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Ideias e bate-papo

Desejos não são direitos

A frase acima, repetida à exaustão em vídeos e palestras ministradas pelo filósofo Mario Sérgio Cortella, resume um comportamento onipresente. Na sala de aula, em família, na fila do supermercado e até no trânsito. Em todos os lugares, a cultura do egoísmo se consolidou quase que paralelamente à velocidade do desenvolvimento tecnológico que oferece inúmeras comodidades. Mas ao mesmo tempo reduz o contato interpessoal.
 
Já escrevi várias vezes que considero injusto comparar determinados comportamentos “do meu tempo” com a postura dos dias atuais. Alguns princípios, no entanto, são imutáveis porque independem de modismos. O respeito à hierarquia e às normas de convivência e a capacidade de adaptação ao ambiente coletivo compõem o ideário básico do compartilhamento social.
 
O ponto de vista do nosso semelhante parece, sempre, menos relevante que a nossa opinião. A coexistência, porém, impõe a necessidade de ceder, ouvir e dar lugar ao diálogo onde impera a liberdade de manifestação. Talvez o exemplo mais latente destes “novos tempos” seja a sala de aula.
 
Professores gastam, talvez, 80% do tempo cobrando posturas de seus alunos do tipo parar de conversar, desligar o celular, fazer as tarefas e cumprir o que foi combinado. O período exíguo utilizado para ministrar conteúdos culturais é uma distorção inadmissível. Incutir os preceitos básicos de respeito e educação é uma atribuição que compete aos pais, em casa, no dia a dia.
 
O desenvolvimento de uma geração de pequenos tiranos constrange aqueles que defendem a participação dos pais e responsáveis na formação de futuros cidadãos. Além de nossos herdeiros, eles serão responsáveis pelos destinos da nossa cidade, do estado e do país ali adiante.
 
Choca a omissão e revolta a desconsideração inexplicável de quem assumiu a responsabilidade de colocar filhos no mundo sem a necessária contrapartida do ônus da educação. Trata-se de uma atitude covarde, irresponsável e que não condiz com a importância da maternidade/paternidade.
 
É mais fácil permitir comportamentos deploráveis ao invés de advertir e proibir como forma de castigo. Durante anos, abafei o choro com travesseiros depois de discussões ríspidas com meus filhos, hoje adultos jovens. Conto a eles inúmeros episódios que resultaram em explosões que pareciam irreconciliáveis, mas depois tudo se ajeitava.
 
Hoje constato que aqueles momentos de profunda tensão são revestidos de grande valor. Meus filhos não são pessoas perfeitas, mas têm consciência do que é preciso para manter uma convivência social minimamente civilizada. Não é inadmissível confundir desejos com direitos.  

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