O que era brincadeira virou música. Canções que viraram um disco entre amigos. Vieram os milhões de álbuns vendidos – foram 3,5 milhões em 2002, número chamativo quando se lembra que, na época, o download ilegal e a venda de CDs piratas abocanham a indústria fonográfica. Mas o álbum, mesmo, não virou show. O filho mais velho de Marisa Monte, na época, tinha um mês de vida Arnaldo Antunes tinha dez anos de carreira solo depois dos Titãs e, firme, colocou discos elogiados em sequência: Saiba (2004), Qualquer (2006), Iê Iê Iê (2009) e por aí vai. Carlinhos Brown tinha seu trabalho social no Candeal, em Salvador, premiado pela Unesco e lançava, no ano seguinte, Carlito Marrón, álbum que chegou primeiro à Espanha e consolidou o músico em território europeu.
Tudo isso aconteceu. A turnê não veio. Nas entrevistas posteriores àquele 2002 e 2003 (quando foram indicados em cinco categorias do Grammy Latino e levaram o prêmio de gravação do ano por Já Sei Namorar), provavelmente, Marisa, Carlinhos e Arnaldo ouviram a mesma pergunta: “E os Tribalistas?”. Voltaram, de surpresa, no ano passado, com um segundo disco (também chamado Tribalistas, como o antecessor), mas, na ocasião, nada de shows.
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Chegou o momento do projeto iniciado como brincadeira ganhar os palcos. Com pompa e tamanho de turnê de banda gringa por aqui, em estádios e arenas por nove capitais do País. A estreia será em Salvador, na Arena Fonte Nova, neste sábado, 28. Em São Paulo, o show será no Allianz Parque, com capacidade para 45 mil pessoas, em 18 de agosto. A turnê ainda inclui apresentações no Rio de Janeiro (3 e 4 de agosto, Marina da Glória), Recife (10 de agosto, Centro de Convenções), Fortaleza (11 de agosto, Centro de Formação Olímpica), Porto Alegre (24 de agosto, Arena Beira Rio), Curitiba (25 de agosto, Pedreira Paulo Leminski), Brasília (1 de setembro, Arena Mané Garrincha) e Belo Horizonte (7 de setembro, Esplanada do Mineirão).
O que mudou, portanto, ao longo desses 16 anos desde a estreia, para que os Tribalistas ganhem corpo e o palco? À reportagem, Arnaldo Antunes explica que “a sementinha do desejo (de turnê com os três) sempre existiu”. Carlinhos emenda: “E essa sementinha virou uma árvore enorme!”. “Artisticamente, isso existiu”, concorda Marisa, antes de lembrar o nascimento do filho, pouco antes do primeiro álbum deles. “E somos três pessoas diferentes, com suas próprias dinâmicas de vida. Às vezes, as circunstâncias vão além do desejo”, ela conclui.
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Para Fabiana Batistela, diretora da SIM São Paulo, a Semana Internacional de Música, o fim do comando das gravadoras sobre os artistas foi o primeiro passo dessa mudança. O que mudou, nesse tempo, é que os artistas passaram a ter mais controle sobre suas carreiras. Tudo passa pela gestão de carreira criada por eles e suas equipes”, ela diz.
“Nunca se produziu tanta cultura na história”, diz Alexandre Matias, do site Trabalho Sujo e curador musical do Centro Cultural São Paulo e do teatro Centro da Terra. “Temos nichos e, entenda, nicho não é quantitativo, estamos falando de um gosto específico que pode ter dezenas de milhares de fãs. A questão é a quantidade de oferta de artistas e como isso está afetando os grandes da indústria.”
Para Marcus Preto, jornalista e produtor musical que trabalhou com discos e shows de Gal Costa (inclusive no projeto de apresentações da cantora ao lado de Nando Reis e Gilberto Gil chamado Trinca de Ases), entre outros, lembra que a união de forças de artistas “é um formato antigo, já bem comum nos anos 1970”. Ele cita uniões de Caetano Veloso e Chico Buarque, Caetano e Maria Bethânia, Chico e Bethânia, Ângela Maria & Cauby Peixoto e os Doces Bárbaros (formado por Gil, Caetano, Gal e Bethânia). “E só estou falando dos encontros que viraram LPs antológicos”, diz. “Hoje, para muito além de ‘unir forças para vender ingressos’, o que eu vejo nessas junções é um desejo de chamar a atenção do público para a música. O público de música está disperso”, avalia ele.
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O show
Uma semana antes de estrear em Salvador, os Tribalistas se apresentaram em um formato pocket show no Fantástico, programa dominical da Globo. Ao fim de Aliança, faixa do segundo disco dos Tribalistas e o hit do álbum, o trio e o público presente ali cantaram os últimos versos a capela. “O que é lindo para a gente é que essa é a primeira vez que ouvimos o público cantando essa música”, diz Marisa.
E esse deve ser o sentimento dessa primeira turnê dos Tribalistas. De primeiros encontros do público com as músicas dos dois álbuns. O trio, no palco, estará acompanhado por Dadi Carvalho (baixo, guitarra e teclados), Pedro Baby (violão e guitarra), Pretinho da Serrinha (cavaquinho) e Marcelo Costa (bateria). A preparação começou no início do ano e os ensaios mais intensos, todos os dias da semana, tiveram início um mês e meio atrás. “Vivemos em uma comunhão musical entre nós”, diz Marisa, “e agora vamos viver isso com o público.”
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