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Desfile da Dolce & Gabbana na Itália trouxe mix de referências e culturas

O que a Sicília, berço da cultura mediterrânea, território disputado por conquistadores romanos, mouros, normandos e espanhóis ao longo de séculos, ponto de encontro de burgueses e aristocratas durante a belle époque e reduto da máfia italiana até pouco tempo atrás, tem a ver com alta moda? Para o siciliano Domenico Dolce e seu parceiro milanês Stefano Gabbana, absolutamente tudo. Na última semana, eles deslocaram jornalistas e clientes do eixo da haute couture até Palermo, capital da Região Siciliana, para promover quatro dias de eventos em torno de suas coleções de Alta Artigianalitá.

O lugar, totalmente fora do mapa da moda europeia, porém riquíssimo em referências históricas, arquitetônicas e clericais, pareceu inusitado e perfeito o bastante para sediar os desfiles da marca, que trouxeram 126 looks femininos e 98 masculinos, em um vai e vem de modelos jovens e atraentes exibindo algumas das peças mais luxuosas (e caras) do planeta. Sem contar que é a cidade natal de Dolce. “Em Palermo, estão minhas memórias de infância, minha escola, meu pai, minha mãe. Palermo é tudo para mim”, disse o estilista.

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A festa começou na quinta-feira, 6, com uma apresentação de joias no Palazzo Gangi Valguarnera, um marco do barroco italiano, que serviu de locação para as filmagens de O Leopardo, de Luchino Visconti, em 1963, com Claudia Cardinale e Alain Delon. Brincos chandelier mimetizavam os lustres locais, enquanto relógios incrustados de diamantes e joias com a figura dos querubins reluziam nas pequenas vitrines, montadas em uma das salas do palácio.

Para a apresentação da moda feminina, a passarela foi armada entre as dezenas de estátuas de mármore da Piazza Pretoria. Cerca de 430 convidados, vindos da Rússia, China, México, Brasil e países da Europa e do Oriente Médio, acomodaram-se ao redor da fonte central, que data do século 16, enquanto os moradores e turistas disputavam as ruas de acesso e as sacadas dos edifícios que circundavam o evento. Badaladas dos sinos da igreja anunciaram o início do show antes que surgisse na passarela um longo rodado de seda pintado à mão, com motivos justamente do filme O Leopardo, ao som da ópera Cavalleria Rusticana. Então, vieram mais e mais surpresas.

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Nesta temporada, os designers estão focados na singeleza do ponto cruz, que ganhou versões sofisticadíssimas em vestidos longos e sinuosos. Também investiram no bordado de linha e de coral típico das comunas locais e em novas técnicas com ráfia e até celofane. O trabalho artesanal impecável levou semanas de produção, envolveu dezenas de bordadeiras e costureiros e hoje está nas peças mais valiosas da coleção, com preços de até seis dígitos.

A dualidade entre o fatal e o banal também ganhou representações interessantes. O look vermelho e preto que lembrava as dançarinas de can-can, por exemplo, se contrapunha com o descompromisso de peças esportivas, como a jaqueta e a camiseta de time de futebol. Vestidos de renda preta típicos das mammas italianas – e marca registrada da Dolce & Gabbana – também ganharam novas versões, enquanto a alfaiataria surgiu em alguns poucos e bons looks. Apesar de todo o requinte e da suntuosidade geral, as peças em estampas claras e brocados delicadíssimos deram leveza e atualidade à coleção, em tons esmaecidos de amarelo e rosa, em seda pura. “Aqui existe uma roupa para cada tipo de mulher. Eles são tão ecléticos que conseguem agradar a todos os estilos”, observou Barbara Migliori, diretora de moda da Vogue Brasil, que acompanhou de perto as apresentações.

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No sábado, 8, o desfile masculino trouxe a coleção de Alta Sartoria, com uma composição de looks ultrassofisticados baseada no dourado. Como o ponto de partida para os estilistas foi a catedral de Monreale, do século 12, revestida por mosaicos que consumiram duas toneladas de ouro, reinaram na coleção os brocados com fios metalizados reluzentes. Camisas e t-shirts foram estampadas ou bordadas com as formas geométricas dos mosaicos magníficos dos pisos e vitrais das antigas igrejas locais. Tudo feito sob medida. Os legados francês, espanhol e árabe, povos que habitaram a ilha em diferentes épocas, formaram um harmônico mix cultural. “Esse foi o nosso tributo a Sicília. Buscamos resgatar a história de Palermo com todas as suas contradições. Com as belas casas que os proprietários abriram para nós e também com uma ode às praças e mercados, que são parte essencial da nossa sociedade”, disse Stefano Gabbana.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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