O primeiro ano de pandemia foi desafiador em todos os sentidos, mas na área do trabalho foi especialmente difícil. Uma das inovações causadas pelo distanciamento social foi o aumento das atividades remotas. Com demissões e alterações nas empresas de segmentos atingidos pela crise, muitos profissionais se viram de volta ao mercado à procura por vagas.
Segundo a psicóloga, especialista em Gestão Empresarial e proprietária da Capital Humano, Priscilla Teloeken, as mudanças afetam até quem atua com recursos humanos. “Estamos conduzindo os processos seletivos e as entrevistas através de ferramentas digitais. Temos intermediado contratações para home office, especialmente, de vagas na área da TI, como desenvolvedores de sistemas, e comercial”, conta.
Para Priscilla, o mercado já vinha exigindo mudanças e adequações rápidas. “As empresas e os profissionais que fizeram essa adaptação com mais agilidade conseguiram sair na frente e conquistar mais facilmente os ‘novos’ clientes.” No momento prevalece o sistema híbrido, no qual algumas empresas e funções estão mais online ou home office, e outras mais presenciais.
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“Muitos profissionais se adaptaram e preferem o sistema home office, mas outros ainda enfrentam dificuldades, seja pelo seu perfil ou pela falta de estrutura em casa. Os profissionais precisam entender quais são as suas necessidades e buscar a melhor adaptação através da sua própria organização e, se necessário, com o suporte da empresa”, explica a psicóloga clínica e organizacional Cibeli Sopelsa. Além disso, os trabalhadores podem solicitar ajuda da empresa para equipamentos mais adequados e pagamentos de contas de energia elétrica e telefone.
Mesmo após a retomada das atividades no pós-pandemia, a tendência para muitos segmentos é de que o home office veio para ficar e facilitar o cotidiano das empresas. “Antes da pandemia de Covid-19, existiam muitos receios em relação a essa modalidade de trabalho, mas eles acabaram sendo desmistificados. Ou seja, percebemos que é possível trabalhar de casa sem ter prejuízos no rendimento profissional”, comenta Cibeli. Um outro elemento que deve permanecer incorporado à rotina são as telerreuniões. Elas devem substituir de maneira satisfatória as viagens de trabalho, de forma a reduzir custos significativos.
Mudanças que vieram para ficar
O contato mais próximo com a tecnologia durante o home office não foi uma novidade para os profissionais de TI. Para o data management analyst da Corteva Agriscience em Santa Cruz do Sul, André Ricardo Raschen, o trabalho remoto iniciou-se em março do ano passado e ainda não houve retorno ao presencial.
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O primeiro desafio foi organizar a estrutura dentro de casa, como o espaço e a mesa de trabalho, já que para a parte de equipamentos houve suporte da empresa. Mais tarde, o complicado foi manter a disciplina de trabalho. “Frequentemente trabalho mais do que as oito horas diárias previstas, chegando a trabalhar 14 horas. A produtividade sempre manteve-se alta.”
O trabalho a distância funcionou tão bem que, mesmo após o retorno presencial, parte das atividades será feita em regime de home office. Em sua nova casa, André já planeja montar um escritório completo com os equipamentos. “Fui enquadrado como funcionário flexível, com dois dias presenciais e três em casa, e a empresa nos auxiliará com valor em dinheiro para montarmos uma estrutura”, explica.
A respeito do futuro, ele aponta que elementos do trabalho retomo serão incorporados à rotina. “Acredito que será uma tendência nas empresas. Sabemos da importância das trocas e das interações, mas o home office é uma tendência sim.”
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Os novos desafios da distância
O período de pandemia teve grande aumento na busca por atendimentos psicológicos, o que significou uma reinvenção para profissionais como o psicólogo clínico Miguel Angel Liello, de 73 anos. Natural da Argentina e morador de Santa Cruz do Sul há 22 anos, ele iniciou no home office em março de 2020 e ainda não retornou aos atendimentos presenciais.
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Desde então, ele presta atendimentos online via WhatsApp, Skype, Google Meet ou por telefone. No entanto, para Miguel, um dos contratempos foi o cansaço provocado pelo uso constante das telas. “Sentia muito nos meus olhos: ardência, cansaço. Muitas horas em frente ao notebook ou celular. Passei a usar óculos para ter mais precisão e clareza de tudo o que eu observava. Com o tempo, essas dificuldades foram diminuindo”, conta.
O cansaço não foi a única diferença comparado aos atendimentos presenciais, já que a relação com os pacientes também mudou. “Outra dificuldade foi estar com uma parte do corpo do meu paciente na tela, não com o corpo inteiro. No online, a gente fica restrito a observar os gestos e movimentos que o paciente realiza com metade do seu corpo, tórax, braços, cabeça, gestos, rubores, olhos marejados.” Observar as nuanças no tom de voz da pessoa também se tornou muito importante a distância.
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Para realizar os atendimentos de casa, o psicólogo transformou um quarto de visitas em consultório, trocando alguns móveis para criar um espaço mais adequado. “Eu não esperava me adaptar com tanta facilidade. Acredito que o trabalho em home office permanecerá e, mesmo que voltando para o consultório, nos abrirá espaço para outros trabalhos; por exemplo, para os pacientes que estão longe”, comenta. Hoje Miguel atende os pacientes de Santa Cruz do Sul e Porto Alegre, além de pessoas que estão em Portugal e na Alemanha. E mesmo após o retorno ao consultório, ele pretende continuar executando algumas tarefas de forma online.
Proteção reforçada
Um dos segmentos que experimentaram importantes e profundas transformações diante da pandemia foi o de serviços terceirizados. Nessa área, em que o contato com o público costuma ser mais direto, os profissionais precisaram ficar mais atentos às medidas de proteção no exercício de suas atividades.
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Quem testemunhou esse fenômeno foi o empresário Rossano Becker, da Santa Cruz Serviços. O novo jeito de trabalhar envolveu todos na empresa, que atua no ramo de locação de mão de obra, ou seja, terceirização de serviços como: limpeza, portaria, recepção, zeladoria, jardinagem e outros.
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Segundo Becker, que possui formação em Segurança do Trabalho e atua com a Santa Cruz Serviços desde 2005, pelas características do seu ramo, a preocupação com a saúde e bem-estar dos colaboradores é permanente. Para isso, orientações quanto ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) são constantes. Com a pandemia do novo coronavírus, esse aspecto recebeu uma atenção ainda maior.
“Adquirimos mais EPIs, justamente preocupados com o que estava acontecendo, ainda sem saber ao certo o que realmente era e o quanto tempo isso permaneceria no nosso meio. Fizemos um convênio com nosso fornecedor de uniformes e confeccionamos máscaras para serem distribuídas aos funcionários, o que se mantém até hoje”, conta. Da mesma forma, outros fornecedores se prontificaram a fornecer itens como luvas, óculos de proteção e toucas, destinados aos trabalhadores, ainda mais diante das demandas decorrentes da pandemia para serviços de porteiros, recepcionistas e higienizadores.
“Não vou dizer que foi fácil porque realmente não foi. Tudo era uma novidade no que estava acontecendo, e estávamos nos adaptando a cada dia. Protocolos foram criados, nos reunimos com cada funcionário, repassando orientações de cuidado e explicando, ou tentando explicar ou sanar alguma dúvida sobre os cuidados com a nossa rotina de trabalho para cada cliente”, salienta. Atualmente a empresa conta com mais de 80 funcionários efetivos no quadro. Para o futuro, Becker está otimista e espera que as contratações voltem a acontecer, possibilitando oportunidades para todos.
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