Eis que, após um longo período de jejum de passeios escolares, forçado pela pandemia, um piquenique foi programado pelas turmas das gurias mais novas lá de casa. O anúncio da atração foi acompanhado de grande expectativa entre a nossa caçula, Ágatha, e a irmã um ano mais velha, a Yasmin. E, desde então, ambas mergulharam em um rigoroso planejamento para a data. Havia muitos detalhes a serem definidos: o que levar para comer, que roupas vestir, como transportar com segurança uma série de apetrechos imprescindíveis – protetor solar, repelente contra mosquitos, chapéus, toalhas…
Curiosamente, entretanto, a caçula ficou mais entusiasmada com o trajeto até a área de camping onde ocorreria o piquenique do que, necessariamente, com o lugar em si. Também por conta da pandemia, há muito tempo que não andava de ônibus. Os ônibus, sabe-se, despertam certo fascínio sobre muitas pessoas, seja por serem grandões, seja pelo ronco de seus motores a diesel ou mesmo pela forma como permanecem tiritando quando ligados na lenta. Sem falar naquele gostoso suspiro que emitem quando estacionam, uma espécie de “tsssssss”.
Mas, pelo que pude constatar, Ágatha estava interessada mesmo era na balbúrdia que as crianças gostam de fazer nas excursões, a bordo de ônibus. E, no dia do piquenique, na última quinta-feira, tratou de posicionar-se nos primeiros lugares da fila de embarque, de olho em um dos assentos mais privilegiados – no fundão, e ao lado da janela. Logo a seguir, embarcou um garotinho que não se continha de tanta alegria.
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– Aguardei por esse dia minha vida toda – segredou aos adultos, enquanto avançava na fila.
Sobre o trajeto de ida, Ágatha não me contou muitos detalhes, mas creio que foi uma grande festa, que deve ter se estendido por longos dez minutos até a chegada no espaço do camping – situado a não muitos quilômetros da escola.
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Os leitores mais atentos já devem ter percebido, quando citei há pouco a data do piquenique, que foi justamente o dia do temporal que caiu sobre a região nesta semana. Conforme as gurias viriam a nos contar depois, estava tudo correndo bem quando, no começo da tarde, a ventania se abateu repentinamente sobre o camping, chacoalhando as árvores, provocando grandes redemoinhos de folhas, suspendendo nuvens de areia da cancha de vôlei.
As profes agiram rápido. Com agilidade e precisão, puseram-se a recolher crianças, mochilas e esteiras, e conduziram as turmas para um pavilhão do camping. Portas e janelas foram fechadas e reforçadas, e o lugar converteu-se em um verdadeiro bunker. Ao caos gerado pela tempestade, impuseram rigorosa organização.
Enquanto isso, os grupos de Whats da escola passaram a apitar de forma frenética, com mensagens de pais em busca de notícias das crianças. Cheguei a me equipar para um possível resgate – apanhei guarda-chuvas, calcei minhas botas de pescaria e preparei nossa minivan para a missão. Mas então chegaram do camping mensagens tranquilizadoras: estavam todos bem, prestes a embarcar de volta.
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Segundo as gurias, alguns coleguinhas ficaram assustados, mas ambas garantem que não se intimidaram ante a fúria da natureza. Para essas duas, tudo é festa.
– Um guri começou a gritar que iríamos todos morrer – relatou-nos Yasmin. – Não sei se estava assustado ou brincando… na dúvida, achei graça.
E Ágatha, toda gabolas, disse ter ficado aborrecida por ter sido obrigada a esperar, na segurança do pavilhão, o arrefecimento da tempestade.
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– Preferia ter ficado do lado de fora, curtindo aquele ventinho.
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Assim que a ventania deu ligeira trégua, começou a operação de embarque nos ônibus. Contudo, segundo Ágatha, a viagem de volta teve momentos de tensão – durante o trajeto, o vento voltou, acompanhado de muita chuva. Exagerada ou não, a caçula relatou que o veículo chegou a sacolejar enquanto avançava contra a tormenta. E que, pelo retrovisor, percebeu o semblante preocupado do motorista.
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– Estava com uma cara que dizia: “Vai dar ruim…”
Nisso, a traquinas e seus amiguinhos depararam-se com uma alavanca vermelha, em uma das janelas do ônibus. E teve início um acalorado debate: deveriam ou não puxar a alavanca?
– É que ao lado da alavanca havia um aviso: “puxe em caso de emergência”. – relatou-nos, depois. – E aquilo tudo parecia mesmo uma emergência…
Por sorte, um coleguinha mais instruído explicou que, se puxassem a alavanca, a janela cairia para fora do veículo, deixando entrar a chuva e o vento, piorando ainda mais as coisas. E decidiram desistir da alavanca. Sábia decisão.
No fim, retornaram em segurança à escola. E tudo acabou bem.
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