Interesse, vontade e incentivo são as palavras que definem a decisão de se manter no campo, atuando com a produção rural, para o jovem Douglas Frantz, de 22 anos. Em 2016, ele concluiu os estudos na Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc), e em 2017 realizou o estágio para conseguir a certificação de técnico agrícola. Agora, ele apoia a irmã Lidiane Frantz, de 18 anos, que está no terceiro ano do ensino médio na mesma escola.
Em 1999, a Lei Estadual nº 11.361 instituiu o dia 15 de julho como o Dia Estadual da Juventude Rural. Lidiane e Douglas, moradores de Linha Andrade Neves, interior de Santa Cruz, são exemplos de uma juventude interessada em continuar atuando com a pecuária e a agricultura, utilizando os ensinamentos que já vêm passando de geração em geração nas famílias, e agregando a eles as novas tecnologias e os recursos atualmente disponíveis.
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Embora o ensino agrícola trabalhe bastante com a prática, Lidiane tem aulas remotas desde o início do ano letivo de 2020. Em casa, em uma “área experimental”, ela produz hortaliças. A jovem conta que, logo no início da pandemia, a residência dos seus pais não tinha internet. Para conseguir acompanhar as atividades escolares, foi preciso realizar uma mudança. “A gente não parou, e a escola conseguiu ir atrás. Teve vários alunos que tiveram interesse em estudar e foram atrás, que nem eu. No primeiro momento eu ia nos vizinhos, depois resolvemos instalar internet”, relata.
Lidiane diz que aprendeu várias técnicas diferentes, e que hoje parte dos alimentos consumidos pela família é ela quem produz. “Aprendemos a fazer biofertilizante, composto; a aplicar isso na nossa propriedade e observar o desenvolvimento das culturas”, enfatiza. “Antes da pandemia, na escola, havia uma feira pedagógica, e a gente podia produzir nessa área experimental e levar para comercializar na escola. Agora eu também estou produzindo esses alimentos, que estão sendo utilizados para o nosso consumo.”
Para Douglas, irmão da estudante, que a auxilia em algumas atividades, muitos jovens estão deixando o meio rural para procurar emprego na cidade. “Aqui na região, a maioria das pessoas que moram são mais velhas. Muitos jovens, na faixa de 25 anos, não se interessam, ou não têm incentivo ou não veem a agricultura como uma possível fonte de renda e de futuro, e acabam saindo”, salienta.
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A Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc) atua com a pedagógica da alternância, com turmas de ensino médio e técnico, e atende 115 estudantes de 11 municípios do Vale do Rio Pardo. “Os alunos alternam tempo e espaço com sua família e com a escola. A base pedagógica é a questão da agricultura familiar, com o princípio da agroecologia. Agora, com a pandemia, trabalhamos com aulas remotas e, nesse sentido, a presença da família é importantíssima”, observa a coordenadora pedagógica Cristina Vergutz.
Durante os três anos de formação, a Efasc trabalha com um projeto profissional do jovem. “Desde o primeiro ano, eles vão trilhando um caminho de conhecer, reconhecer, analisar e depois poder intervir nessa propriedade. Esse projeto é um potencializador para que eles permaneçam, se assim for o desejo deles, no lugar onde vivem.” Cristina salienta que a agricultura está modificada. “O interior está dialogando com a cidade. Essa interlocução, que talvez os pais deles não viveram, eles estão vivendo. Então, as ações na agricultura precisam estar dialogando, e é isso que o jovem quer.”
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Marieli Elena Muller, vice-tesoureira do Sindicato dos Trabalhadores Agricultores Familiares de Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol e Herveiras e coordenadora municipal e regional de jovens, menciona que o Dia Estadual da Juventude Rural é de grande reflexão, valorização e, principalmente, de luta.
“São jovens que estão no setor da pecuária e da agricultura e, assim, dão continuidade ao campo, ao movimento sindical e à própria cidade, pois quem ali mora precisa se alimentar, e os alimentos vêm do campo”, comenta. “A data é de grande simbologia, mas os jovens devem ser reconhecidos como protagonistas todos os dias do ano.”
Para ela, embora a cidade seja atrativa à primeira vista, o meio rural consegue oferecer mais segurança, saúde e liberdade. Porém, é um desafio manter o interesse, e é preciso que os pais escutem as ideias dos mais novos. “Sabemos da dificuldade do jovem de permanecer no campo devido à falta de valorização e de políticas públicas”, frisa Marieli. “Ele hoje quer estar atualizado, quer ter internet. Essa ferramenta é muito importante para segurarmos o jovem no campo, mas isso inclui também escolas no campo, apoio à diversificação, espaços de lazer e políticas voltadas a esse setor.”
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Para permanecer em suas localidades, a juventude busca reconhecimento e precisa de inserção de sinal de internet, escolas que incentivem a sucessão rural, e também necessita de espaços de lazer. “Os jovens buscam apoio na diversificação da propriedade, boas estradas, luz, políticas voltadas à compra de terras e habitação. Também esperam ter onde vender seus produtos e que a venda da produção seja bem remuneradora, pois a questão financeira é um grande gargalo para a continuidade deles no meio rural”, conclui Marieli.
Às 19 horas desta quinta-feira, 15, representações do Rio Grande do Sul participam de uma live para falar sobre o mês dedicado aos debates acerca da participação da juventude no campo. O evento virtual é promovido pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) e será transmitido pela página do Facebook da entidade.
A coordenadora de jovens da regional do Vale do Rio Pardo e Baixo Jacuí, Marieli Muller, participa da live, juntamente com a coordenadora estadual de jovens da Fetag-RS, Jaciara Muller; o coordenador de jovens da regional de Santa Rosa, Joni Knapp; e a coordenadora de jovens da regional da Serra, Mariana Caroline Marcon. Além disso, a atividade vai contar com o show A Magia da Juventude, com o mágico Eric Chartiot.
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