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Dia de finados: o que revelam os cemitérios de Santa Cruz do Sul

Repletos de religiosidade, simbologia, mistérios e crenças, os cemitérios são muito mais do que apenas o local de descanso final daqueles que já partiram. Nos dois principais de Santa Cruz do Sul, o Municipal e o São João Batista, estão sepultadas milhares de pessoas e, entre elas, algumas personalidades que fazem parte da história santa-cruzense, como o deputado Euclydes Kliemann e os ex-prefeitos Gaspar Bartholomay, Oscar Jost, Willy Carlos Fröhlich e Arno Frantz (falecido em 2019), entre outros.

Por falar em história, a morte é apenas um detalhe quando se circula nesses cemitérios, onde se encontram mausoléus, jazigos, lápides e estátuas construídas e esculpidas em diferentes estilos e materiais. Tratase de verdadeiras obras de arte, que proporcionam uma rica experiência artística e cultural a quem, além de visitar seus entes já falecidos, também consegue olhar atentamente ao redor.

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O Cemitério Municipal é o maior de Santa Cruz do Sul e se destaca em vários pontos. Além de sua vasta extensão, é onde estão sepultadas diversas personalidades santa-cruzenses, muitas delas em mausoléus e jazigos com riqueza de detalhes arquitetônicos | Foto: Alencar da Rosa

Municipal, o maior da cidade, surgiu em 1898

Há mais de 120 anos, em 1898, a então Vila de Santa Cruz crescia e, com isso, necessitava de um local para a construção de um novo cemitério. O intendente da época, Jorge Henrique Eichenberg, abriu as negociações para a aquisição de uma nova área, o que ocorreu no dia 26 de setembro daquele ano, quando uma fração das terras do casal Jorge e Luiza Zingler foi adquirida pelo poder público. A área possuía 45 braças de frente por 240 braças de fundos (cada braça equivale a 2,20 metros) e estava localizada nos altos de onde hoje é a Avenida Independência. Naquela época, era a estrada geral que levava às colônias de Rio Pardinho e de Sinimbu.

Com o passar dos anos, o local recebeu diversas melhorias, como o pórtico de acesso e também o muro frontal, que hoje ficam na subida da Independência, em frente à Igreja Ressurreição. Em 1990, observando a escassez de sepulturas, a administração procedeu com a construção de um novo espaço, que possibilitou novos sepultamen tos no sistema de gavetas. Palco de diversas obras de arte e local de descanso de inúmeras personalidades santa-cruzenses, o Cemitério Municipal é um patrimônio da comunidade e importante referência histórica. Ao centro, logo salta aos olhos o mausoléu da família Hennig, o maior do local e lugar de descanso de mais de 15 pessoas. Alvo de criminosos e vândalos, a construção hoje encontra-se em mau estado de conservação.

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Funcionário do local há mais de 20 anos, Lírio Diehl conhece como ninguém cada espaço do Cemitério Municipal. Ele conta que, com o passar do tempo e o avanço das gerações, os cemitérios foram perdendo a importância e também o cuidado. “Os antigos vão indo e os jovens não querem mais saber disso aqui. Quando comecei a trabalhar aqui, acho que dava umas 15 mil pessoas no Dia de Finados, não dava para andar aqui dentro. Hoje em dia, dá 6, 7 mil, e não muito mais do que isso”, relata. Neste ano, em função da pandemia, ele diz não saber o que esperar da data.

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Mausoléu da família Frantz, ao final da alameda principal, é a construção que mais chama a atenção no Cemitério São João Batista, implantado no começo da década de 1920 | Foto: Alencar da Rosa

A SIMPLICIDADE DO SÃO JOÃO BATISTA

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Em agosto de 1920, assim como ocorreu com a comunidade evangélica, a comunidade católica também recebeu do poder público municipal um pedaço de terra para a implantação de seu cemitério, o São João Batista. Naquela época, o terreno ficava fora dos limites da cidade, e foi adquirido do capitão Jorge Frantz, que hoje também dá nome à rua que passa em frente. Ao entrar no local, logo chama a atenção o mausoléu da família Frantz, situado ao final da alameda principal e única edificação presente desse tipo.

Quando comparado com o Cemitério Municipal, o São João Batista apresenta logo duas distinções claras: a primeira é o tamanho, consideravelmente menor, e a segunda diz respeito à simplicidade. São raras as sepulturas que possuem elementos mais elaborados, estátuas ou outras obras de arte, como as vistas no Municipal.

Além do mausoléu dos Frantz, destaca-se o jazigo da família Münch, com uma escultura de mármore em tamanho natural. Os demais túmulos em geral são bastante simples em sua composição. Ao fundo, também chama a atenção uma grande construção retangular, totalmente feita em pedra grês e que pode ser vista da Rua Marechal Deodoro. Trata-se de uma antiga caixa d’agua, construída em 1935.

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O homem que catalogou mais de cem cemitérios na região

Com 78 anos de vida, 54 de profissão e mais de 2 mil enterros realizados nas mais diversas localidades do Vale do Rio Pardo, o pastor Armindo Müller dedicou parte de sua trajetória a identificar e registrar todas as sepulturas dos cemitérios por onde passou. Em 2003, publicou sua pesquisa por meio do livro Cemitérios dos imigrantes no Vale do Rio Pardo, onde estão catalogadas, com nome e data, todas as lápides legíveis de mais de cem cemitérios, que vão desde Soledade até Venâncio Aires. Ele defende a manutenção das lápides como forma de preservar a história e a memória de quem já partiu. “O importante é a pedra, que não deixa de ser um monumento erigido em homenagem a quem está sepultado ali. O corpo desaparece; dos mais antigos já não resta mais nada”, afirma.

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Foto: Iuri Fardin

Com um trabalho único na região e, segundo ele, um dos poucos no Brasil, o pastor Armindo tornou-se referência para pessoas que buscam conhecer seus antepassados e a árvore genealógica da família. “Toda hora alguém me procura. Agora já passei adiante para outra pessoa fazer isso, já não tenho mais aquela energia.” Com vasto conhecimento, ele conta que os antigos construíam os cemitérios com as sepulturas orientadas para o leste. “Hoje, já está se perdendo isso, mas nos antigos você pode ver. Por que para o leste? Na crença, Cristo, quando voltar, voltará pelo leste, com o sol nascente do oriente. Essa era a ideia original”, revela.

Enquanto local do descanso final, ele define o cemitério como um lugar de equilíbrio. “Ele não distingue mais as pessoas, ele iguala. Lá está o pobre ao lado do rico, a morte iguala a todos”, finaliza.

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