriados nacionais previa o Dia do Trabalhador ou o Dia do Trabalho. Como já ocorreu no ano passado, em decorrência da pandemia do coronavírus, não foram promovidas as festas organizadas por centrais sindicais, empresas, órgãos públicos, veículos de comunicação e outras entidades. A data passou praticamente despercebida, lembrada apenas pelo feriado, mesmo que fosse num sábado.
A data foi escolhida num Congresso Socialista, em 20 de junho de 1889, realizado em Paris. Era uma homenagem aos mortos, em manifestações de trabalhadores, iniciadas em 1º de maio de 1886, nas ruas de Chicago, naquela época o principal centro industrial dos Estados Unidos. A pauta do movimento reivindicava a redução da jornada de trabalho – de 13 para 8 horas diárias -, de melhores condições de trabalho e melhores salários. Com a adesão de milhares de pessoas, as manifestações transformaram-se em greve geral que terminou no dia 4 de maio de 1886, com muitas pessoas mortas e centenas de pessoas, inclusive líderes, presas e, algumas delas, condenadas e executadas. Ironicamente, nos Estados Unidos o Dia do Trabalho é comemorado na primeira segunda feira do mês de setembro.
No Brasil, o Dia do Trabalhador começou a ser celebrado em 1º de maio de 1925 por decreto de 1924 do então presidente Arthur Bernardes que, no artigo único, dizia “é considerado feriado nacional o dia 1º de maio, consagrado à confraternidade universal das classes operárias e à comemoração dos mártires do trabalho”. Nas décadas de 1930 e 1940, o presidente Getúlio Vargas “apropriou-se” da data, passando a utilizá-la para divulgar a criação de leis e benefícios trabalhistas. O caráter de protesto da data foi deixado de lado, passando a assumir um viés comemorativo; daí, ser chamada de “Dia do Trabalho”.
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Neste ano, a precarização das condições de trabalho – redução da jornada e de salários, perda de direitos, etc – e o próprio desemprego deveriam ser motivos suficientes para protesto dos trabalhadores. Entretanto, em meio à pandemia, com várias recomendações e restrições impostas por governadores e prefeitos, a data especial acabou sendo usada por um grupo de pessoas que não se importam em não usar máscaras nem evitar aglomerações e fizeram manifestações, em muitas cidades do Brasil, a favor de um governo que, em grande parte, tem responsabilidade pelas dificuldades que os trabalhadores sofrem hoje.
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Independente dessas discrepâncias, a Amaro – empresa de marca de lifestyle brasileira, com sede em São Paulo – criou o Dia do Trabalho Invisível, já contando com a adesão de mais de 30 parceiras. A data – um dia depois do Dia Internacional do Trabalho -, foi escolhida para representar a segunda jornada de trabalho das mulheres, que começa quando termina o horário de suas atividades profissionais. Dar banho nos filhos, fazer comida para a família, ir ao supermercado, lavar roupas, levar o cachorro para passear, cuidar da casa, etc., são tarefas que ainda fazem parte da rotina das mulheres em grande parte dos lares brasileiros, mesmo quando compartilhados com companheiros. Por regras não escritas, essas tarefas recaem exclusivamente sobre as mulheres, impactando suas vidas em termos físicos, fisiológicos, emocionais e até profissionais.
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Além da sobrecarga dessas atribuições, dentre os muitos problemas provocados pela pandemia do coronavírus, disparou a violência doméstica. Números de pesquisas revelam que a taxa de rompimento entre casais tem crescido nos últimos meses que coincidem com o isolamento social aplicado em todo o Brasil. O mesmo fenômeno acontece em outros países, tendo sido observado, primeiramente, na China, considerada o epicentro inicial da pandemia do coronavírus, em que o número de pedidos de divórcio cresceu 60%.
Antes de chegar à formalização do divórcio ou até serem mortas, muitas mulheres relatam abusos e violências domésticas de companheiros, na quarentena. Uma paulistana de 34 anos queixou-se da simples falta de divisão de tarefas, mesmo estando o casal em casa. “O marido simplesmente não ajuda em casa e me trata como uma empregada. Lavo, passo, cozinho, cuido do filho, do cachorro. Quando reclamo, descontrolado, fica com raiva e me ameaça”, denuncia ela.
As ameaças e a manipulação psicológica que já eram comuns antes da pandemia – ofender a mulher e dizer que ninguém mais ficaria com ela, por exemplo – se intensificaram, durante o isolamento. A verdade é que algumas relações já estavam corrompidas e instáveis muito antes da pandemia.
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Num relacionamento, existem muitas questões que precisam ser definidas, como a manutenção de contas bancárias conjuntas ou individuais, a forma de educar os filhos, a distribuição de tarefas, etc. O fundamental é o diálogo, isto é, o casal estar disposto a sentar e conversar sobre tudo, inclusive as tarefas domésticas. Muitos homens, ficando mais tempo em casa, já assumiram algumas dessas tarefas. Outros, ainda se sentem diminuídos em suas qualificações profissionais ao ter que passar o aspirador de pó pela casa ou apartamento.
A editora de conteúdo da Amaro, Ana Fraia, diz que o trabalho invisível, sem o qual ninguém vive, assumido em grande parte pelas mulheres, é uma realidade difícil de mudar. Afinal, sempre foi assim, repassada por gerações. Mas, é possível fazer alguma coisa, começando por alguns pequenos passos:
1º – Conversar com quem mora junto, expondo suas dificuldades: por ser um trabalho “invisível”, muita gente não o vê nem enxerga o problema;
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2º – Combinar a implementação de uma planilha de divisão de tarefas, na qual todos tem suas obrigações e ninguém fica sobrecarregado;
3º – Cobrar que todos cumpram suas responsabilidades.
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