A missa de despedida do bispo emérito de Santa Cruz do Sul, Dom Sinésio Bohn, foi marcada pela comoção nessa sexta-feira, 10. A celebração, realizada na Catedral São João Batista, teve a presença de autoridades, de líderes religiosos de diversas partes do Estado e também dos fiéis e foi conduzida pelo bispo Dom Aloísio Dilli. Ao término, houve a encomendação do corpo junto aos familiares e o sepultamento nas dependências da Catedral, em um espaço próprio para esse fim.
A celebração teve momentos de grande emoção, sobretudo quando a trajetória de Dom Sinésio foi relembrada. Ele era tido pelos colegas e pela comunidade como um sacerdote de perfil generoso, aconselhador e agregador, que promovia a união e o diálogo entre as pessoas e as diferentes crenças. Ele também prestou relevantes serviços às causas sociais e filantrópicas, e foi uma voz forte na defesa da população em situação de vulnerabilidade social na região.
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Durante seu discurso, Dom Aloísio destacou a atuação de dom Sinésio, agradeceu a presença de todos e também as mensagens recebidas. Exaltou ainda a importância da solidariedade e da fé em momentos de dor e consternação como esse. Estiveram presentes ainda o arcebispo de Santa Maria, dom Leomar Brustolin; o bispo de Caxias do Sul, dom José Gislon; o bispo emérito de Santo Ângelo, dom Clemente Weber; o bispo emérito de Novo Hamburgo, dom Zeno Hastenteufel; o bispo de Novo Hamburgo, dom João Francisco Salm; o bispo emérito de Bagé, dom Gílio Felício; o bispo de Cachoeira do Sul, dom Edson Batista; e o bispo emérito de Montenegro, dom Paulo de Conto. “A Diocese de Santa Cruz está de luto, pois se despede hoje da vida terrena aquele que por tantas vezes, aqui nesta Catedral, exerceu o seu ministério”, disse dom Aloísio. “Hoje, com muita gratidão, nós o entregamos nas mãos misericordiosas de Deus.” A fala do bispo durou cerca de dez minutos. Foi convidado a falar também o pastor Décio Weber, da Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Ele manifestou suas condolências e destacou o lema episcopal de dom Sinésio, “Para que todos sejam um”, afirmando que o religioso sempre promoveu o diálogo e o ecumenismo.
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Ao final da missa, os familiares e os líderes religiosos foram convidados para a encomendação do corpo. O momento foi novamente de grande emoção e demonstrações de fé por meio de cânticos e orações. O caixão foi então fechado e conduzido até um espaço criado no interior da Catedral para o sepultamento dos bispos. Além de dom Sinésio, está sepultado no local dom Alberto Frederico Etges, primeiro bispo da Diocese de Santa Cruz do Sul.
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Exemplo de luta pela união entre as diferentes religiões
Dom Sinésio Bohn teve a vida e trajetória marcadas pelo ecumenismo. O bispo ficou conhecido como alguém que lutava pela união entre cristãos, igrejas e templos.
Lideranças religiosas de Santa Cruz do Sul se referem a dom Sinésio como figura importante para a integração entre os diferentes segmentos. O ecumenismo era promovido por ele através de cultos e reuniões, mas sobretudo por meio da solidariedade dispensada a qualquer tipo de pessoa. Também foi um forte incentivador de um fórum de padres e pastores, criado nos anos 1980, para promover a unidade em Santa Cruz do Sul e região.
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O pastor Edemar Drews Fuhrmann, da Igreja Evangélica Luterana do Brasil em Santa Cruz, lembra com muito carinho de quando chegou ao município, há cerca de 22 anos, quando se tornou secretário do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic). Dom Sinésio foi um dos líderes religiosos que mais fomentaram a criação desse fórum, chamando à participação mais denominações religiosas que ainda não faziam parte. “Eu havia chegado recentemente à cidade e era bastante novo, até mesmo no trabalho da Igreja, e vi ali um senhor já de idade e pensei que seria do tipo que não ia querer se misturar. Para minha surpresa, era exatamente o contrário, pois ele quem levava os outros e fomentava o ecumenismo”, detalha.
Pastor Edemar compartilha a lembrança de um presente que recebeu nesta mesma época de dom Sinésio. Tratava-se de um livreto sobre ecumenismo que ele já havia recebido de alguém muito querido. “Achei aquilo um gesto de carinho para com um novato e inexperiente. De uma grandeza enorme. Um coração tão generoso que distribuía as coisas que recebia.”
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O comprometimento religioso de Sinésio ultrapassava as paredes da Igreja Católica. Para ele, o importante era que o amor e a palavra de Jesus Cristo fossem difundidos. A prova é a amizade que construiu com o pastor Neemias da Silva, hoje aposentado após mais de 38 anos à frente da Assembleia de Deus em Santa Cruz do Sul. Em suas lembranças, Neemias falou sobre um momento em que o bispo defendeu a permanência do programa radiofônico “A Voz da Assembleia de Deus” na grade de uma emissora de rádio que pertencia à Mitra Diocesana e passava por um processo de transição. “Ele dizia: vocês pregam a verdadeira palavra de Deus”, lembra Neemias.
Segundo ele, a comunidade católica e santa-cruzense perde um dos seus maiores líderes cristãos. “Conselheiro, conciliador, amigo de todos. Conversávamos muitas vezes sobre o trabalho social nas reuniões municipais de lideranças. Eu poderia contar e falar muito sobre esse homem de fé e amor. Nossos sentimentos de pesar aos familiares, amigos e a toda a comunidade”, disse.
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O gerente-executivo do Centro Social Gideões, pastor Neemias da Silva Júnior, disse que Santa Cruz perde uma importante referência humana, social e cristã. “Dom Sinésio sempre teve o coração voltado para o próximo, para as causas sociais e humanitárias. Quando o Centro Social iniciou seus trabalhos em Santa Cruz, à época vinculado à Assembleia de Deus, foi receptivo e acolhedor ao nosso trabalho, entendendo como mais uma força somada na luta em favor dos menos favorecidos.”
Era uma pessoa que não via cor nem credo”
O pastor emérito da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) Valdir Nilo Trebien teve um relacionamento de amizade e parceria com dom Sinésio. Disse que no início dos anos 2000, quando era pastor sinodal, já ocorria há cerca de 30 anos um encontro anual de padres e pastores em Santa Cruz, com a participação ativa do bispo. Sinésio inclusive incentivava a participação de paróquias e sacerdotes. “Esses encontros foram muito frutíferos em termos de aprofundamento de temas, principalmente de temas em comum.”
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Conforme o pastor Valdir, um dos momentos mais importantes numa congregação, independentemente do segmento, é a celebração da Santa Ceia. Segundo ele, em diversas ocasiões, conduziram o rito juntos. “Era uma coisa que nem se imaginava acontecer. Mas aconteceu. E hoje parece que algumas comunidades têm dificuldade de novo, pois não está mais acontecendo”, comenta. “Nós, pastores e padres, fazíamos a comunhão numa igreja ou na outra e, naquela época, dom Sinésio partilhava desse parecer”, conta. Por fim, o pastor cita ainda um presente que recebeu de Sinésio, o qual guarda com muito carinho até hoje. “Ele me deu um cartãozinho de Feliz Páscoa que ganhou do Papa, todo escrito em latim. É uma lembrança muito especial.”
Para o babalorixá Pai Antônio de Ogum, do Templo de Umbanda Pai Ogum Beira Mar e Mãe Oxum, o bispo falecido nessa quinta-feira era “um grande ícone de Santa Cruz do Sul”. Conforme o religioso, Sinésio era comunicativo, conselheiro e bondoso. “Era uma pessoa do bem que não via cor nem credo. Uma pessoa que vivia para o bem da comunidade”, ressaltou.
Pai Antônio recordou um momento marcante na história de Santa Cruz, ocorrido em 2003. Um culto ecumênico foi realizado na Catedral São João Batista, onde se reuniram pessoas de várias ordens religiosas para homenagear os 25 anos de sacerdócio do primeiro bispo negro do Rio Grande do Sul, dom Gílio Felício. Estavam presentes católicos, umbandistas, evangélicos e islâmicos, entre outros. “Dom Sinésio estava presente conosco naquele culto. Ele abriu as portas da Catedral e rezamos todos em prol da cidade e pela paz mundial. Foi um momento lindo e inesquecível.”
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